sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

dos dias bons

Está frio. Mais do que nos últimos dias. E Sol. Daqueles dias em que apetece passear na praia.

Lembra-me as passagens de ano, quando os anos de vida ainda começavam com o número um.
Eram dias de enorme azáfama, os que antecediam a grande partida. Era preciso decidir onde ficar, como ir, o que levar. A inexperiência e a emoção das escolhas tornavam a ida ao supermercado uma visita de grupo: Qual a diferença entre o fiambre da pá e o da perna? Sei lá, leva o mais barato!

Íamos felizes. Os rapazes preocupavam-se com as bebidas. As raparigas com a comida. E no final o balanço era sempre proporcional: mais rapazes e mais bebidas, menos raparigas e menos comida!

O destino era sempre para Sul. Alentejo ou Algarve, aí íamos nós para 3 ou 4 dias desejados e ansiados como só eles. Eram dias de diversão pura, de partilha segura, de galhofa, de liberdade, mas também de alguns amuos numa fase em que todos temos mais razão que os outros.

Eram dias bons.

Juntos casámos, descasámos, tivemos filhos, fizemos festas e fomos a funerais, enfrentámos doenças e acidentes, virámos o século. Não necessariamente por esta ordem.

Amanhã, dia de trocar o calendário, estaremos juntos novamente. Não rumámos a Sul e ficaremos por perto. Não teremos o prazer da viagem, nem as horas que se tornavam dias de conversa. Mas estaremos juntos.

E temos reforços. Reforços adquiridos ao longo destes quase 20 anos de viagem. Reforços que refrescaram as conversas e trouxeram novo brilho e cor. E de tal maneira se enquadraram que já ninguém se lembra muito bem de quando não estavam.

E também temos regressos. De quem esteve demasiado tempo ausente, mas que voltou como se nunca tivesse partido.

Amanhã, quando o relógio bater doze vezes, saberemos pouco do que vem por aí. Teremos menos tempo para fazer escolhas e menos margem para errar. Mas teremos seguramente mais confiança  na escolha entre o fimbre da perna ou da pá e a certeza de que aqueles que ali estão serão nossos para sempre.

Amanhã será um bom dia.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

(des)ilusões de inverno

Lembro-me bem daquele dia. Era um Sábado de manhã de Inverno. Tinha 6 anos. Os meus Pais inscreveram-me na catequese - talvez mais por tradição do que outra coisa qualquer - e eu lá ia religiosamente aprender (quem sabe?) a ser uma pessoa melhor.
O que tenho são flashes desse dia. Não me lembro do nome do catequista. Não me lembro da cara. E nem me lembro do contexto da conversa.  Mas lembro-me da frase como se ma estivessem a dizer agora ao ouvido:"o Pai Natal não existe, são os vossos Pais que compram as prendas."

Assim.
A seco.
A despropósito.
Sem que alguém lhe tivesse encomendado o sermão.

E eu, que acreditava no Pai Natal como quem tem a certeza de existir, fiquei com o mundo virado ao contrário. Todas as fantasias, todas as recordações, todos os momentos de ansiedade e nervosismo dos dias de Natal cairam por terra.

Tenho depois na minha memória o momento em que cheguei a casa e disse ao meu Pai o que acabara de descobrir. Lembro-me da minha tristeza, da minha decepção.

Descobrir que o Pai Natal não existe foi a grande primeira desilusão da minha vida. E o início da forma como eu passaria a encarar todas as desilusões que se seguiram. Não fiquei zangada por me terem mentido. Fiquei extremamente zangada por me terem contado a verdade, que eu preferia não saber. E extremamente triste por a verdade não ser a que eu gostaria.

Fiz com a minha filha o que costmamos fazer com os filhos. Projectamos neles o que fomos, o que somos ou que gostaríamos de ter sido. Tentei (re)criar a magia do Pai Natal, mas na verdade nunca foi coisa por que ela se deslumbrasse muito.

Este fim de semana, tivemos uma conversa sobre o Pai Natal. Ela estava desconfiada e eu perguntei-lhe tu achas que existe? E ela encolheu os ombros como quem não sabia e ficou a olhar para mim com uma cara que dizia por todos os lados não sei, mas tu vais-me dizer, e vais-me dizer a verdade e eu vou acreditar no que me disseres.

E eu disse a verdade. Nos milésimos de segundo que tive para decidir, soube que ela não ficaria traumatizada para sempre com a inexistência do Pai Natal (como eu!), mas que o facto de eu lhe mentir podia, isso sim, vir a ser um problema. E ela, tudo bem!

Agora para ela, o herói é o Pai. Por uma qualquer analogia, na cabeça dela é o Pai quem vai comprar os brinquedos e trata de tudo. A carta escreveu-se na mesma e foi dirigida ao Pai. E eu, tudo bem!

Daqui a umas semanas vamos à neve. Felizmente ela já sabe que a neve é dura e fria, como as pedras do congelador. Ou corríamos o risco de ter uma desilusão. Como eu, que pensava que a neve era macia e fofa e tive a segunda grande desilusão da minha vida!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

cenas

São cada vez mais as pessoas que se aventuram a fazer aquilo que eu denomino por "cenas".

"Cenas" são ideias e vontades que ganham forma: gente que faz colares, brincos e pulseiras, gente que pinta peças de madeira, gente que faz bolos que parecem obras de arte, gente que (re)aproveita objectos que não tinham graça e os transforma em coisas realmente interessantes e artísticas, gente que desenha, gente que escreve, gente que inventa e se reinventa com o objectivo de ter (mais) uma fonte de rendimento ou apenas pelo prazer de criar algo novo.

E neste universo de "cenas", a internet é o maior aliado, porque rapidamente se divulga o projecto e se chega a milhares de pessoas.

Algumas pessoas vivem dessas "cenas", mas desconfio que não seja a maioria. De uma forma ou de outra, eu admiro estas pessoas. Que têm um sonho e vão à luta.

Um dia ganho coragem e vou à luta pela minha "cena".
Um dia, que pode não estar tão longe como isso.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

e era assim

eu: Knoc...Knoc...

ele: entre!

eu: boa tarde. vim só dizer-lhe que amanhã já não venho.

ele: é natural, amanhã é Sábado!

eu: não, não está a perceber. não venho amanhã e não venho depois de amanhã e nem no dia seguinte. aliás, não venho nunca mais. adeus!

ele: ???????????

E lá ia eu, para não mais voltar.

Ia encher de letras as páginas em branco que esperam por mim há que tempos.
Ia fazer cursos de escrita para as palavras todas juntas ficarem bonitas.

Ia fazer exercício todos os dias.

Ia aprender todas aquelas técnicas modernas de pinturas e trabalhos manuais, como Découpage e outras com nomes estrangeiros, para aplicar naqueles objectos inúteis que oferecemos às amigas cheias de orgulho, e que elas guardam nos armários porque não servem para nada.

Ia buscar a minha filha mais cedo todos os dias para brincarmos sem pressas no final da tarde.

Ia desfrutar dos serões com o meu marido sem o sono e o cansaço que nos obrigam a adiar até as conversas.

Ia dedicar algum do meu tempo a ajudar quem precisa.

Ia ler os montes de livros que queria ler.

Ia fazer massagens e tratamentos de beleza para ficar linda e maravilhosa e enganar o tempo que me diz que daí a pouco são 40.

Ia ao cinema.

eu: knoc...knoc...

ele: entre!

eu: boa tarde! vim só... pedir-lhe a sua assinatura neste documento.

ele: ok..........

eu: obrigada. bom fim de semana.

ele: é verdade, 2ª feira temos que tratar daquele assunto pendente. falamos logo às 9 horas.

eu: ok....

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

o carrossel

Há acontecimentos que se interligam, num carrossel de movimentos que parecem dançar à luz das velas. Suaves, tão suaves que passam quase despercebidos.

Uma conversa, seguida de uma frase que se encaixa na perfeição. Uma música, que por unanimidade não se gosta. Que surge assim, num momento comum, em separação física mas em sintonia de emoções.

São assim as energias. Aquelas que nos movem em direcções certas sem que percebamos porquê. Às vezes nem depois de lá chegarmos.  Que nos juntam a pessoas sem razão aparente. A esta pessoa, não àquela.

Há pessoas assim. Que chegam passados 20 anos como se tivessem ido só ali. Que não nos cobram. Não nos julgam. Não nos mentem. Não nos querem seduzir. Estão apenas. São apenas. Genuínas. Verdadeiras. Disponíveis.

E nova coincidência. Conversa adiada há anos com uma pessoa de todos os dias. Sobre uma outra de quem se gosta mas com quem se cruza de quando em vez. Dessa conversa, aquela que estava adiada, surge a notícia de um momento infeliz, que ainda há pouco, há poucochinho se passou. Como a dizer que não podemos estar demasiado tempo sem falar com quem gostamos.

Adiamos. O nosso nome do meio é adiar. Adiar telefonemas. Lembramo-nos, mas dizemos sempre :"mais logo". E esse logo nunca chega. Adiamos os encontros porque temos sempre algo tão inadiável para fazer como as coisas que fazemos todos os dias. Adiamos decisões, como se os problemas se resolvessem sozinhos.

E, de vez em quando, lá vem o carrossel de acontecimentos que nos diz que estamos ligados.
Que estaremos sempre.
Lá vem o carrossel de coincidências que nos põe a pensar que não podemos passar a vida inteira a adiar.

Porque um dia, já não teremos mais tempo.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

educar às vezes dói

Quem tem um terraço com 10 andares por cima, sabe bem que por vezes encontra presentes inesperados no final do dia. Não me posso queixar especialmente, os meus vizinhos são até muito civilizados e contribuem bastante para o meu cesto das molas da roupa estar cada vez mais cheio, obrigada! Mas 10 andares são 10 andares e neles há muitas pessoas, incluíndo crianças.

Estávamos eu e a minha filha no final do dia a brincar no terraço, quando começam a chover lápis, borrachas e um tubo de cola. Tentei perceber de onde vinham sem grande sucesso. A minha preocupação principal foi irmos para dentro não fosse alguma daquelas coisas acertar-nos em cheio na cabeça. Lá se percebeu que muito provavelmente viriam do 10º andar. Deixámos passar. Dois dias depois chegamos a casa e encontramos novamente alguns lápis espalhados pelo terraço. Apanhámo-los novamente e deixámos passar. Mais dois dias e o terraço era um mar de pedaços de lápis de cera de todas as cores. Não deixámos passar. Não vale a pena descrever todos os pormenores que nos levaram a ter a certeza que "aquela chuva" tinha vindo directamente do 10º andar onde vivem dois rapazes aí com os seus 12/13 anos. O M. foi lá bater à porta. Explicou ao pai dos miúdos que há alguns dias um dos objectos atirado podia ter atingido e aleijado a nossa filha e que isso ele não podia aceitar.

Estávamos já a jantar quando tocam à campainha. Eram pai e filho do 10º andar. Diz o Pai:" parece que alguém quer dizer alguma coisa". E o filho, com os olhos no chão, pede desculpa pelo que tinha feito.

Era eu miúda - talvez com uns 6 anos- decidi fazer uma birra à hora do jantar. O copo tinha ainda água mas eu berrei que não, que não tinha, que queria mais. E insisti. E voltei a insistir. O meu Pai despejou-me o copo de água pela cabeça abaixo e perguntou: "então, tinhas ou não tinhas água no copo?".

Tenho um amigo que lá pelos 8 anos, decidiu ir à carteira da Mãe tirar algumas moedas para comprar sabe-se lá o quê. A Mãe pegou nele e disse-lhe que o ía levar à Polícia. Que quem rouba vai preso. Ele não acreditou. Mas foram andando em direcção à esquadra. E à medida que se íam aproximando, o meu amigo começou a perceber que se calhar era verdade. Já perto, mesmo perto, ele estava já desesperado, a chorar e a pedir à Mãe que não o levasse à esquadra. Chegaram à porta. Falaram com o Polícia. Voltaram para casa.

Não duvido mesmo nada que aquele Pai que levou o filho a pedir-nos desculpa tenha sentido o peito apertado enquanto o elevador descia. Não tenho dúvida que quem gelou foi o meu Pai quando me despejou o copo pela cabeça abaixo. E não tenho dúvida que em lágrimas deveria ir o coração da Mãe do meu amigo a sentir que o filho acreditava mesmo que ela o ía deixar ficar preso.

O que eu sei, é que hoje vejo sempre o copo meio cheio e nunca meio vazio.
O que eu sei, é que o meu amigo é das pessoas mais honestas que eu conheço.
Não pode ser coincidência.

Hoje é difícil encontrar quem tenha a coragem de educar assim. Quem não passe o tempo a super-proteger os filhos, a encontrar culpados para os seus erros de comportamento, que a maioria das vezes resultam dos erros de educação.
À luz das teorias de hoje, eu devia ser uma pessoa no mínimo com fobia de água. O meu amigo devia ser traumatizado porque a própria Mãe o quis entregar à Polícia.

Educar às vezes dói.
Que nos doa agora a nós.
Para depois não lhes doer a eles.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

a retoma começa hoje

É oficial. Estamos em crise.

Não o País. Que esse já está em crise há muito tempo.

São as pessoas que estão em crise. Económica sim. Porque de forma muito concreta vão ver os seus rendimentos reduzirem nos próximos dois anos, sem que possam fazer alguma coisa por isso - e não tenhamos ilusões, hoje são os funcionários públicos, amanhã serão também os do sector privado.

Mas a nossa crise é ainda mais grave e vai ainda mais além. Estamos em profunda crise ideológica. Em crise "interventiva". Em crise de passado e de futuro. Estamos perdidos. Desconfiamos de todos. Dos que foram, dos que vieram e dos que estão. E a pergunta que fica é: como é que chegámos a este ponto?

Sim, como é que chegámos aqui? A esta situação de penúria colectiva. Como é que as pessoas que nos têm governado permitiram que fosse assim? E que culpa teremos nós em todo este processo?

Não somos isentos de culpas e de responsabilidades. Descurámos o nosso dever de participar na vida política e de eleger os governantes que queríamos para nós. Gastámos mais do que tínhamos. Pedimos dinheiro emprestado às instituições de crédito até ao limite para comprar o que nem sempre precisávamos. Fugimos aos impostos. Trabalhámos menos do que devíamos e por isso produzimos menos, gerámos menos riqueza. Passámos o tempo a dizer mal do País, dos governantes e dos patrões mas nunca fomos capazes de nos esforçar um bocadinho mais.

E agora? Vamos fazer o quê? Vamos ficar eternamente a apontar o dedo a possíveis culpados ou vamos levantar a cabeça, aceitar o inevitável e seguir em frente?

Há duas formas de lidar com as dificuldades. Uma é lamentarmo-nos, dizermos mal da nossa má sorte, afirmarmos ao mundo que temos vergonha de sermos portugueses. Outra é encarar o touro de frente. Ir à luta. Aceitar que não podemos voltar atrás e o único caminho é para a frente. Que vamos mesmo ter que sofrer na pele os erros passados para melhorar depois. Que temos que aprender com o que fizemos mal feito para não repetir.

A lição, a grande lição que todos podíamos dar, era apoiar as medidas que nos são exigidas. Era mostrar ao mundo que estamos juntos e dispostos a ultrapassar isto de forma rápida, para que seja o mais indolor possível. Assim como quem tira um penso rápido bem agarrado à pele. Ao invés de criar ainda mais dificuldades e atrasos. Ao invés de destabilizarmos ainda mais a harmonia social e travarmos ainda mais a produção de riqueza do País. Deixemos as crises de que somos culpados e vítimas de lado de uma vez por todas.

Eu não sou pessoa de ficar a olhar para o que foi ou podia ter sido. De me ficar a lamentar pelas desgraças do passado. Sou pessoa de seguir em frente. De acreditar que pode e será sempre melhor o que aí vem do que o que ficou para trás. Porque o que vem é um livro em branco e nele escreveremos o que quisermos. E eu não quero escrever palavras de desânimo e descontentamento. Quero escrever palavras que me encham os dias de coisas boas.

Para mim é oficial, a retoma começa hoje.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

as palavras

Não gosto de textos a metro.
Que é como quem diz, não gosto de gente que escreve para encher chouriços.

As palavras são demasiado valiosas para serem usadas por usar.
E textos a metro é assim como usar um vestido comprido quando se mede metro e meio. Não fica bem.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

relações improváveis

As relações têm uma maior probailidade de sobreviver, quanto maior a sua simplicidade. Quero com isto dizer que, por exemplo, é mais fácil ser só namorada de alguém do que ser mulher de alguém e ter que conviver com a família do outro; que é mais fácil ser só mulher de alguém do que ser também Mãe de um filho comum; que é mais fácil ser só irmã do que ser irmã e dividir a casa; que é mais fácil ser colega de trabalho do que ser colega de trabalho e ser amiga pessoal.

Acreditando nisto, diria o bom-senso que me parece improvável que uma relação onde exista:

- amizade
- relação profissional com níveis hierárquicos diferentes
- sociedade num projecto novo,

terá fracas probabilidades de subsistir sem que se acabe a arrancar cabelos!

Mas há por aí umas quantas pessoas especiais. E cá me palpita que com essas os cabelos ficarão no sítio. E brilhantes. Deslumbrantemente brilhantes!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

regimes

A diferença entre uma gestão ditadora e uma gestão centralizada é simples:

- na 1ª toda a gente sabe quem manda e quem é o responsável;
- na 2ª há um que manda, mas parece que são outros os responsáveis.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

sonhos 6#

Ao sair do edifício no final do curso de escrita, está a Rainha de Espanha à minha espera. Sim, a Rainha Sofia. Só que no sonho eu não a vi como a Rainha Sofia, apenas como uma senhora que me era familiar.
E esta senhora que estava à minha espera, vinha da parte de alguém que me tinha recomendado. Alguém que no sonho fez todo o sentido para mim, mas que acordada já não me lembro quem era.
Queria então a "Rainha Sofia" convidar-me a concorrer ao concurso para golfinho promovido pelo Benfica. Sim, pelo Sport Lisboa e Benfica. Ora, não sabendo eu (nem a dormir nem acordada) o que é isso do concurso para golfinho, e não sendo eu (nem a dormir nem acordada) do Benfica, fiquei um pouco renitente em aceitar.

O telemóvel tocou entretanto. Do outro lada da linha estava uma pessoa com quem não falo para aí há 10 anos (uma amiga com quem deixei de ter contacto). Diz ela do outro lado da linha estou! eu sei que não falamos há muito tempo, digo eu deste lado não faz mal, faz de conta que falámos ontem. mas olha,agora estou com uma senhora, podemos falar daqui a 10 minutos? e ela responde sim, mas liga mesmo, é mesmo importante e eu respondo sim eu ligo e ela reforça como se aquilo fizesse sentido para mim é sobre Espanha! E eu desligo sem perceber que importância podia ter o que ela me queria falar de Espanha. E só quando acordei e me lembrei do sonho percebi que à minha frente tinha a Rainha de Espanha e que aquela pessoa com quem eu não falava há 10 anos me queria falar de Espanha.

Adiante.

Ainda com a Rainha ao meu lado, estou eu do outro lado da rua do prédio onde moram os meus Pais. Na janela imediatamente abaixo da deles, estão a jantar uma senhora que conheci e já morreu, com o marido, o filho que nunca teve e a sua namorada negra. No sonho estava consciente de que alguém tinha morrido, mas agora não sei quem era. Só sei que não era a senhora que ali estava.


Alguém tem notícias de Espanha?

a percepção dos outros


Vamos por partes.
Falar sobre a percepção dos outros, implica tomar uma decisão: falar sobre a percepção que eu tenho dos outros, ou sobre aquela que os outros têm de mim?
A abordagem fará toda a diferença. Não apenas no discurso, mas também na percepção que de mim terá quem me ouve.
Se me centrar na percepção que os outros – vocês! – têm de mim, poderá parecer um discurso algo narcisista e egocêntrico. Mas se me detiver na percepção que eu tenho dos outros, corro o risco de parecer arrogante.
O melhor será, talvez, focar-me no abstracto. Não quero gerar más percepções.
A verdade, é que temos em nós a ideia de que somos seres absolutamente singulares. Mas – pasmem-se – não somos! Somos sempre dois: o eu e o outro.
Eu, apenas e só para nós próprios. O outro para todos aqueles que connosco inter-agem. E perante este facto inegável, fica demonstrada a teoria de que todos nós sofremos de dupla personalidade. Resta apenas saber até que ponto temos essa consciência.
Está provado que são precisos apenas 30 segundos para formarmos uma opinião sobre alguém que acabamos de conhecer. A forma como se apresenta, como nos cumprimenta, como se veste, como fala, tudo contribui para que inconscientemente coloquemos esse indivíduo numa determinada categoria. Categoria essa construída por nós, pela experiência que temos, pela pessoas que fomos conhecendo ao longo da vida, pelo facto de existirem comportamentos recorrentes em pessoas com determinadas características. Ou, pelo menos, essa é a nossa percepção. E essa ideia que construímos, certa ou errada, irá condicionar toda a nossa atitude perante esse outro, pelo menos até (nos) darmos a oportunidade de deixar de o encarar como um simples outro e passarmos a encará-lo como um eu.
Um eu singular, dono dos seus valores, das suas convicções, do seu livre arbítrio. Dono das suas decisões, tão legítimas quanto as nossas, mas que podem muitas vezes não ir ao encontro daquilo que seriam as nossas escolhas.
Quão mais fácil seria a vida se tivéssemos a capacidade de nos pormos no lugar do outro em todas as circunstâncias? Quantos problemas evitaríamos? Quantos mal-entendidos deixariam de existir se percebêssemos que afinal, pode não haver uma maneira certa e outra errada de agir? Que pode haver apenas uma maneira diferente, mas igualmente válida, daquela pela qual nós optaríamos?
A velha questão é simples: e se todos gostássemos de amarelo? Sim, se todos gostássemos de amarelo o que seria do vermelho-vivo que representa o sangue, a vida, o que seria do azul celeste que nos remete ao céu, o que seria da sobriedade do preto ou da candura do branco? O que seria de nós, se não existissem pessoas que pensam diferente? O que seria da física sem o Einstein? Em que ponto estaríamos se, o então considerado louco Galileu, não tivesse descoberto que afinal é a Terra que gira à volta do Sol e não o contrário? Como saberíamos que o amor é fogo que arde sem se ver se não tivéssemos dado ouvidos a Camões?
Olhemo-nos ao espelho. Olhemos para fora de nós próprios como se fosse outro a olhar-nos. Encontremos todos os defeitos, todas as falhas, todas as imperfeições. Estendamos a mão em frente ao espelho e de volta teremos uma mão estendida para nós. Experimentemos recuar. Apenas iremos ganhar maior distância de nós próprios.
Se a imagem no espelho for o outro, então tudo o que damos será tudo o que recebemos. Gravemos a nossa voz para a ouvir depois. Poucos se reconhecem. Essa voz não é a minha. Sim, é a nossa. Mas ouvida de fora e não ouvida de dentro.
Este é o poder da percepção: depende sempre e em cada momento do ponto em que nos encontramos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

o enredo clássico - 3º exercício

Quando o despertador tocou às 7 da manhã, Joaquim deu um salto da cama e aterrou directamente na banheira. Sabia que nesse dia não lhe era permitido adiar os normais 10 minutos antes de se levantar. Tinha marcado um encontro com o Director da escola e um representante do Ministério da Educação e não queria de maneira alguma atrasar-se. Iriam discutir-se propostas de melhoramento da escola, na sua maioria sugeridas pelo Joaquim, e era uma honra que o director o tivesse convidado a participar. Vestiu-se e bebeu à pressa um copo de leite. Sabia que sair de casa sem comer, era meio caminho andando para um dia menos produtivo.

Não tinha ainda chegado ao final do lance de escadas que dava acesso à porta do prédio, quando começou a ouvir a D. Gertrudes a gritar do lado de fora:

- Sr. Professor, Sr. Professor! Venha depressa, sabe lá o que aconteceu!

Joaquim abriu a porta do prédio e por momentos teve dificuldade em encarar a luz. Os dias de Verão são pródigos em presentear-nos com uma luminosidade matinal que fere a vista dos que ainda mal passaram do sono à vigília.

- D. Gertrudes! Aconteceu alguma coisa?

- Oh Sr. Professor! Mas o senhor não ouve notícias de manhã? Venha comigo que lhe mostro o jornal!

Joaquim ainda tentou perguntar qualquer coisa, mas aquela mulher furacão, típica mulher do Norte, agarrou-o pelo braço e conduziu-o até à mercearia.

Na primeira página do jornal lia-se:”Director de Escola Primária detido por Tráfico de Armas”. A fotografia, impressa em tamanho grande sem contemplações, não deixava dúvidas, era o director da escola do Joaquim.

- Mas isto não pode ser D. Gertrudes! Eu conheço bem o Dr. José Luís Matoso. É um homem sério. Há aqui qualquer engano, tenho a certeza. Além disso eu tenho uma reunião marcada com ele para hoje, para agora! Uma reunião importante! Isto não pode ser… - Joaquim estava incrédulo. Podia pensar em muita gente que conhecia capaz de uma coisa daquelas, mas não o director da sua escola, pessoa que tinha aprendido a admirar e a respeitar.

- E agora o que é que eu faço D. Gertrudes? Vou sozinho ao Ministério? Eles querem lá saber de mim! Ainda pensam que também tenho alguma coisa a ver com isto!

- Dessas coisas dos Ministérios eu não percebo nada, mas só lhe digo Sr. Professor, é preciso muito cuidado com as companhias, isso é que é!

Perdido entre o espanto e a decepção, Joaquim saiu para fora da mercearia com um único pensamento: O que é que eu faço?

O Sol bateu-lhe em chapa nos olhos e não só lhe iluminou a vista, como lhe iluminou o espírito.

- Vou ao Ministério! Não tenho nada a perder.

Conseguiu chegar em cima da hora combinada, 8 e meia da manhã. Parecia haver ainda poucas pessoas no edifício. Dirigiu-se ao segurança, apresentou-se e disse ao que ia.

- Pode subir. O Sr. Dr. está à sua espera. Apanha aquele elevador e sai no 5º piso. É a 3ª porta à esquerda no corredor.

Com o coração a bater a um ritmo acelerado, aquela viagem de 5 andares mais parecia a subida ao cimo da Torre Eiffel. Seguiu as instruções do segurança e bateu à porta.

- Entre, entre – disse uma voz masculina vinda de dentro do gabinete.

Joaquim entrou.

- Estava à sua espera – o homem era alto e de porte imponente, mas ainda assim com um semblante simpático.

- Não tinha a certeza se deveria vir, dadas as circunstâncias… - Joaquim não sabia se deveria abordar o tema, mas não havia forma de o evitar.

- Fez muito bem em vir. Deixemo-nos de rodeios. A escola primária do Bairro das Fontes onde o senhor lecciona, precisa desde hoje de manhã de um director. O lugar é seu!

Joaquim ficou perplexo. Esta reunião revelava-se ainda melhor do que prometera.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

manhãs

Manhã difícil.

Devo ter desligado o despertador uma cinco vezes, depois de uma noite que me (re)lembrou a razão pela qual a minha filha é, e sempre será, filha única.

Em modo rápido e automático, começo a rotina da manhã.

Lembro-me do texto que escrevi ontem e sorrio. Saiu-me bem.

Lembro-me do texto que tenho para fazer. Entro no banho. O banho tem sempre esta capacidade de activar my little grey cells - como diz o Poirot.

O texto começa a crescer dentro de mim. E eu atrasada. Saio do banho, pego no bloco de notas e começo a registar algumas ideias. Pronto, agora já está!  A ver se me despacho.
Começo a secar o cabelo. Ao invés de o barulho abafar os meus pensamentos, parece que os potencia. E o texto a crescer ainda mais dentro de mim. E lá vou outra vez escrever o que me vai na alma, que isto da inspiração às vezes apanha-nos desprevenidos.

Decido que não vou pensar mais nisso. Não tenho tempo. Era coisa para me agarrar ao papel durante uns 20 minutos.E viro a agulha para outro lado. Afogo os pensamentos e mato a inspiração.

E começo a pensar como descreveria a minha manhã. E o texto começa a crescer dentro de mim.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

momento de tensão - 2º exercício

Joaquim elegia uma matéria por dia para leccionar. Acreditava que era mais fácil para as crianças apreenderem os ensinamentos e não misturarem hemisférios com ditongos e subtracções com planetas. Na sala quadrada, pequena demais para albergar os corpos pertencentes aos 20 pares de olhos brilhantes e ávidos de aprendizagem, existiam 10 mesas dispostas em duas filas viradas para o quadro de giz. A secretária do professor ficava de frente para os alunos, à esquerda do quadro, no cimo do estrado de madeira. Grandes janelas viradas para o pátio permitiam a existência de luz natural. Na parede oposta, armários repletos de   livros, folhas, cadernos, cartolinas e uma infinidade de material escolar. Ao fundo, o mapa-mundo, cenário de grandes viagens em dias de aprender quem fomos e onde estamos.
Virado para o quadro, Joaquim escrevia no quadro o problema que, voluntariamente, um dos alunos viria resolver. Com quantas bolachas ficaria cada menino depois de o Joãozinho dividir com os seus 3 amigos, as 20 que tinha?
Estava ainda a terminar de escrever o enunciado, quando o chão lhe parece fugir dos pés. Numa vertigem inexplicável vira-se para trás numa tentativa de perceber o que se passava. Sentiu-se como numa montanha-russa e apenas conseguiu manter-se de pé agarrando-se ao quadro. Os armários abanavam, enquanto livros, lápis, canetas e réguas caiam violentamente no chão e dezenas de folhas esvoaçavam.
Os olhos das crianças fixavam-no num misto de medo, dúvida e súplica. Algumas gritavam, outros choravam. Duas meninas agarradas uma a outra, rezavam entre lágrimas e soluços.
Joaquim sentiu o coração parar. Não como pára como quando se morre. Mas como se todo o seu medo, a sua angústia, o seu pânico tivessem desaparecido de repente. O chão abanava debaixo dos seus pés mas Joaquim nem o sentia. Era uma rocha de grandes raízes que tremor nenhum conseguia mover.

- Não tenham medo!- a voz soou firme, num tom baixo e sereno. As crianças a olhá-lo sem saberem o que fazer. Desceu rapidamente do estrado, e entre a pressa de chegar e o desequilíbrio do chão que foge, quase caiu. Dirigiu-se à fila de mesas mais próximas dos armários, que a qualquer momento podiam tombar sobre as crianças.
-Vão para cima do estrado. Não se atropelem! -continuava num registo sereno, como se não estivesse a acontecer coisa nenhuma.

Foi dando a mão um a um, indicando-lhes o caminho para o estrado que lhe pareceu ser o local mais seguro dentro da sala. Fez o mesmo com as crianças da fila mais próxima da janela e depois de assegurar que já todas estavam onde indicara, juntou-se a elas.

- Fiquem juntos, dêem as mãos. Não tenham medo, vai correr tudo bem! – Joaquim esforçou-se por tocar todos os meninos, num abraço gigante que lhes transmitisse o calor necessário para os apaziaguar.
De repente, tudo parou. Um silêncio absoluto desabou sobre eles. O chão, que já não tremia, parecia continuar a tremer. Os armários já não abanavam mas pareciam ainda mexer. Baixinho, as crianças choravam. Joaquim respirou fundo e sentiu o coração começar a bater com força. Como se tivesse estado parado e tivesse voltado com toda a fúria necessária para fazer o sangue circular de novo. O chão já não tremia. Quem tremia agora era o Joaquim.

:-)

Ouvir da boca de quem tem 4 livros publicados que se escreve bem,
 é coisinha para alimentar o ego durante uns dias!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

o começo - 1º exercício

A chegada a Lisboa fez-se debaixo de uma chuva intensa de pingos grossos, e de um frio que trespassava os agasalhos que trouxera na bagagem de mão, a imaginar o que o esperava. Clima bem diferente do que deixara em Angola, sua terra-natal, onde o calor permitia a leveza das roupas e a liberdade de movimentos, tornando mais verdadeiras as acções e mais puros os sentimentos.

Joaquim Afonso sabia que, depois do que vivera, tudo seria diferente. É certo que a casa estaria no mesmo lugar. Os meninos a quem ensina a ler e a escrever todos os dias, sentar-se-iam nas mesmas cadeiras em frente ao quadro de giz, onde os números se tornavam contas e as letras contavam histórias. A D. Gertrudes da mercearia gritar-lhe-ia, ao vê-lo a sair do prédio todas as manhãs: “Bom Dia Sr. Professor”, e ele responderia, invariavelmente: “Será um bom dia se nós quisermos D. Gertrudes!” Tudo isto estaria como o Joaquim deixara. Mas o Joaquim que vinha não era o mesmo Joaquim que se ausentara há apenas um mês.

Há coisas que mudam um homem para sempre.

escrever escrever


Escrever revela-se mais fácil do que eu julgava ser capaz...

and yet 

... muito mais difícil do que eu imaginava.

Não faz sentido nenhum, eu sei, mas é exactamente isto que eu sinto.

a ler: a casa-comboio


Prémio literário revelação Agustina Bessa-Luís, 2009

Uma família indo-portuguesa. Um século de história. Quatro gerações que evocam 450 anos de aventura mítica, nos quais a Índia longínqua era portuguesa.

Em pano de fundo, a partida, o acaso e a sorte de quem se vê constantemente obrigado a fazer as malas, o desenraizamento, a inquietação, o inesperado, a imprevisibilidade dos destinos que se cruzam. A imagem dada pelo título é elucidativa: uma casa em movimento. Uma narrativa de uma surpreendente beleza poética. Uma verdadeira revelação. O enredo deste romance baseia-se na aventura de uma família indo-portuguesa, originária de Damão, que sobrevive e se adapta à turbulenta História mundial do último século, evocando uma saga nos tempos em que a Índia longínqua era portuguesa. Quatro gerações habitam Nagar-Aveli, Damão e, por fim, Lisboa. Uma casa é abandonada para sempre. Este romance histórico é baseado num relato verídico.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

um dia comum

O homem velho fez-se de engraçado à empregada brasileira que, mantendo a educação e o profissionalismo, lhe mostrou que não estava disponível para brincadeiras.

O casal almoçou lado a lado. Para assegurar que os seus olhos não se cruzavam.
Não trocaram uma palavra. Não trocaram um gesto. Estão juntos, mas já nem sabem porquê.

Eu bebi um café numa montra de vidro onde as dezenas de bombons e trufas de chocolate de todas as qualidades pareciam gritar: "pick me, pick me". E eu a ignorá-los.

Os livros estavam estrategicamente dispostos nas prateleiras, prontos a serem levados para casa, folheados e lidos a fim de se sorverem todas as palavras.

São assim, as palavras, as mesmas todos os dias. Mas com diferentes significados dependendo da junção que se faz.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

o que nasce connosco fica connosco


Julho de 1978
(4 anos.. quase)

perfeito livro de verão


Sexo e a Cidade -Como tudo começou...

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

o maravilhoso mundo das tecnologias


Sou daquelas pessoas que, não percebendo nada de tecnologias, se deslumbra com as suas incríveis potencialidades.

Descobri o Dropbox e estou maravilhada. Então não é que posso ter acesso a todos os meus ficheiros em qualquer lugar, sem ter que os enviar por email ou gravar numa pen? Que aquilo que faço no computador de casa estará automaticamente actualizado no email do trabalho ou na minha mão (leia-se smartphone) esteja eu na praia ou na mesa da esplanada? E, não contentes com esta possibilidade individual, é possível partilhar pastas com quem quisermos?

E esta coisa verdadeiramente espantosa que são os smartphones que nos permitem ter "o mundo na mão" onde quer que estejamos, usar aplicações absolutamente fúteis e desnecessárias mas que nos dão um enorme gozo, ou aquelas que sempre precisámos e nem sabíamos, fazer fotos e videos em 3D ou simplesmente jogar o que quisermos quando quisermos?

Sei que há por aí mais uma série de funcionalidades que me estão a passar ao lado, mas que irei descobrir mais dia menos dia. E vou voltar a deslumbrar-me com este maravilhoso mundo das tecnologias que continuo sem perceber muito bem como funciona, mas que me dá um jeito do caraças.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ready to start

domingo, 7 de agosto de 2011

expressões populares

pérolas aos porcos, algo de muito valor posto à disposição ou ao alcance por quem não o merece por não estar à altura da sua qualidade.

dor de cotovelo, inveja.

Era só isto.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

o vizinho do lado

Cruzamo-nos, ao longo da vida, com milhares de pessoas.
Conhecemos centenas.
Privamos com mais ou com menos pessoas consoante o nosso estilo de vida.

Ao nosso lado, na casa colada à nossa, na secretária à nossa frente, na loja da esquina que frequentamos habitualmente, vivem pessoas que não sabemos quem são.
São mais ou menos simpáticas.
São mais ou menos educadas.
Sao mais ou menos atenciosas.
Há algumas de quem até gostamos, não temos nada a dizer.

E todos os dias ouvimos as notícias e encontramos mais um caso de alguém que foi morto, assaltado, violado. Mais um professor que abusava das alunas, mais um predador sexual que usava a net para se fazer passar por quem não era e coleccionar vítimas, mais um simples engenheiro de telecomunicações que aterrorizava jovens, mais um padre que olhava pelo seu rebanho com "demasiada atenção".

E tudo isto longe.
Sempre muito longe.
Sempre numa realidade paralela.

Estas pessoas não têm cara, não têm nome, não têm voz e por isso existem simplesmente por aí. E nós seguimos por aqui. E lá esquecemos mais um crime considerado hediondo por todos, mas que rapidamente cai no esquecimento porque não está próximo de nós.

Até aquele dia.

Até ao dia em que o criminoso passa a ter cara, passa a ter nome, passa a ter voz.
Conhecemos-lhe a cara, sabemos-lhe o nome, reconhecemos-lhe a voz.

É alguém que vive ao nosso lado, que trabalha connosco. Alguém com quem privámos muitas vezes ou, pelo menos, mais vezes do que o agora desejado. No pior dos casos é nosso amigo, nosso familiar.

Como eu percebo o Pai daquele lunático Norueguês quando diz que o filho se devia ter suicidado em vez de ter morto todas aquelas pessoas.
E nesse dia constatamos mais uma vez, que nunca conhecemos verdadeiramente as pessoas. Que, como diz o ditado, quem vê caras não vê corações.
E que por muito que o nosso instinto sempre nos tenha dito que havia algo de muito errado com aquela pessoa, nada nos prepara para o facto de em alguma altura da vida termos privado com um criminoso.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

a escolha certa

O Pai estava a contar-lhe que me tinha pedido em casamento em Paris, no cimo do Torre Eiffel e que me tinha oferecido um anel de noivado muito bonito com brilhantes.

ela: e demoraste muito a escolher?
pai: a escolher o quê? o anel?
ela: não, a escolher a mulher!
pai e mãe: ...........................

Depois de algumas explicações mais ou menos atabalhoadas...

ela: escolheste a mais fofinha! escolheste a mulher certa!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

choque em cadeia

choque em cadeia

Juro que quando marcámos as férias fizemos as malas e rumámos à praia, éramos 3.

Essa era, aliás, a ideia-base. Virmos os 3 de férias, sem amigos, sem família.  Uma ou outra visita que nos acalorava os dias, mas depois o sossego outra vez.

Assim foi durante a primeira semana. Praia com espaço, piscina sem ninguém, vila com pouca gente. O tão desejado sossego depois de um ano de pessoas, horários, actividades.

Decidimos este ano que a segunda semana de férias poderia ser passada no Algarve. Em busca de noites quentes e águas que nos permitissem tomar longos banhos sem medo de enregelar assim que se põe o pé.

E cá viemos. Os 3.

Tudo pronto e lá fomos nós para a praia a pensar que encontraríamos o paraíso perdido.

O parque de estacionamento tinha bastantes carros, mas havia ainda muitos lugares, nada preocupante. Mas assim que pusemos o pé no último degrau de acesso à praia o sonho desvaneceu-se. Ao longo do areal a visão era assustadora. Chapéus de sol, uns ao lado dos outros, dezenas, centenas. Um choque em cadeia consegue ter mais espaço entre os carros acidentados.

A vontade era de voltar para trás, mas o mar estava apetecível e por isso pensámos: “não pode ser assim tão mau!”

E lá começamos a andar. À procura de um espaço onde coubéssemos os 3. Onde coubéssemos não. Onde pudéssemos estender a toalha à vontade. Somos assim. Anti-sociais. Gostamos de vir sozinhos para a praia.

Encontrámos um local minimamente afastado. Demasiado perto para o nosso gosto mas onde poderíamos estar a conversar sem que o vizinho do lado ouvisse a conversa. Durou pouco. Quando demos por nós, fomos cercados por chapéus, toalhas, pessoas. “Os teus tios também vieram?!”, “Olha, eu a pensar que tínhamos vindo só os 3 e afinal somos muitos!”

Água. Na água não está assim tanta gente.

Estender ao Sol. Deito-me e quando levanto a cabeça assusto-me. Tenho à minha frente a cabeça de uma senhora deitada de barriga para baixo. A visão que tenho é que ela tem a cabeça no meio das minhas pernas! A sério. Os 3 pêlos que de manhã pensei que podia deixar para tirar mais tarde porque só se alguém estivesse em cima de mim veria, tomaram neste momento uma proporção gigantesca. A imagem é assustadora! Não quero estar na praia, levantar a cabeça, espreitar por entre as pernas e ver uma cara a olhar para mim!

Dou um salto na toalha e sento-me quase encolhida. Haverá espaço para mim?

As pessoas continuam a chegar. Um pouco mais à frente há um espaço que para mim daria para uma toalha se tivesse vindo com as pessoas que ali estão perto.Mas há uma família que se apodera dele. São duas, são três , são quatro pessoas. Mais o chapéu de sol, as toalhas, os brinquedos e a lancheira.

Há revistas Marias e Marianas onde se conseguem ler os artigos:”Apimente a sua relação, convide uma amiga e façam-lhe um strip-tease”. Obrigadinha mas dispenso o conselho, eu cá me arranjo!

E com muita pena de toda aquela gente, que gosta de manifestar o calor português quando toca a confraternizar, arrumamos as coisas e vamos embora mais depressa do que chegámos. Na piscina há sempre uma espreguiçadeira vazia à nossa espera.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

o momento

Há um momento em que tudo se acaba.
Em que os olhos se fecham. Em que a vida se vai.

Há um momento em que tudo o que temos deixa de ter importância.
Em que deixamos de estar. Em que deixamos de ser.

Há um momento em que somos apenas a memória dos outros.
Em que os outros choram por nós. Choram por eles.

Há um momento em que perdemos a oportunidade de fazer mais, de fazer melhor.
Em que fica apenas o que fomos, o que fizemos.
Em que já não amamos, já não sentimos, já não sofremos.

Nesse momento sofrem os outros por nós.
Sofrem pelas saudades que nos terão.
Pela falta que lhes faremos.

Há um momento que os outros têm que reaprender a viver.
Em que têm que reorganizar a sua vida. As suas rotinas.
Um momento em que já não estaremos do outro lado para os ouvir, para os abraçar, para os consolar.

Há um momento em que deixamos para trás aqueles que mais amamos. Que mais nos amam.
Em que rumamos em direcção ao desconhecido. Provavelmente, em direcção a nada. Ou com sorte à vida eterna.

Há um momento em que deixamos sozinhos aqueles que nos habituámos a confortar. Quem jamais quereríamos ver sofrer. E que sofrem por nós.

"Nós os 3 nunca morremos pois não Mamã?"
"Morremos sim. Todas as pesoas morrem um dia."
"Mas quando vocês morrerem eu fico sozinha e eu não sei ir às compras sozinha!"
"Quando nós morrermos tu já vais ser muito crescida e já vais saber fazer tudo sozinha".

No mesmo dia, num espaço de poucas horas, ouviu falar da morte de três pessoas.
No mesmo dia, como um castelo de cartas que cai, soube da morte de três pessoas. Pessoas que tinham filhos e netos, pessoas que tinham ainda idade para começar a ter filhos e que tinham pais, pessoas que tinham irmãos, pessoas que tinham amigos.

Não quero morrer. Não quero morrer por mil razões, mas acima de tudo não quero morrer porque não suporto a ideia da dor que isso causaria a quem me ama.

Em paz estarão os que morreram. Que em paz fiquem aqueles que os perderam.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

o postal

Comprámos um postal escolhido entre tantos que perpetuam a beleza da paisagem.
Desenhou uma pessoa de braços gigantes prontos para abraçar o mundo. Desenhámos uma casa com flores. Completámos com o Sol.
Endereçámo-lo a nós próprios. À casa de todos os dias.
Fomos ao correios que aqui funcionam na Junta de Freguesia. Colámos o selo.
Colocámos o postal na caixinha vermelha onde será recolhido por um senhor que lhe dará o destino certo.
Quando chegarmos a casa, o postal estará na nossa caixa de correio. A provar que antes de existirem telemóveis, emails e fotografias digitais as pessoas também comunicavam e faziam chegar a quem mais amavam imagens dos sítios maravilhosos por onde passavam.
Quando chegarmos, teremos à nossa espera um pouco do que vivemos aqui.
E entre o agora e o depois, o espaço e o tempo deixarão de fazer sentido.
Estaremos sempre próximos do que nos faz felizes.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

summer mood


O limoeiro continua à porta de casa, carregado de limões ainda verdes.
A velha roda da carroça encostada à cerca mantém o cenário que lembra o velho oeste.
Nasceu mais um cavalinho.
O pão alentejano colocado todas as manhãs à porta de casa, agora acompanhado do jornal, parece cada vez melhor.
O campo de girassóis na estrada que nos leva à vila desapareceu.
Ao longe, as vacas a pastar acompanham o pequeno-almoço que tem como pano de fundo as terras que se perdem de vista.
Ontem foi dia de visita dos tios que não sendo de sangue nos correm nas veias. E amanhã será dia de receber aqueles que me deram o privilégio de habitar este mundo.
Já se pode entregar o euromilhões na vila. E crescem blocos de apartamentos que quando estiverem prontos trarão demasiadas pessoas.
Os cabelos estão adornados de cores que nos dizem que estamos de férias.
Ao almoço o cheiro dos grelhados no carvão prova que não há horas certas.
Assim se fazem os dias.
Grandes de paz e felicidade. Pequenos para tantas coisas boas para saborear.
É o sabor do Verão.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

já nao acredito em Deus

Já fui crente.
Já acreditei em Deus e na Igreja.

Baptizaram-me.
Fiz a 1ª Comunhão.
Fiz a Profissão de Fé.
Fiz o Crisma.
Casei-me pela Igreja.

Pertenci a um Grupo de Jovens da Igreja, que é muito mais do que "andar na catequese".

Fui ao Estádio do Restelo ver o Papa João Paulo II com uma muito maior emoção do que em qualquer concerto.

Rezava à noite.

Mas houve um dia em que a Igreja não me percebeu.
E eu não percebi a Igreja.

Um dia em que os Homensa da Igreja me julgaram e eu fiquei a perceber que a Igreja apregoa muitas coisas bonitas e faz tudo ao contrário.
Que a Igreja vive na hipocrisia da ajuda ao próximo, mas que vive no princípio do "venha a mim".

Que a Igreja prefere gastar milhões a construir santuários em Fátima - para gerar mais milhões - em vez de matar a fome a quem precisa.

No dia em que percebi estas coisas todas, afastei-me da Igreja.

E fui-me afastando de Deus.
E afastei-me tanto que O esqueci.

E esqueci-me tanto que deixei de acreditar.

E hoje lembrei-me disto, porque há alturas na vida em que acreditar, ou não, em Deus pode de facto fazer a diferença.


No fundo, acreditar em Deus, e por inerência na vida para além da morte, é assim como o casamento oficializado. Só se revela importante quando acaba.

terça-feira, 5 de julho de 2011

a viagem


A felicidade, sendo uma viagem e não um destino, tem tanto de efémera como de perene.

Efémera, porque  parece sempre durar menos do que gostaríamos.

Perene, porque eternos são os momentos se os soubermos apreciar.

O confronto, a ausência de tolerânica, a incapacidade de compreensão dos actos do outro - tudo isto escudado na vaidade do discurso franco e directo - fazem parar a viagem, ou pelo menos, fazem-na tomar rumos que fogem do itinerário principal.

Não há uma forma de viajar.

Há muitas.

Não há um só destino.

Há muitos.

E, de quando em vez, cruzamo-nos nos caminhos, para termos a certeza que chegámos e para, logo a seguir, partirmos outra vez.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

coisas que eu não gosto 1#

Não gosto de humor negro.

Não gosto mesmo nada.

O humor negro deixa de ter graça quando nos toca a nós.

O humor negro é um total desrespeito pelo sofrimento do outro.

Não gosto.

Mesmo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

caros senhores membros do governo

Nada como o 1º dia de Verão para tomar posse!

Não que o vosso Verão vá ser de papo para o ar nas belas praias portuguesas. Nada disso! Se não nos falharem, acabarão este Verão sem vislumbre de bronze na pele e a diminuir o IVA dos ares condicionados, tal a importância que lhes vão atribuir!

Mas o 1º dia de Verão tem sempre a beleza do 1º dia de Verão e vários começos ao mesmo tempo só pode ser um bom presságio.

É que este 1º dia de Verão traz-nos o 1º dia de um novo Governo;
O novo Governo traz-nos os ministros mais jovens de sempre;
E o Parlamento traz-nos a 1ª mulher como Presidente da Assembleia da República (não que eu seja feminista, que não sou, mas vivemos num País onde por vezes -ainda -se dá mais valor ao género do que ao mérito).
E a nova Presidente da Assembleia da República é transmontana, onde estou hoje por mero acaso!

Ora, tudo isto junto não pode ser coincidência!

Acredito sinceramente que vamos entrar num novo ciclo, que as mentalidades estão a mudar e as vontades a crescer.

Acredito quando o Primeiro-Ministro diz que não vai invocar os erros do passado para tomar as medidas que precisam de ser tomadas.

Sei que os tempos serão difíceis (mais para uns do que para outros, isso é certo!), mas acredito que vamos ultrapassar este mau bocado e que vamos orgulhar-nos do País que somos!

E acredito, acima de tudo, que as Senhoras e os Senhores Membros do Governo também acreditam.

Assim não me (nos) falhem.

terça-feira, 14 de junho de 2011

viagens na minha terra

O  primeiro taxista adormeceu num sinal vermelho.
O segundo taxista tossiu o caminho todo.
O terceiro taxista não se calou um minuto. Entre muitas coisas, disse que já tinha pensado comprar um GPS, mas que tinha experimentado um e “se não se tivesse posto fino” – foi esta a expressão –” tinha entrado por uma garagem adentro!” E eu lá concordei. Tenho as minhas próprias histórias com GPS’s.
Na viagem de comboio ía uma senhora – que pela voz eu diria que era um homem- que no mais puro sotaque do Norte falava com a Leninha sobre o “Batizo” do dia a seguir. Que sim, que ía comprar alguma coisa para a menina em seu nome. Sim, que veria qualquer coisinha de prata. “E bê lá que me disse que já tem lá um Libro de Presenças. Vai barão, que ali não falta nada!” E depois lá falhava a rede. “Tôou?! Leninha? Então? Sim, sim, vou lebar a minha máquina fotográfica, mas de certeza que vai lá haber fotógrafo que depois à noite deve pendurar as fotografias. Vê lá que são mais de 100 pessoas! Tanta gente! Mas já se sabe, ali é assim! E já têm libro de presenças. Ali não falta nada!” Que ela própria ainda tinha o livro de presenças do seu casamento, há mais de 40 anos, E lá falhava a rede outra vez:” Tôou?! Leninha?”
De regresso, agora no Expresso, senta-se ao meu lado um homem pouco mais velho que eu. A conversa é feita com auricular, o que permite aos vizinhos do lado ouvirem claramente o seu teor. Comecei por pensar que era um marido amoroso. Preocupado. A ementa lá de casa seria esparguete à bolonhesa e algo estaria complicado:”sim, estou bem, mas sabes como é, tenho a cabeça cheia, sempre a trabalhar, não pára. E tu conseguiste descansar?”
De seguida foi a vez de falar com o amigo Zé Manel, “já estás na Costa?”, “sim, claro, mas eu não sou um galifão como tu”, “eh pá, isso era giro, mas não me posso comprometer que isto está mal de massas”, “tás maluco, não, não posso”, “olha vê lá isso, faz lá contas e para a semana logo decido. Pedes duas credenciais se eu depois não poder ir paciência”, “pois não sei, a Cristina está de folga Domingo e Segunda”.
Mais alguns kms e de volta ao telefonema inicial, “o Zé Manel passou a semana a chatear-me para ir lá. Aquilo é sempre muito giro, está o Zé Manel e a mulher, mais os sogros, os pais e dois casais amigos. A Mãe dele também falou comigo a perguntar-me, então se tu não vens quem é que faz a sangria? vamos para o ano não é? vamos os dois para o ano? sim, sim isso parece-me giro, vou contigo claro que sim. e depois para o ano vamos os dois a casa do Zé Manel, queres? até tenho que ligar à Susana, a Susana é a mulher do Zé Manel, que também me ligou a perguntar se eu não ía. é que a Susana não sabe de nós, sabe que me estou a separar, mas não sabe de nós”.
E pronto, lá ficou percebido. Do outro lado não estava a mulher, mas a namorada. E no meio uma separação. E ele estava mortinho por ir a casa do Zé Manel passar os Santos, como aliás era hábito. E o que ele não disse era que queria muito ir a casa do Zé Manel. encontrar as pessoas de sempre, num ambiente de sempre. Ele não disse directamente, mas deu a entender muitas vezes. Havia aliás o problema da sangria! Ele não disse que no meio da confusão da sua vida, lhe apetecia ir para um porto seguro, onde tudo era igual ao que sempre tinha sido. Queria ir onde se sentisse desejado, onde a Mãe do Zé Manel lhe desse aquela palmadinha no rosto, onde talvez depois de uma cerveja a mais pudesse até falar deles à Susana. Dizer-lhe que havia uma outra pessoa na sua vida. Ganhar o seu aval, quem sabe ouvir “então porque é que não a trouxeste?”. Nestas coisas já se sabe, o consentimento das mulheres dos amigos resolve tudo.
E ela do outro lado, que não percebeu ou não quis perceber, não deu importância à conversa, arranjou um plano alternativo, talvez com medo que a festa de sempre lhe trouxesse outras memórias e algumas saudades da vida que não era a dela.
Ela não percebeu que nós somos como as árvores e morremos se não tivermos raízes.
Ele não disse. E ela não percebeu.
O resto da viagem fez-de de phones nos ouvidos. Não fosse alguém estar mal da garganta, ter problemas com GPS’s, querer falar com a Leninha sobre o baptizado ou ter problemas de relacionamentos para resolver.

terça-feira, 7 de junho de 2011

do que ficou e do que aí vem

Fica um dos melhores discursos de José Sócrates, que na partida não conseguiu esconder os olhos que riam e brilhavam de contentamento por se ver livre deste fardo.

Fica um novo Primeiro-Ministro que começa o seu discurso com "Boas Noites" e isso é muito assustador.

Fica um Vice-Primeiro-Ministro que, no seu tom paternalista de sempre, nos diz "nada de euforias que amanhã é dia de trabalho", como quem diz: tudo prá caminha, vá.

Fica uma esquerda que não sabe bem como fica.

E fica um deputado do Partido dos Animais e da Natureza.

Só resta saber como é que nós todos (os que lá foram votar que os outros não merecem nada) vamos ficar...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

no país do "vai-se andando"

Há uma expressão tipicamente portuguesa que consegue eriçar-me os pêlos do corpo, e que me dá vontade de iniciar um longo discurso sobre a razão pela qual Portugal aparece sempre no fim de todos os rankings: vai-se andando!

Vai-se andando é assim como quem diz resignei-me à minha condição (seja ela qual for) e não estou a fazer nada para melhorar isso. E isso é coisa para me deixar nervosa.

Na verdade, quando alguém nos pergunta como está? ou tudo bem?, das duas uma: ou é mesmo alguém que sabemos que se interessa e aí optamos por dizer- ou não- a verdade, ou é uma pergunta da praxe onde a resposta só pode ser uma: está tudo bem, obrigada!

O vai-se andando tem muito a ver com a nossa cultura do Fado, com o enraizado pessimismo português, com a nossa constante vitimização das cirscunstâncias, com a capacidade que temos para apontar todos os problemas mas não sermos capazes de propor soluções.

De que nos adianta responder vai-se andando se na realidade a outra pessoa nao quer mesmo saber e nós não queremos mesmo dizer?
Porque razão queremos dar a entender à outra pessoa que não, não estamos bem, mas também não vamos falar do assunto?
Se é para não falar, para quê lançar a questão?



E porque razão não dizemos convictamente que sim, que estamos bem, na esperança de, de tantas vezes o dizermos, passar a ser verdade?




quarta-feira, 25 de maio de 2011

sonhos 5#

A casa era a dos meus Avós, mas viviam lá os meus Pais. Eu e a D. fomos lá dormir.

A casa do lado era dividida em dois e uma das vizinhas era recente. E era daquelas que estava sempre a encontrar problemas e dificuldades. Já tarde à noite, pôs-se a fazer um enorme barulho por causa do elevador. Os vizinhos começaram todos a aparecer para lhe dizer que não podia ser.

No dia seguinte eu estava a conversar no jardim com a minha Avó. E vemos uma mão enterrada na terra. Era a mão de uma mulher. Mas depois conclui que afinal o morto era um homem.

Bela noite descansada....

segunda-feira, 16 de maio de 2011

autores portugueses

Gosto de ler autores portugueses. Gosto mesmo muito.

E se pudesse - leia-se, se tivesse tempo e dinheiro - tinha trazido um carregamento de livros da Feira do Livro.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

há muito tempo...

... que não lia um livro inteiro num dia.

Um dia destes releio todos os seus livros.



quinta-feira, 28 de abril de 2011

quem foi


Quem foi que pintou no céu as estrelas
com a delicadeza de lhes dar formas?

Quem desenhou a lua
e lhe concedeu a proeza de iluminar o mundo?

Quem fez de uma simples bola o Sol
e o tornou fonte de vida?

Quem colou as pétalas das flores, uma a uma,
numa dança de cores harmoniosa?

Quem verteu um fio de água pacientemente,
criando oceanos de vida?

Quem duvidou que tudo isto era pouco,
e criou o Homem?

... be happy

segunda-feira, 28 de março de 2011

o sonho comanda a vida




"Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã".

Victor Hugo

quarta-feira, 23 de março de 2011

mudar mentalidades

Mentir às crianças não é nunca uma boa opção, sobretudo se for para fazermos promessas que sabemos que não podemos cumprir. Mas às vezes é necessário darmos como certezas absolutas algo que sabemos que nunca vai acontecer, mas que se reporta a um universo onde não há verificação possível.

Como ontem. Que lhe prometi que quando morressemos e fossemos estrelinhas, iríamos ficar os três no céu uns aos pé dos outros. E se ficar eu aqui, tu ali e o Pai ali?. Não interessa. Nós enquanto estrelinhas andamos no Céu para ficarmos uns ao pé dos outros!. Quase lhe disse que até podíamos ser uma constelação, mas contive-me.

Não sei quem lhe disse que íamos ser estrelinhas, não sou apologista desta explicação, mas não desmenti. Gosto de explicar as coisas como elas são. As verdades cruas (e sim, muitas vezes duras!). Ela fala da morte muitas vezes e eu digo-lhe sempre que morrer é a coisa mais normal que existe e que todos vamos morrer um dia. Que é normal que fiquemos tristes com a morte dos outros, mas que depois passa. Menti. Não passa nunca. Deixa apenas de doer. Mas como é que lhe podia dizer isto?

A morte, a única certeza que temos na vida, é a única coisa que não conseguimos aceitar, talvez porque seja das poucas que não sabemos explicar. A versão da estrelinha é romântica, mas acrescenta pouco. Eu percebo que é uma forma de as crianças pensarem que aquela pessoa continua nas suas vidas e se tornou algo maravilhoso. Mas é o mesmo que dizer que os bébés vêm nas cegonhas. O que é certo é que deixámos de ter constrangimentos a explicar de que forma se concebem os bébés, mas não conseguimos deixar de ter constrangimentos a falar da morte.

longe... muito longe

ela: Gosto muito de ti Mamã!

eu: E eu também gosto muito de ti!

ela: Mas eu gosto mais. Gosto até ao "teorito da Austrália". É longe não é Mamã?

eu: É sim, filha, é muito longe.

ela: Vês? Ganhei!

nada de bom

De todas as notícias que já li e ouvi hoje, não houve uma, uma só que eu pudesse dizer: "ora aqui está uma coisa boa!"

Nada.

Zero.

Nicles.

Népia.

Preciso urgentemente de uma notícia que me faça feliz.

Anyone? Please....

domingo, 6 de março de 2011

o estado das coisas


Não há maior prova do estado das coisas do que o facto dos Homens da Luta terem ganho o Festival da Canção.

O poder da população é hoje inquestionável e ao que parece, o destes senhores também.

Há mais de 20 anos que não via o Festival da Canção e confesso: gastei os tais 0,60€ + IVA e votei neles. Mas como quem paga a conta é a minha entidade patronal, prometo descontar esse valor na folha das despesas deste mês!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

brilhante, a imaginação



Um copo de plástico e um papel muito dobradinho funcionaram o fim de semana inteiro como pincel e paleta de tintas. E foi pintar paredes, rostos e tudo o que parecia precisar. Dentro do copo couberam todas as cores do arco-íris e muitas mais que a imaginação permitiu.

É uma pena que percamos esta capacidade de fazer de algo tão simples uma coisa tão grandiosa.

É uma pena que deixemos de ter vontade de pintar o mundo das cores do arco-íris.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

dia marcado

Depois de uma conversa sobre os meus avós e o facto de já terem morrido...

ela: Oh Mãe, quando é que tu morres?
eu: Não sei, mas é só daqui a muito tempo!
ela: É no dia 13.
eu: Ok, pode ser.

(não tive coragem de perguntar o mês e o ano, não fosse ela saber isso também...)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

coisas que não percebo

Estranhamente, sinto os orgãos de comunicação social numa defesa velada ao Renato Seabra.

Mas então o mocinho não torturou e matou uma pessoa?

Ou fui eu que percebi mal?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

gostar sempre


eu: Gosto tanto de ti!

ela: Eu também gosto muito de ti... tu só não gostas de mim quando eu choro, não é?

eu: Eu gosto sempre de ti! Mesmo quando tu choras. Só que eu não gosto de te ver a chorar, gosto mais quando estás feliz, a rir!

ela: Eu também gosto sempre de ti! Mesmo quando te zangas comigo!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

ou uma ou outra


Há gente que gosta de embirrar.

Gente cujo único objectivo de vida é infernizar a vida aos outros.

São tipo predadores. Escolhem - de forma mais ou menos aleatória - uma vítima, e passam a ter como único objectivo massacrar, inferiorizar, aborrecer, chatear essa pessoa. E quando se fartam, também sem nenhum motivo específico, passam a outro e começa tudo outra vez.

É normalmente gente com lugares de chefia. Gente que usa a sua posição como factor legitimador para todas as suas acções mesquinhas, que os faz sentir poderosos e indestrutíveis.

É provavelmente gente infeliz. Ou gente que se fartou de apanhar porrada do irmão mais velho ou do colega "mau-mau" da escola primária. Daqui a 20 anos gente como essa será tratada por psicólogos por ter sido vítima de Bullying e provavelmente o Estado irá pagar-lhes uma indeminização por não ter sabido proteger as crianças durante os períodos de permanência nas escolas. Por hoje são apenas chamados de filhos da puta.

Terem sido vítimas de gente parva enquanto pequenos é uma hipótese.

A outra é terem a pila pequena.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

quem é que teve um bolo super-giro?


Um bolo para uma miúda gira,
feito por outra miúda gira,
só podia dar o bolo mais giro do pedaço!

Obrigada Teresa!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

quando uma vida cabe em quatro anos

maos

As mãos são pequeninas. Como toda ela é ainda pequenina. Custa no entanto a crer o quanto cresceu. E como cresceu depressa!

Da bebé que cabia na minha barriga já resta tão pouco, que tenho dificuldade em lembrar-me como era. Sei que quando a vi pela primeira vez, tive a sensação que a conhecia desde sempre. A partir daquele momento, ela dependeria de mim durante um longo tempo e isso não era – estranhamente - assustador.

Pensava que era arrogância quando me diziam ” vais ver, parece que fizeste aquilo a vida toda”. Mas não era arrogância. Era a mais pura das verdades. O instinto é poderoso e ensina-nos o que fazer.

Não gosto de clichés. Lembro-me de, dois dias depois dela nascer, ter dado entrada no meu quarto uma rapariga que tinha encontrado nas urgências no dia em que ela nasceu. Dois dias depois! Dois dias em que andou entre a casa e o hospital, em que passou por horas de trabalho de parto para depois fazer cesariana. Dois dias de sofrimento. E o que ela disse foi: mas valeu a pena! E disse-o apenas e só porque era suposto que o dissesse. Poucas são as pessoas que se atrevem a assumir o “outro lado” da maternidade.

Alguém teve a coragem de me dizer o que ninguém diz: não penses que ela nasce e começas logo a gostar muito dela. O amor vem com o tempo. E é verdade. Eu não digo que não se ame assim que nasce. O que nós não sabemos é que esse amor vai crescer de tal maneira, que olhando para trás, parece que não era nada. Naquela altura, não sabemos que não há limites para esse amor.

Todos os dias me orgulho das suas conquistas. E todos os dias sei que um dia terei que a deixar voar.

Todos os dias me surpreendo com as suas capacidades. E todos os dias me pergunto se estarei à altura para a acompanhar.

Sei que não sou, nem nunca serei a Mãe perfeita. Mas sei também que faço todos os dias o que acredito ser melhor e deixo-me muitas vezes guiar pelo instinto, que tenho vindo a perceber que é muitas vezes o melhor conselheiro.

Nesta aventura sem espaço para experiências, vamos os três aprendendo a ser a cada dia um bocadinho melhores: melhor Mãe, melhor Pai, melhor filha.

Todas as noites, quando a vou deitar, penso em como a vida é um verdadeiro milagre. Em como é poderosa a capacidade de gerarmos em nós um outro ser. Todas as noites, quando lhe digo o quanto gosto dela – até ao Céu e até ao tecto - penso que ela só irá perceber como esse amor é grande, quando ela própria for Mãe. Como aconteceu comigo.

Em quatro anos de vida cabe hoje a vida toda dela. E nos seus quatro anos de vida cabe a parte da minha vida que faz mais sentido.

A vida é um verdadeiro milagre.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

o dudu

Na sala da minha filha há um aquário, que até há uns dias tinha apenas um peixe. Chegou entretanto um outro hóspede a quem era preciso dar um nome. Na descrição da minha filha, todos os colegas sugeriam nomes de pessoas. "Olha Mãe, eu pensei, o meu cérebro começou a rodar, a rodar a rodar.... e saiu Dudu!"

... o cérebro da minha filha é uma slot machine...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Jardim de Infância

Obrigada Raquel!