quinta-feira, 28 de julho de 2011

a escolha certa

O Pai estava a contar-lhe que me tinha pedido em casamento em Paris, no cimo do Torre Eiffel e que me tinha oferecido um anel de noivado muito bonito com brilhantes.

ela: e demoraste muito a escolher?
pai: a escolher o quê? o anel?
ela: não, a escolher a mulher!
pai e mãe: ...........................

Depois de algumas explicações mais ou menos atabalhoadas...

ela: escolheste a mais fofinha! escolheste a mulher certa!

quarta-feira, 27 de julho de 2011

choque em cadeia

choque em cadeia

Juro que quando marcámos as férias fizemos as malas e rumámos à praia, éramos 3.

Essa era, aliás, a ideia-base. Virmos os 3 de férias, sem amigos, sem família.  Uma ou outra visita que nos acalorava os dias, mas depois o sossego outra vez.

Assim foi durante a primeira semana. Praia com espaço, piscina sem ninguém, vila com pouca gente. O tão desejado sossego depois de um ano de pessoas, horários, actividades.

Decidimos este ano que a segunda semana de férias poderia ser passada no Algarve. Em busca de noites quentes e águas que nos permitissem tomar longos banhos sem medo de enregelar assim que se põe o pé.

E cá viemos. Os 3.

Tudo pronto e lá fomos nós para a praia a pensar que encontraríamos o paraíso perdido.

O parque de estacionamento tinha bastantes carros, mas havia ainda muitos lugares, nada preocupante. Mas assim que pusemos o pé no último degrau de acesso à praia o sonho desvaneceu-se. Ao longo do areal a visão era assustadora. Chapéus de sol, uns ao lado dos outros, dezenas, centenas. Um choque em cadeia consegue ter mais espaço entre os carros acidentados.

A vontade era de voltar para trás, mas o mar estava apetecível e por isso pensámos: “não pode ser assim tão mau!”

E lá começamos a andar. À procura de um espaço onde coubéssemos os 3. Onde coubéssemos não. Onde pudéssemos estender a toalha à vontade. Somos assim. Anti-sociais. Gostamos de vir sozinhos para a praia.

Encontrámos um local minimamente afastado. Demasiado perto para o nosso gosto mas onde poderíamos estar a conversar sem que o vizinho do lado ouvisse a conversa. Durou pouco. Quando demos por nós, fomos cercados por chapéus, toalhas, pessoas. “Os teus tios também vieram?!”, “Olha, eu a pensar que tínhamos vindo só os 3 e afinal somos muitos!”

Água. Na água não está assim tanta gente.

Estender ao Sol. Deito-me e quando levanto a cabeça assusto-me. Tenho à minha frente a cabeça de uma senhora deitada de barriga para baixo. A visão que tenho é que ela tem a cabeça no meio das minhas pernas! A sério. Os 3 pêlos que de manhã pensei que podia deixar para tirar mais tarde porque só se alguém estivesse em cima de mim veria, tomaram neste momento uma proporção gigantesca. A imagem é assustadora! Não quero estar na praia, levantar a cabeça, espreitar por entre as pernas e ver uma cara a olhar para mim!

Dou um salto na toalha e sento-me quase encolhida. Haverá espaço para mim?

As pessoas continuam a chegar. Um pouco mais à frente há um espaço que para mim daria para uma toalha se tivesse vindo com as pessoas que ali estão perto.Mas há uma família que se apodera dele. São duas, são três , são quatro pessoas. Mais o chapéu de sol, as toalhas, os brinquedos e a lancheira.

Há revistas Marias e Marianas onde se conseguem ler os artigos:”Apimente a sua relação, convide uma amiga e façam-lhe um strip-tease”. Obrigadinha mas dispenso o conselho, eu cá me arranjo!

E com muita pena de toda aquela gente, que gosta de manifestar o calor português quando toca a confraternizar, arrumamos as coisas e vamos embora mais depressa do que chegámos. Na piscina há sempre uma espreguiçadeira vazia à nossa espera.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

o momento

Há um momento em que tudo se acaba.
Em que os olhos se fecham. Em que a vida se vai.

Há um momento em que tudo o que temos deixa de ter importância.
Em que deixamos de estar. Em que deixamos de ser.

Há um momento em que somos apenas a memória dos outros.
Em que os outros choram por nós. Choram por eles.

Há um momento em que perdemos a oportunidade de fazer mais, de fazer melhor.
Em que fica apenas o que fomos, o que fizemos.
Em que já não amamos, já não sentimos, já não sofremos.

Nesse momento sofrem os outros por nós.
Sofrem pelas saudades que nos terão.
Pela falta que lhes faremos.

Há um momento que os outros têm que reaprender a viver.
Em que têm que reorganizar a sua vida. As suas rotinas.
Um momento em que já não estaremos do outro lado para os ouvir, para os abraçar, para os consolar.

Há um momento em que deixamos para trás aqueles que mais amamos. Que mais nos amam.
Em que rumamos em direcção ao desconhecido. Provavelmente, em direcção a nada. Ou com sorte à vida eterna.

Há um momento em que deixamos sozinhos aqueles que nos habituámos a confortar. Quem jamais quereríamos ver sofrer. E que sofrem por nós.

"Nós os 3 nunca morremos pois não Mamã?"
"Morremos sim. Todas as pesoas morrem um dia."
"Mas quando vocês morrerem eu fico sozinha e eu não sei ir às compras sozinha!"
"Quando nós morrermos tu já vais ser muito crescida e já vais saber fazer tudo sozinha".

No mesmo dia, num espaço de poucas horas, ouviu falar da morte de três pessoas.
No mesmo dia, como um castelo de cartas que cai, soube da morte de três pessoas. Pessoas que tinham filhos e netos, pessoas que tinham ainda idade para começar a ter filhos e que tinham pais, pessoas que tinham irmãos, pessoas que tinham amigos.

Não quero morrer. Não quero morrer por mil razões, mas acima de tudo não quero morrer porque não suporto a ideia da dor que isso causaria a quem me ama.

Em paz estarão os que morreram. Que em paz fiquem aqueles que os perderam.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

o postal

Comprámos um postal escolhido entre tantos que perpetuam a beleza da paisagem.
Desenhou uma pessoa de braços gigantes prontos para abraçar o mundo. Desenhámos uma casa com flores. Completámos com o Sol.
Endereçámo-lo a nós próprios. À casa de todos os dias.
Fomos ao correios que aqui funcionam na Junta de Freguesia. Colámos o selo.
Colocámos o postal na caixinha vermelha onde será recolhido por um senhor que lhe dará o destino certo.
Quando chegarmos a casa, o postal estará na nossa caixa de correio. A provar que antes de existirem telemóveis, emails e fotografias digitais as pessoas também comunicavam e faziam chegar a quem mais amavam imagens dos sítios maravilhosos por onde passavam.
Quando chegarmos, teremos à nossa espera um pouco do que vivemos aqui.
E entre o agora e o depois, o espaço e o tempo deixarão de fazer sentido.
Estaremos sempre próximos do que nos faz felizes.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

summer mood


O limoeiro continua à porta de casa, carregado de limões ainda verdes.
A velha roda da carroça encostada à cerca mantém o cenário que lembra o velho oeste.
Nasceu mais um cavalinho.
O pão alentejano colocado todas as manhãs à porta de casa, agora acompanhado do jornal, parece cada vez melhor.
O campo de girassóis na estrada que nos leva à vila desapareceu.
Ao longe, as vacas a pastar acompanham o pequeno-almoço que tem como pano de fundo as terras que se perdem de vista.
Ontem foi dia de visita dos tios que não sendo de sangue nos correm nas veias. E amanhã será dia de receber aqueles que me deram o privilégio de habitar este mundo.
Já se pode entregar o euromilhões na vila. E crescem blocos de apartamentos que quando estiverem prontos trarão demasiadas pessoas.
Os cabelos estão adornados de cores que nos dizem que estamos de férias.
Ao almoço o cheiro dos grelhados no carvão prova que não há horas certas.
Assim se fazem os dias.
Grandes de paz e felicidade. Pequenos para tantas coisas boas para saborear.
É o sabor do Verão.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

já nao acredito em Deus

Já fui crente.
Já acreditei em Deus e na Igreja.

Baptizaram-me.
Fiz a 1ª Comunhão.
Fiz a Profissão de Fé.
Fiz o Crisma.
Casei-me pela Igreja.

Pertenci a um Grupo de Jovens da Igreja, que é muito mais do que "andar na catequese".

Fui ao Estádio do Restelo ver o Papa João Paulo II com uma muito maior emoção do que em qualquer concerto.

Rezava à noite.

Mas houve um dia em que a Igreja não me percebeu.
E eu não percebi a Igreja.

Um dia em que os Homensa da Igreja me julgaram e eu fiquei a perceber que a Igreja apregoa muitas coisas bonitas e faz tudo ao contrário.
Que a Igreja vive na hipocrisia da ajuda ao próximo, mas que vive no princípio do "venha a mim".

Que a Igreja prefere gastar milhões a construir santuários em Fátima - para gerar mais milhões - em vez de matar a fome a quem precisa.

No dia em que percebi estas coisas todas, afastei-me da Igreja.

E fui-me afastando de Deus.
E afastei-me tanto que O esqueci.

E esqueci-me tanto que deixei de acreditar.

E hoje lembrei-me disto, porque há alturas na vida em que acreditar, ou não, em Deus pode de facto fazer a diferença.


No fundo, acreditar em Deus, e por inerência na vida para além da morte, é assim como o casamento oficializado. Só se revela importante quando acaba.

terça-feira, 5 de julho de 2011

a viagem


A felicidade, sendo uma viagem e não um destino, tem tanto de efémera como de perene.

Efémera, porque  parece sempre durar menos do que gostaríamos.

Perene, porque eternos são os momentos se os soubermos apreciar.

O confronto, a ausência de tolerânica, a incapacidade de compreensão dos actos do outro - tudo isto escudado na vaidade do discurso franco e directo - fazem parar a viagem, ou pelo menos, fazem-na tomar rumos que fogem do itinerário principal.

Não há uma forma de viajar.

Há muitas.

Não há um só destino.

Há muitos.

E, de quando em vez, cruzamo-nos nos caminhos, para termos a certeza que chegámos e para, logo a seguir, partirmos outra vez.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

coisas que eu não gosto 1#

Não gosto de humor negro.

Não gosto mesmo nada.

O humor negro deixa de ter graça quando nos toca a nós.

O humor negro é um total desrespeito pelo sofrimento do outro.

Não gosto.

Mesmo.