sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

a amizade é uma coisa gloriosa e maluca

Somos 14 adultos. Cinco crianças. Cinco gatos, um porquinho-da-índia (em breve 2) e uns quantos peixes. Já fomos mais 3 cães, cujos nomes começavam todos com a letra B, por mero acaso ou coincidência.

Já andamos nisto há muito tempo. Ainda o tempo passava devagar e o futuro era tudo o que quiséssemos que fosse.
Já perdemos a conta às vezes que cantámos os parabéns uns aos outros e aos brindes que fizemos em conjunto, de cada vez que o relógio bateu a meia-noite em cada novo ano.
Já rimos e já chorámos juntos quase tantas vezes como as que respiramos.
Já andámos com as mobílias de uns e outros às costas, sempre que as mudanças surgiram.
Já nos zangámos. Já amuámos. Já nos ofendemos. Já nos reconciliámos e nos arrependemos.
Já ficámos sem chão, no medo de ficarmos menos.
Já nos abraçámos e dissemos o quanto gostávamos do outro a despropósito.

Somos todos muito diferentes. Tão maravilhosamente diferentes que de fora se calhar nem faz sentido.
Somos gloriosos. Talvez porque a paixão da maioria seja o Benfica. Ou talvez porque sempre encontramos uma maneira de dar a volta.
Somos malucos. Porque nos recusamos a aceitar que a vida tem de ser uma coisa séria e cinzenta.
Somos aqueles amigos com quem não se faz cerimónias. A quem recebemos de chinelos e pijama se for caso disso. A quem pedimos um favor daqueles que normalmente só se pede à família chegada. A quem não precisamos de pedir licença para ir à casa-de-banho ou para tirar alguma coisa do frigorífico. A quem podemos ligar às duas de manhã se a situação assim o exigir.

Somos assim estilo ciganos. Três chamadas não atendidas por alguém e já estamos a ligar a outro a saber se sabe alguma coisa, se está tudo bem. Que a família é para se manter debaixo de olho.

Já quase nos perdemos. E foi aí que nos (re)encontrámos.

Andamos nisto há muito tempo. Vimos nascer cada ruga que o outro tem na cara. Vimos aumentar cada quilo que o tempo se lembrou de trazer.
E eu, talvez porque o ano que passou foi especialmente difícil para nós, sinto que não (lhes) disse as vezes suficientes o quão importantes estas pessoas são para mim. O quanto as admiro e adoro.

Às vezes irritam-me. Como sei que eu os irrito muitas vezes.
Às vezes cansam-me. Como sei que eu também os canso muitas vezes.

Mas isso é só às vezes. Na maioria do tempo, amo-os. A todos e a cada um. De maneiras diferentes. Por razões diferentes. Mas amo.

E de tudo o que de bom nós temos, o que eu mais admiro, é a capacidade que temos de receber alguém pela mão do outro. Se veio, é porque é especial para quem o trouxe. E por isso só pode ser especial para todos. Ainda que só fique um dia, ou uma hora, enquanto estiver, é como se sempre tivesse estado.

Hoje deu-me para isto. É que a vida é demasiado curta e acaba sem avisar.

A amizade é uma coisa gloriosa. E maluca. E o que nos mantém de pé quando tudo o resto falha.

Aos meus Gloriosos Malucos: que este ano "seja tão bom como o outro. Mas muito melhor!".

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

a noite é boa conselheira

Gosto muito de provérbios e ditados populares.

Gosto porque na maioria das vezes, senão em todas, têm muito de verdadeiro.

O sono é muito importante. É durante o sono que arquivamos ficheiros. Que os catalogamos e os enviamos para as pastas certas, onde ficam guardados para os irmos buscar quando precisamos. Quando estamos acordados somos muito desarrumados. Organizamos em molho e isso normalmente resulta mal. O sono dá-nos a possibilidade de pôr tudo no sítio certo e de fazer links entre uma coisa e outra, para nos facilitar a vida no futuro.

Fico fascinada com o cérebro humano. Cada vez mais. Os sonhos,  a parte mais "visível" do que o nosso cérebro faz a dormir, é uma área que um dia ainda vou explorar melhor, porque sei que nos podem ajudar a perceber muito do que se passa connosco.

Ontem andei o dia todo à procura da chave do carro. Segunda-feira à tarde cheguei e a chave estava lá (ou o carro não teria ficado fechado). Terça de manhã não estava. Não estava em lado nenhum. Não estava na mala e o forro não estava descosido. Não estava na prateleira da estante onde a costumo pôr. Não estava no bolso do casaco com que tenho andado desde que o frio decidiu aparecer. Tendo em conta que tenho colocado coisas impensáveis em sítios estranhos, comecei a temer pela chave.

Comecei a procurar nos sítios mais improváveis e voltei a procurar nos mais óbvios. Nada. "Se calhar pus no lixo". Desisti. Havia de aparecer, quem sabe caída num canto qualquer.

Hoje, quando acordei, pensei se valeria a pena levantar-me. A professora da minha filha não tinha ido no dia anterior. Se hoje também não fosse mais valia ficarmos em casa. De repente, o meu cérebro deu-me uma imagem de mim própria à porta da escola. Vestida com um casaco que não usava há meses (ou se calhar há anos), mas que tinha vestido na segunda-feira à tarde para a ir buscar. É uma coisa estilo anorak que eu não gosto muito, mas chovia que se fartava e eu achei que seria o mais indicado.

Et voilá! Percebi nesse momento que era aí que estava a chave, no bolso desse casaco.

O meu cérebro, que não tinha ainda atingido o estado de vigília na sua plenitude (coisa que acontece, nos dias bons, só mais perto das 10 da manhã, independentemente da hora a que eu acordo) já me estava a dar a resposta que eu tanto procurei totalmente acordada e no uso pleno das minhas capacidades.

"Dormir sobre o assunto".

Fiquei maravilhada. O sono organizou-me os pensamentos e trouxe-me a informação que eu conscientemente tinha esquecido, mas que estava lá.

Moral da história: se dormir muitas horas todos os dias, sabe-se lá o que ainda posso descobrir!