quarta-feira, 25 de abril de 2012

sentado, à espera

À espera do dia em que, permanecendo o corpo,  o ar que o envolve deixará de ter importância.
Da hora, em que os poucos movimentos que ainda restam, deixarão de existir para sempre.
Em que ficará apenas a memória do que foi.
E a poltrona, ocupada durante meses por um corpo quase inerte, ficará vazia.

Resta pouco daquilo que conhecemos.

Os olhos estão naturalmente lá. Mas dentro têm tão pouco que é quase nada. 

Existem ainda as memórias. Ficando a dúvida se serão as memórias reais ou as imaginadas.
Realidades que não existindo, atraiçoaram a própria existência.

São praticamente 40 anos. Praticamente, porque falta muito pouco para que o sejam mesmo. Mas a contagem torna-se irrelevante, quando à história pouco mais haverá para acrescentar.

Apetece-me perguntar outra vez porquê. Mas teria como resposta as mesma duas palavras de antes: não sei. Em tempos o porquê teria sido uma libertação. Hoje não passaria de um capricho. E os caprichos, perante a perda da existência, revelam-se ainda mais insignificantes.

Pagamos, todos nós, em alguma altura, os nossos pecados. Mas haverá decerto preços demasiado altos. E este, há muito que ganhou contornos de castigo.

Sentado, à espera.

O que passará pela cabeça de alguém, que não tem mais por que ansiar do que o dia em que o fim pode ser o melhor dos desfechos?

E sabemos, sabemos com toda a certeza que fizemos sempre menos do que podíamos, demos sempre menos do que devíamos e perdoámos sempre menos do que sentíamos.

Sabemos sempre muitas coisas. Mas são sempre muito poucas as que chegamos a perceber realmente.