segunda-feira, 25 de julho de 2011

o momento

Há um momento em que tudo se acaba.
Em que os olhos se fecham. Em que a vida se vai.

Há um momento em que tudo o que temos deixa de ter importância.
Em que deixamos de estar. Em que deixamos de ser.

Há um momento em que somos apenas a memória dos outros.
Em que os outros choram por nós. Choram por eles.

Há um momento em que perdemos a oportunidade de fazer mais, de fazer melhor.
Em que fica apenas o que fomos, o que fizemos.
Em que já não amamos, já não sentimos, já não sofremos.

Nesse momento sofrem os outros por nós.
Sofrem pelas saudades que nos terão.
Pela falta que lhes faremos.

Há um momento que os outros têm que reaprender a viver.
Em que têm que reorganizar a sua vida. As suas rotinas.
Um momento em que já não estaremos do outro lado para os ouvir, para os abraçar, para os consolar.

Há um momento em que deixamos para trás aqueles que mais amamos. Que mais nos amam.
Em que rumamos em direcção ao desconhecido. Provavelmente, em direcção a nada. Ou com sorte à vida eterna.

Há um momento em que deixamos sozinhos aqueles que nos habituámos a confortar. Quem jamais quereríamos ver sofrer. E que sofrem por nós.

"Nós os 3 nunca morremos pois não Mamã?"
"Morremos sim. Todas as pesoas morrem um dia."
"Mas quando vocês morrerem eu fico sozinha e eu não sei ir às compras sozinha!"
"Quando nós morrermos tu já vais ser muito crescida e já vais saber fazer tudo sozinha".

No mesmo dia, num espaço de poucas horas, ouviu falar da morte de três pessoas.
No mesmo dia, como um castelo de cartas que cai, soube da morte de três pessoas. Pessoas que tinham filhos e netos, pessoas que tinham ainda idade para começar a ter filhos e que tinham pais, pessoas que tinham irmãos, pessoas que tinham amigos.

Não quero morrer. Não quero morrer por mil razões, mas acima de tudo não quero morrer porque não suporto a ideia da dor que isso causaria a quem me ama.

Em paz estarão os que morreram. Que em paz fiquem aqueles que os perderam.

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