quarta-feira, 23 de março de 2011

mudar mentalidades

Mentir às crianças não é nunca uma boa opção, sobretudo se for para fazermos promessas que sabemos que não podemos cumprir. Mas às vezes é necessário darmos como certezas absolutas algo que sabemos que nunca vai acontecer, mas que se reporta a um universo onde não há verificação possível.

Como ontem. Que lhe prometi que quando morressemos e fossemos estrelinhas, iríamos ficar os três no céu uns aos pé dos outros. E se ficar eu aqui, tu ali e o Pai ali?. Não interessa. Nós enquanto estrelinhas andamos no Céu para ficarmos uns ao pé dos outros!. Quase lhe disse que até podíamos ser uma constelação, mas contive-me.

Não sei quem lhe disse que íamos ser estrelinhas, não sou apologista desta explicação, mas não desmenti. Gosto de explicar as coisas como elas são. As verdades cruas (e sim, muitas vezes duras!). Ela fala da morte muitas vezes e eu digo-lhe sempre que morrer é a coisa mais normal que existe e que todos vamos morrer um dia. Que é normal que fiquemos tristes com a morte dos outros, mas que depois passa. Menti. Não passa nunca. Deixa apenas de doer. Mas como é que lhe podia dizer isto?

A morte, a única certeza que temos na vida, é a única coisa que não conseguimos aceitar, talvez porque seja das poucas que não sabemos explicar. A versão da estrelinha é romântica, mas acrescenta pouco. Eu percebo que é uma forma de as crianças pensarem que aquela pessoa continua nas suas vidas e se tornou algo maravilhoso. Mas é o mesmo que dizer que os bébés vêm nas cegonhas. O que é certo é que deixámos de ter constrangimentos a explicar de que forma se concebem os bébés, mas não conseguimos deixar de ter constrangimentos a falar da morte.

2 comentários:

  1. Provavelmente terá sido abordado na sala.
    Porque em conversas de tapete conversamos de tudo e deverá ter vindo o tema da morte.
    Não é um tema fácil mas confesso que aquelas cabeças ainda são demasiado pequenas para compreenderem este conceito.
    Como dizer? Morreu. Foi para debaixo da terra. Que imagem terá a criança na sua mente?
    Mas explico ao nível do seu entendimento. Morreu porque estava muito doente/ ou porque estava muito velhinho, o coração deixou de bater...
    Ou morreu porque teve um acidente e os médicos não conseguiram tratar.
    Acho que não se deve dar demasiada informação, apenas a essencial. Não acho que a história da estrelinha deva acrescentar, deva apenas tranquilizar.
    Porque só a partir dos 5 anos é que a morte tem um rosto, tendo as crianças desta idade uma maturidade congnitiva e uma sensibilidade maior. Deixam de ser tão egocêntrica.
    Não devemos esconder a dor, nem evitar o luto, mas tentar fazer compreender a falta da pessoa.
    E porque não olhar para o céu e pensar que aquela pessoa querida está a olhar por nós.

    Eu faço isso.

    **

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  2. Aqui em casa também temos estrelinhas. É parvo?sim. Acrescenta alguma coisa? Não. Mas às vezes dá um conforto do caraças olhar para o céu e "ver" alguém de quem temos saudades.

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