É oficial. Estamos em crise.
Não o País. Que esse já está em crise há muito tempo.
São as pessoas que estão em crise. Económica sim. Porque de forma muito concreta vão ver os seus rendimentos reduzirem nos próximos dois anos, sem que possam fazer alguma coisa por isso - e não tenhamos ilusões, hoje são os funcionários públicos, amanhã serão também os do sector privado.
Mas a nossa crise é ainda mais grave e vai ainda mais além. Estamos em profunda crise ideológica. Em crise "interventiva". Em crise de passado e de futuro. Estamos perdidos. Desconfiamos de todos. Dos que foram, dos que vieram e dos que estão. E a pergunta que fica é: como é que chegámos a este ponto?
Sim, como é que chegámos aqui? A esta situação de penúria colectiva. Como é que as pessoas que nos têm governado permitiram que fosse assim? E que culpa teremos nós em todo este processo?
Não somos isentos de culpas e de responsabilidades. Descurámos o nosso dever de participar na vida política e de eleger os governantes que queríamos para nós. Gastámos mais do que tínhamos. Pedimos dinheiro emprestado às instituições de crédito até ao limite para comprar o que nem sempre precisávamos. Fugimos aos impostos. Trabalhámos menos do que devíamos e por isso produzimos menos, gerámos menos riqueza. Passámos o tempo a dizer mal do País, dos governantes e dos patrões mas nunca fomos capazes de nos esforçar um bocadinho mais.
E agora? Vamos fazer o quê? Vamos ficar eternamente a apontar o dedo a possíveis culpados ou vamos levantar a cabeça, aceitar o inevitável e seguir em frente?
Há duas formas de lidar com as dificuldades. Uma é lamentarmo-nos, dizermos mal da nossa má sorte, afirmarmos ao mundo que temos vergonha de sermos portugueses. Outra é encarar o touro de frente. Ir à luta. Aceitar que não podemos voltar atrás e o único caminho é para a frente. Que vamos mesmo ter que sofrer na pele os erros passados para melhorar depois. Que temos que aprender com o que fizemos mal feito para não repetir.
A lição, a grande lição que todos podíamos dar, era apoiar as medidas que nos são exigidas. Era mostrar ao mundo que estamos juntos e dispostos a ultrapassar isto de forma rápida, para que seja o mais indolor possível. Assim como quem tira um penso rápido bem agarrado à pele. Ao invés de criar ainda mais dificuldades e atrasos. Ao invés de destabilizarmos ainda mais a harmonia social e travarmos ainda mais a produção de riqueza do País. Deixemos as crises de que somos culpados e vítimas de lado de uma vez por todas.
Eu não sou pessoa de ficar a olhar para o que foi ou podia ter sido. De me ficar a lamentar pelas desgraças do passado. Sou pessoa de seguir em frente. De acreditar que pode e será sempre melhor o que aí vem do que o que ficou para trás. Porque o que vem é um livro em branco e nele escreveremos o que quisermos. E eu não quero escrever palavras de desânimo e descontentamento. Quero escrever palavras que me encham os dias de coisas boas.
Para mim é oficial, a retoma começa hoje.
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