A chegada a Lisboa fez-se debaixo de uma chuva intensa de pingos grossos, e de um frio que trespassava os agasalhos que trouxera na bagagem de mão, a imaginar o que o esperava. Clima bem diferente do que deixara em Angola, sua terra-natal, onde o calor permitia a leveza das roupas e a liberdade de movimentos, tornando mais verdadeiras as acções e mais puros os sentimentos.
Joaquim Afonso sabia que, depois do que vivera, tudo seria diferente. É certo que a casa estaria no mesmo lugar. Os meninos a quem ensina a ler e a escrever todos os dias, sentar-se-iam nas mesmas cadeiras em frente ao quadro de giz, onde os números se tornavam contas e as letras contavam histórias. A D. Gertrudes da mercearia gritar-lhe-ia, ao vê-lo a sair do prédio todas as manhãs: “Bom Dia Sr. Professor”, e ele responderia, invariavelmente: “Será um bom dia se nós quisermos D. Gertrudes!” Tudo isto estaria como o Joaquim deixara. Mas o Joaquim que vinha não era o mesmo Joaquim que se ausentara há apenas um mês.
Há coisas que mudam um homem para sempre.
Muito bom, como sempre!!
ResponderEliminarLike :) Tcortes
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