Cruzamo-nos, ao longo da vida, com milhares de pessoas.
Conhecemos centenas.
Privamos com mais ou com menos pessoas consoante o nosso estilo de vida.
Ao nosso lado, na casa colada à nossa, na secretária à nossa frente, na loja da esquina que frequentamos habitualmente, vivem pessoas que não sabemos quem são.
São mais ou menos simpáticas.
São mais ou menos educadas.
Sao mais ou menos atenciosas.
Há algumas de quem até gostamos, não temos nada a dizer.
E todos os dias ouvimos as notícias e encontramos mais um caso de alguém que foi morto, assaltado, violado. Mais um professor que abusava das alunas, mais um predador sexual que usava a net para se fazer passar por quem não era e coleccionar vítimas, mais um simples engenheiro de telecomunicações que aterrorizava jovens, mais um padre que olhava pelo seu rebanho com "demasiada atenção".
E tudo isto longe.
Sempre muito longe.
Sempre numa realidade paralela.
Estas pessoas não têm cara, não têm nome, não têm voz e por isso existem simplesmente por aí. E nós seguimos por aqui. E lá esquecemos mais um crime considerado hediondo por todos, mas que rapidamente cai no esquecimento porque não está próximo de nós.
Até aquele dia.
Até ao dia em que o criminoso passa a ter cara, passa a ter nome, passa a ter voz.
Conhecemos-lhe a cara, sabemos-lhe o nome, reconhecemos-lhe a voz.
É alguém que vive ao nosso lado, que trabalha connosco. Alguém com quem privámos muitas vezes ou, pelo menos, mais vezes do que o agora desejado. No pior dos casos é nosso amigo, nosso familiar.
Como eu percebo o Pai daquele lunático Norueguês quando diz que o filho se devia ter suicidado em vez de ter morto todas aquelas pessoas.
E nesse dia constatamos mais uma vez, que nunca conhecemos verdadeiramente as pessoas. Que, como diz o ditado, quem vê caras não vê corações.
E que por muito que o nosso instinto sempre nos tenha dito que havia algo de muito errado com aquela pessoa, nada nos prepara para o facto de em alguma altura da vida termos privado com um criminoso.
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