terça-feira, 22 de novembro de 2011

(des)ilusões de inverno

Lembro-me bem daquele dia. Era um Sábado de manhã de Inverno. Tinha 6 anos. Os meus Pais inscreveram-me na catequese - talvez mais por tradição do que outra coisa qualquer - e eu lá ia religiosamente aprender (quem sabe?) a ser uma pessoa melhor.
O que tenho são flashes desse dia. Não me lembro do nome do catequista. Não me lembro da cara. E nem me lembro do contexto da conversa.  Mas lembro-me da frase como se ma estivessem a dizer agora ao ouvido:"o Pai Natal não existe, são os vossos Pais que compram as prendas."

Assim.
A seco.
A despropósito.
Sem que alguém lhe tivesse encomendado o sermão.

E eu, que acreditava no Pai Natal como quem tem a certeza de existir, fiquei com o mundo virado ao contrário. Todas as fantasias, todas as recordações, todos os momentos de ansiedade e nervosismo dos dias de Natal cairam por terra.

Tenho depois na minha memória o momento em que cheguei a casa e disse ao meu Pai o que acabara de descobrir. Lembro-me da minha tristeza, da minha decepção.

Descobrir que o Pai Natal não existe foi a grande primeira desilusão da minha vida. E o início da forma como eu passaria a encarar todas as desilusões que se seguiram. Não fiquei zangada por me terem mentido. Fiquei extremamente zangada por me terem contado a verdade, que eu preferia não saber. E extremamente triste por a verdade não ser a que eu gostaria.

Fiz com a minha filha o que costmamos fazer com os filhos. Projectamos neles o que fomos, o que somos ou que gostaríamos de ter sido. Tentei (re)criar a magia do Pai Natal, mas na verdade nunca foi coisa por que ela se deslumbrasse muito.

Este fim de semana, tivemos uma conversa sobre o Pai Natal. Ela estava desconfiada e eu perguntei-lhe tu achas que existe? E ela encolheu os ombros como quem não sabia e ficou a olhar para mim com uma cara que dizia por todos os lados não sei, mas tu vais-me dizer, e vais-me dizer a verdade e eu vou acreditar no que me disseres.

E eu disse a verdade. Nos milésimos de segundo que tive para decidir, soube que ela não ficaria traumatizada para sempre com a inexistência do Pai Natal (como eu!), mas que o facto de eu lhe mentir podia, isso sim, vir a ser um problema. E ela, tudo bem!

Agora para ela, o herói é o Pai. Por uma qualquer analogia, na cabeça dela é o Pai quem vai comprar os brinquedos e trata de tudo. A carta escreveu-se na mesma e foi dirigida ao Pai. E eu, tudo bem!

Daqui a umas semanas vamos à neve. Felizmente ela já sabe que a neve é dura e fria, como as pedras do congelador. Ou corríamos o risco de ter uma desilusão. Como eu, que pensava que a neve era macia e fofa e tive a segunda grande desilusão da minha vida!

2 comentários:

  1. Ohhh, a fantasia na cabeça das crianças é das coisas mais mágicas que existe!
    Mas de fato, é um assunto do qual nunca sabemos quando dizer a verdade, eu estive até aos 6 anos a acreditar que ele existia mesmo!

    (Já a estou a imaginar a D. a dizer aos amigos todos essa "dura" realidade).
    **

    ResponderEliminar
  2. nem pensar! essa foi a segunda preocupação: não contar aos amigos. é tipo segredo de menina crescida, que lhe confere alguma supremacia sobre os outros ;-)

    ResponderEliminar