quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

a viagem



Chegámos. Sãos e salvos.

Quando iniciámos esta viagem, há quase 365 dias, não sabíamos bem onde este comboio nos levaria, nem sequer as paragens que faria. É assim esta jornada ciclicamente renovada. Uma incógnita.

Somos hoje os mesmos na nossa essência, mas não seremos necessariamente iguais ao que éramos antes. Depois do que rimos e chorámos, dos medos que tivemos, dos sucessos alcançados, das angústias por que teremos passado, seremos necessariamente um pouco diferentes. Mais sábios. Mais fortes. Mais seguros.

Tivemos acidentes pelo caminho. Acidentes que marcaram alguns na carne e muitos na alma. Agradecemos ao destino, a Deus ou à sorte - sei lá! - o facto de sermos, nesta recta final, os mesmos que éramos no início da viagem. Essa é, só por si, uma enorma dádiva que agradeço todos os dias.

E entre família e amigos, não só não perdemos ninguém, como ganhámos um novo passageiro. Que tomou como sua uma família que, não lhe pertencendo por biologia, lhe passou a pertencer por amor.

Nesta inevitável esperança renovada de que a próxima viagem será melhor que a anterior, entramos todos novamente. Cada um no seu lugar cativo. Disposto a acompanhar o outro. A parar, a acelerar consoante for preciso. A partilhar a paisagem. A dividir a vida.

De todas as coisas que posso desejar para esta nova viagem, desejo acima de tudo poder escrever o mesmo daqui a 365 dias: Chegámos. Sãos e salvos.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

E quem é que tem o rato mais fashion cá do sítio?!
Quem é?!


 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Merry Christmas Everyone!


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

stay calm dad


Uma menina de 5 anos liga para a emergência médica a pedir ajuda
porque o Pai está a ter um ataque cardíaco...
simplesmente delicioso!
(e já aprendeu que uma senhora tem que estar sempre bem apresentada, no matter what!)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

razões, explicações, filosofias e (quase) certezas


sobre as razões

- eu nunca vou ter namorado porque não gosto de dar beijinhos na boca...

sobre as explicações

- um iPad serve para ler livros e ver o Toy Story em Espanhol. Mas não faz telefonemas nem tira fotografias.

sobre a filosofia

- Mãe, se eu fosse tu e tu fosses eu, era a mesma coisa não era?!

sobre as (quase) certezas

Ao passar em frente à porta de um café que abre as portas automaticamente:

avô: vês? Os senhores abriram-te a porta para entrares.

ela: não foi nada, foi o sensor.

(pausa)

ela: oh Avô! O que é um sensor?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

não é o tempo, é o momento

Não é o tempo que faz as relações. É o momento.

Podemos conhecer uma pessoa há 20 anos. E nunca a termos conhecido realmente.
Podemos estar diariamente com alguém. E esse alguém nunca passar de um nome.
Podemos conviver, festejar, trocar ideias, e nunca chegarmos ao fundo do outro.

E por outro lado...

Podemos (re)descobrir-nos ao fim de 18 anos de nos termos encontrado a primeira vez.
Podemos falar de mês a mês como se tivessemos acabado de o fazer ontem.
Podemos abrir o nosso coração, fazer confidências e dizer disparates a quem não nos cobra mais do que uma presença sem dia marcado.

Não é o tempo que faz as relações. É o momento.

A intensidade das relações não se faz de tempo. Faz-se de momentos. Faz-se de minutos - de segundos! - que marcam a nossa alma. Faz-se de conversas que nos alimentam. De partilhas que nos mostram que, afinal, não somos assim tão diferentes uns dos outros. Que as vidas não assim tão diferentes. Que o que queremos não é assim tão diferente.

Há pessoas que estão na nossa vida.
Há outras que entram na nossa vida.
Há outras que queremos na nossa vida.



Não é o tempo que faz as relações. É o momento.


São aqueles pequenos momentos em que alguém parece insuflar o nosso coração quando ele estava pequenino.
São aqueles momentos em que só precisávamos daquele "mimo" para continuar em frente.

Todos os meses vamos até esse momento.
Reencontramo-nos nesse momento.
E tornamos esse momento, um momento para repetir.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

escrita

Andei para aqui o dia todo a pensar que preciso de um projecto novo.

Tenho uma pastaespecífica na minha cabeça que se chama "projecto em curso" e que me baralha a arrumação das restantes pastas sempre que está vazio.

Os projectos de 2010 estão praticamente esgotados, uns acabados, outros na sua recta final. É altura de começar alguma coisa nova.

E depois de dar voltas e voltas à cabeça, parece-me que a única coisa que faz sentido é que o meu projecto passe pela escrita. Não sei exactamente o quê, mas aqui começa a construção...

Talvez o ano 2011 seja o Ano da Escrita.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

sonhos 4#

Hoje era um Tsunami.

Duas paredes de água. Imensas. Enormes. Que tocavam um céu escuro e que eram ela próprias negras como a noite. Primeiro uma. Depois outra. Vinham na nossa direcção. E ela ao meu colo. E eu a dizer-lhe que se agarrasse com muita força a mim. Como se fosse possível.

Depois o sonho mudou.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

sonhos 3#

Tenho o mesmo sonho recorrentemente.

Sonho que deixo a minha filha sozinha (mesmo sozinha) em casa, no carro, num local público, para ir fazer uma futilidade qualquer. E depois começo a pensar se ela estará bem. Se terá acontecido alguma coisa. E a angústia começa a crescer dentro de mim.

E acontece-me o que acontece muitas vezes nos sonhos. Não consigo andar mais depressa para chegar junto dela.

E quando chego, ela está bem. E eu agarro-me a ela e peço desculpa por a ter deixado sozinha. E prometo que nunca mais volta a acontecer.

E quando acordo, fico a pensar como é possível ter feito aquilo. Ainda que em sonho...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

sintonia

Depois da habitual história da noite, diz ela:

era uma vez uma Mãe chamada Joana.

E eu continuo:

e uma filha chamada Daniela.

E ía eu continuar dizendo:

que gostavam muito uma da outra!

Ela antecipa-se e diz:

que gostavam muito uma da outra!



(acho que os 9 meses de gestação deixam as suas marcas!)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

pensamentos do dia

pensamento 1#

Há empresas que pela sua dimensão e reconhecimento junto da opinião pública têm responsabilidades acrescidas. É o caso da Amazon. É inaceitável que tenha tido à venda um livro com conteúdos pró-pedofilia. E é inqualificável que se tenha defendido com a liberdade de expressão. Não fosse a nuvem negra da crise que assola sobre as nossas cabeças, e talvez este Natal as pessoas não se importassem de perder os fartos 10€ que poupam ao encomendar na Amazon. Talvez aí os senhores percebessem que há liberdades com as quais nenhum de nós pode ser conivente.

pensamento 2#

Para que conste, eu não quero mudar o mundo. Acredito é que só se todos fizermos o que está ao nosso alcance o mundo vai mudar. E acredito também que as empresas são responsáveis por encontrar respostas e arranjar soluções. Que são as empresas e os empresários quem tem a oportunidade de melhorar a economia. Mas é óbvio que é mais fácil apontar o dedo ao Estado e dizer a culpa da crise é tua!.

pensamento 3#

Catorze anos de trabalho, uma licenciatura e duas pós-graduações depois e eu continuo sem saber se é mesmo isto que quero fazer...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

o briefing da capela sistina


O papel do Brief Criativo é inspirar e direcionar a equipe de criação na busca por uma solução criativa. Pensando nisso, o, hoje, consultor Damian O’Malley – que já foi diretor global de planejamento da DDB e da McCannn – escreveu um case que virou referência em qualquer curso sobre planejamento .

O texto, publicado em 1987 no Blue Book da APG do Reino Unido – livro já esgotado -, tenta simular o que teria sido o “briefing” passado ao artista Michelangelo pelo Vaticano com o caminho a ser seguido na pintura do teto da Capela Sistina. O resultado é uma das obras de arte mais brilhantes da história. Abaixo, as palavras de O’Malley:

Brief 1: Favor pintar o teto.

Não há dúvidas de que isso é o que estava sendo solicitado ao Michelangelo, mas esse brief não dá nem pistas sobre o que a solução para o pedido seria. Ele deixa toda a decisão e pensamento para o artista antes que ele inicie.

Brief 2: Favor pintar o teto usando tinta vermelha, verde e amarela.

Esse brief é ainda pior. Além de não dizer a ele o que pintar, dá inúmeras restrições sem nenhuma justificativa. Restrições que irão, inevitavelmente, provarem-se incômodas e que irão distraí-lo da sua tarefa principal.

Brief 3: Temos problemas terríveis de rachaduras no teto. Você poderia cobri-los para nós?

Esse é ainda pior. Ainda não diz o que deve ser feito e dá informações depressivas e irrelevantes que mostram que ninguém está interessado no que ele irá pintar porque o teto não durará muito até que caia. Quanto esforço ele tenderá a colocar nessa tarefa?

Brief 4: Favor pintar cenas bíblicas no teto incorporando alguns ou todos os seguintes: Deus, Adão, anjos, cupidos, demônios e santos.

Melhorou um pouco. Agora estão começando a dar a ele alguma direção. Não deram a figura inteira, mas pelo menos ele já conhece alguns elementos importantes. Esse é o brief que a maioria de nós daria. Ele contém tudo que o criativo precisa saber, mas não vai além, em direção à idéia e solução.

Aqui está o brief que o Michelangelo recebeu na verdade: Favor pintar nosso teto para a glória maior de Deus e como uma inspiração maior às pessoas.

Ele pegou o brief e pintou uma cena que retrata a criação do mundo, a queda, a degradação da humanidade pelo pecado, a ira divina do dilúvio e a preservação de Noé e sua família. Ele soube o que fazer e foi inspirado pela importância do projeto. Com um direcionamento assim, ele estava livre para dedicar sua atenção à execução dos detalhes do brief da melhor maneira que ele sabia.

Palavras são pequenas bombas: as certas podem explodir dentro de nós, demandando uma solução original e excitante, ao invés de uma medíocre. Sempre trabalhe muito, mas muito para encontrar a proposta certa e, então, ainda mais para encontrar as palavras que a expressam da maneira menos ambígua e mais excitante possível.”

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

sonhos 2 #


A D. acordou e fui ver o que era.

O M. ouviu barulho na sala e foi ver o que era. Chamou-me para ver o que se estava a passar.

Havia galos de barcelos que se passeavam na sala e no hall de entrada.

E, qual lagartixas a quem se corta o rabo e continuam a mexer, quando batíamos nos galos de barcelos de loiça que se passeavam, as peças partidas continuavam a mexer.

E nós tínhamos e não tínhamos medo. Mas achávamos aquilo esquisito.

aviões e televisões

ela: Olha Mãe, vai ali um avião!

eu: Pois vai filha.

ela: Mas não está a bater as asas, como é que vai a voar?

______________________________________________

Mudámos a sala. Onde estava a televisão agora está um aparador e uma parede ainda despida.
Quando acorda, a D. costuma ir sentar-se no sofá a ver desenhos animados. Um ou dois dias depois de termos mudado, acordou, foi até à sala e disse:

- Oh Mãe já viste? Se eu me esquecesse que tínhamos mudado, agora sentava-me no chão a olhar para a parede!!!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

alma velha

Depois do post que vou escrever, o mais certo é ficar com o rótulo de insana, pelo menos durante algum tempo. Eu própria não tenho a certeza se confirmo ou se desminto, mas isto anda-me aqui às voltas na cabeça.
É como dizia o outro: eu não acredito em bruxas...
Diz quem sabe que sou uma "alma velha". Quer isto dizer que, segundo a teoria da reencarnação, ando cá há muito tempo. A minha alma está a qualquer coisa como a 90%, ou seja, estou a 10% de aprender tudo o que é suposto aprender. Depois disso será a vida eterna  no mais além. Parece também que existe a possibilidade de voltar à terra, mas dessa vez para infernizar a vida de alguém que tenha alguma coisa a aprender. Tudo isto previamente combinado, é claro, que somos nós próprios quem escolhe a nossa vida terrena, consoante o que nos falta aprender (dizem).

Para além disso, parece também que as pessoas com quem nos cruzamos, são pessoas com quem já nos cruzámos noutras vidas e com quem temos alguma questão para resolver. O nosso irmão pode ter sido nosso Pai, a nossa Mãe pode ter sido nossa filha, o nosso primo pode ter sido nosso amante. Por isso gostamos ou não, sem saber muito bem porquê, desta e daquela pessoa e há quem se nos atravesse no caminho sem nenhuma razão aparente e outros que teimam em ficar ainda que totalmente fora do contexto.

Ora, assim de repente, parece-me muito bem que tenha já tão pouco para aprender, ainda que sinta que me falta aprender muito mais em relação a tudo do que apenas 10%. Parece-me também um pouco difícil alinhar em infernizar a vida de alguém. Não que seja a Santa Joana - longe disso - mas o que eu quero é paz e amor e se não me chatearem eu também não chateio ninguém.

Diz também quem sabe que, numa das minhas vidas passadas, vivi algures na América do Sul e a dada altura perdi um filho. E no momento em que me fizeram este relato fico com um imenso nó na garganta.

Sempre, desde sempre e desde que fui Mãe mais ainda, que a notícia da morte de uma criança me deixa em agonia. Verdadeira agonia. Fico a pensar nisso durante muito tempo e escorrem-me as lágrimas quando leio sobre o assunto. Crianças que nunca conheci, filhas de pessoas que conheço da televisão e das revistas, nada mais. E às vezes, à noite, quando estou ao pé da minha filha para lhe fazer um bocadinho de companhia antes de adormecer, penso nessas Mães que perderam os filhos e que já não podem estar junto deles para os fazer dormir em paz.

Ontem, porque infelizmente tive conhecimento da morte inesperada de mais uma criança, tudo o que disse para trás neste texto me veio à cabeça, numa associação de ideias daquelas que nem percebemos muito bem como fazemos. E lembrei-me ao mesmo tempo que adoro música e que a música que mais mexe comigo são salsas, merengues, forrós e axês.

Mais ainda, não pude deixar de pensar na obsessão estranha que a minha filha tem comigo. Naquela dependência imensa que se manifesta desde os primeiros meses e que se mantém dia após dia.

E fiquei a pensar se todas estas coisas têm alguma coisa a ver umas com as outras. E que se calhar, existindo essa vida para além da morte e existindo reencarnação, a própria vida faz muitas vezes mais sentido.

E ao mesmo tempo fico a pensar que racionalmente isso não faz sentido nenhum.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

sobre a água


Diz que a água é "invisível"!

Gosto da forma como encontra palavras e conceitos para descrever as coisas.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

aos meus amigos


"Um dia a maioria de nós irá separar-se.

Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,

das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,

dos tantos risos e momentos que partilhámos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das

vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...

do companheirismo vivido.



Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje já não tenho tanta certeza disso. Em breve cada um vai para seu lado, seja

pelo destino ou por algum

desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas

que trocaremos.Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...

Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto

se tornar cada vez mais raro.

Vamo-nos perder no tempo... Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e

perguntarão:

Quem são aquelas pessoas? Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!

- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons

anos da minha vida! A saudade vai apertar bem dentro do peito.

Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto...

reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo. E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.

Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes

daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a

sua vida isolada do passado.E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não

deixes que a vida

passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de

grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem

morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem

todos os meus amigos!"


Fernando Pessoa


"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,

mas na intensidade com que acontecem

Por isso existem momentos inesquecíveis,

coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"



Fernando Pessoa

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

e vão mesmo

E entre risos e gargalhadas dizem seriamente uma para a outra:

- "Quando formos velhinhas vamos juntas para o mesmo lar, infernizar a vida dos outros velhinhos e apoiarmo-nos uma na outra para não cairmos das escadas!"

E riem mais um bocadinho.

Já têm o saco de água quente para aquecer as mãos.

Até lá vão-se apoiando nos caminhos.

E quando forem velhinhas vão juntas para o mesmo lar.

E é que vão mesmo!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

outono

Sei que chegou o Outono quando penso mais do que uma vez no mesmo dia:
" Porque é que não trouxe uns sapatos fechados? Porquê?"
É o caso de hoje.
E parece que este ano estou no timing perfeito.
O Outono vai chegar hoje de madrugada.

Que seja um magnífico Outono!!


terça-feira, 21 de setembro de 2010

em inglês sff

A música da Shakira, Waka Waka, hino do Mundial de Futebol deste ano, é a música preferida da minha filha (que está a chegar a passos largos aos 4 anos). De tal maneira que, quando ouviu na rádio que a Shakira vinha dar um concerto, disse que queria ir.


Liguei o computador para lhe mostrar o vídeo da música, versão em Inglês. Canto,dança, coreografia. A loucura!

- "Outra vez Mãe".

Lá ponho outra vez, mas agora a versão em Espanhol.

- "Essa não. Pôe a outra! Assim não percebo nada!"

Fica aqui a versão em Inglês. Não vá a Daniela vir aqui e se encontra a versão espanhola depois não percebe nada!!!


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

as mulheres do meu pai


Na mesa de cabeceira para começar hoje à noite.
Uma estreia de autor para mim e elevadas expectativas. 



Sinopse


Faustino Manso, famoso compositor angolano, deixou ao morrer sete viúvas e dezoito filhos. A filha mais nova, Laurentina, realizadora de cinema tenta reconstruir a atribulada vida do falecido músico.

Em As Mulheres do Meu Pai, realidade e ficção correm lado a lado, a primeira alimentando a segunda. Nos territórios que José Eduardo Agualusa atravessa, porém, a ficção participa da realidade. As quatro personagens do romance que o autor escreve, enquanto viaja, vão com ele de Luanda, capital de Angola, até Benguela e Namibe. Cruzam as areias da Namíbia e as suas povoações-fantasma, alcançando finalmente Cape Town, na África do Sul.

Continuam depois, rumo a Maputo, e de Maputo a Quelimane, junto ao rio dos Bons Sinais, e dali até à ilha de Moçambique. Percorrem, nesta deriva, paisagens que fazem fronteira com o sonho, e das quais emergem, aqui e ali, as mais estranhas personagens.
As Mulheres do Meu Pai é um romance sobre mulheres, música e magia. Nestas páginas anuncia-se o renascimento de África, continente afectado por problemas terríveis, mas abençoado pelo talento da música, o sempre renovado vigor das mulheres e o secreto poder de deuses muito antigos.

As Mulheres do meu Pai de José Eduardo Agualusa.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

trabalho no lixo

Digo muitas vezes, meio a sério meio a brincar, que trabalho no lixo. E digo-o porque é, e não é verdade.


É verdade no sentido em que a minha função é dizer às pessoas o que fazerem com algumas das coisas que já não querem (vulgo, lixo).

Não é verdade, primeiro porque estou sentada à secretária o dia todo e não ponho as minhas mãos em nada que possa ser considerado lixo, e segundo porque aquilo que as pessoas já não querem nem precisam não é lixo, são excelentes matérias-primas para fazer coisas novas. Muitas coisas novas.

Digo que trabalho no lixo, principalmente nos dias que me correm menos bem. Quando estou cansada das inevitáveis “chatices” que todos os empregos nos trazem. Uns mais do que outros.

Lembro-me bem quando entrei há 11 anos atrás. Senti que ía fazer parte de um projecto especial. De um projecto que fazia a diferença. Não era só um emprego. Não era só um peão a criar valor financeiro a um grupo accionista. Era um projecto do e para o mundo. Era acordar de manhã e saber que estava a trabalhar em prol de um bem maior. E ainda me pagavam para isso!

Em alguma altura do processo, esqueci-me de todas estas coisas. Passei a encarar o meu emprego como um emprego. Esqueci-me que aquilo que faço todos os dias pode mesmo fazer a diferença. Deixei de conseguir pôr de lado todas as nuances menos boas, todos os esquemas que existem no mundo do trabalho, todas as injustiças, amarguras e preocupações.

Muitas das pessoas que vou encontrando, falam do seu trabalho com um enorme orgulho. Com verdadeira paixão e dedicação. E eu fico a pensar porque não o faço. Tenho todas as razões do mundo para ter orgulho no que faço. Para acordar de manhã e vir trabalhar com a certeza de que, se não for por mais nada, pelo menos faço-o pelo mundo.

E lembrei-me disto no dia em que  finalizámos um projecto que permitiu fazer ainda mais, desta vez por quem tem muito menos. Nesse dia, tudo fez ainda mais sentido e eu percebi que tenho do que me orgulhar.

Trabalho há 11 anos na Sociedade Ponto Verde. A minha função é dizer a todos os portugueses que reciclar as embalagens usadas é importante para o mundo. É poupar energia, é poupar matérias-primas, é reduzir o espaço ocupado pelos aterros, é criar de novo, é fazer de cada coisa um ciclo interminável e perpetuar o que nos vai passando pelas mãos, é poder reencontrar o que já foi nosso mas numa outra forma. É fazer um bocadinho pelo ambiente que nos rodeia e que todos já sabemos que precisa de ajuda.

Sim, trabalho no lixo. E tenho muito orgulho nisso!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

horário de (para) crescidos

A filha está tão crescida que até já tem direito a horário na porta do frigorífico com as actividades da semana.

Os Pais estão tão birutas que já só lá vão com o horário pespegado na frente dos olhos para não se baralharem com os dias das actividades.

O horário, esse, está tão lindo que era uma pena não o pôr também aqui!




quinta-feira, 9 de setembro de 2010

sonhos 1 #


A menina do andar de cima saltou pela janela para a rua para vir ter comigo.

Os amigos vieram (quase) todos de surpresa para um "Querido, mudei a casa"- numa casa que não era exactamente a minha - mas eu não os queria lá porque tinha acabado de chegar do ginásio, estava suada e precisava de tomar banho.

Deixei-os em casa e de repente estava a passear pela Praia da Areia Branca onde havia muita água e algumas casas estavam destruídas.

Afinal estava ali para uma mini acção de team building onde não cheguei a  participar porque o sonho acabou.

Logo à noite há mais.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

a culpa é da cabala

Tenho para mim que quem continua a afirmar que tem dúvidas sobre a culpabilidade do Carlos Cruz no tão famoso processo Casa Pia, das duas uma: ou anda nesta vida a ver passar os comboios, ou gosta de o dizer para passar a imagem do "olhem-eu-tão-crédulo-no-ser-humano-tão-ingénuo-e-inocente-ando nesta vida"!

A culpa disto tudo é da "cabala". Essa gaja é que os tramou a todos, foi isso....

pedras de leitor

Um dia, olhando para o Tejo, Madalena Benusan imaginou pequenas criaturas sobre as rochas adaptando as suas formas a cada uma delas em busca da posição ideal para a leitura. E assim nasceram as "Pedras de Leitor".

Hoje os pequenos leitores saltam para telas coloridas e, sempre com a mesma energia, procuram alcançar o seu objecto preferido. O LIVRO!


Esta é minha, perfeita!
Livro e música.
E não acabo o ano sem um quadro na parede.
As peças são simplesmente MARAVILHOSAS!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

coisas de fazer bem

Às vezes é assim. Largamos tudo o que temos e vamos sozinhas.
As crianças entregues aos Avós. Os maridos entregues ao Jorge Jesus. Nós entregues umas às outras, para sermos meninas outra vez.

Primeiro um filme, que as idas ao cinema são coisa rara por estes dias.
Confesso que nunca tinha ido aquela sala, apesar de conhecer bem a zona.

Perto dali fica a minha infância. e sempre que a minha infância fica perto não resisto à tentação de a ir espreitar. Só mais uma vez.
Parei à porta. Fiquei a admirar o jardim. Tive saudades da minha bicicleta vermelha. Dos meus patins de quatro rodas, feitos em ferro, onde nunca soube andar muito bem. Olhei o pinheiro e a palmeira, que eram pequenos quando eu era pequena e agora parecem querer tocar o céu. Refiz mentalmente os caminhos percorridos entre os canteiros. As imensas estradas imaginadas com rotundas, semáforos, portagens e passadeiras. Onde conduzia o meu triciclo como se fosse um bólide que me levava onde nunca tinha ido. Que me fazia crescida quando ainda não sabia o preço a pagar pela autonomia. As memórias fazem-nos mais fortes, ao mesmo tempo que nos confrontam com a nossa impotência em controlar o tempo. Por esta altura já o meu Avô devia ter aparecido para abrir o portão. Já a minha Avó estaria à porta de sorriso na cara para nos receber.
E com a porta e o portão fechados, arranquei para novas memórias.


O filme é provavelmente o melhor filme que vi nos últimos anos. O Segredo dos Seus Olhos é uma história de paixões, de amizade e de castigo. Tem o personagem mais fantástico que vi ultimamente, com um humor brilhante e impagável, de uma simplicidade sem igual.
Saímos do cinema com a alma cheia...

...mas de barriga vazia!

A opção foi uma vegetariano que pessoalmente adoro. O Jardim dos Sentidos não é só um bom restaurante vegetariano. É, se quisermos, um espaço de experiências e de relaxamento. É perfeito para voltar ao tema do filme, para perceber que a  racionalidade nos faz acreditar em coisas que o amor não nos permite concretizar. E a paixão. A paixão que nunca morre, nunca se esquece, nunca esmorece.

Dali para o bar da moda. E tal é a moda que a fila para entrar chega ao fim da rua. Não. Não é para nós. Não o era aos 15 anos, menos o é agora. Afinal só queremos pôr a conversa em dia, pouco importa o local.
Para onde? Olha, para as Docas, que é o primeiro sítio que nos vem à cabeça.
A fauna vai alternando entre brasileiras meio despidas acompanhadas por tipos de camisa aberta a ver-se os pêlos do peito e a famosa cruz de ouro (na melhor das hipóteses é de ouro, sim) e saloias-que-vieram-das-berças-de-férias-à-cidade-de-tranca-à-mostra-e-pneu-a-saltar-das-calças. Bom, o melhorzinho ainda é o primeiro bar, que apesar da música intragável sempre tem uma frequência mais "alinhada" connosco. E lá nos sentámos. E conversámos. E a música acabou. E continuámos a conversar. E as luzes apagaram-se. E conversámos mais um bocadinho. E teríamos continuado a conversar não fosse o (muito) adiantado da hora.

Engraçado, como somos todas tão diferentes. Com infâncias e passados tão diferentes. Com "presentes" tão diferentes, mas sempre tão próximos.

Sim, temos que fazer isto mais vezes. Encontrar tempo e disponibilidade para fazer mais vezes.
Que estas coisas de fazer bem à alma dão-nos anos de vida.

Obrigada miúdas é sempre um enorme prazer!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

o jogo do anjo

E a seguir é este:


Sinopse

Na Barcelona turbulenta dos anos 20, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe de um misterioso editor a proposta para escrever um livro como nunca existiu a troco de uma fortuna e, talvez, muito mais.

Com deslumbrante estilo e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo para a Barcelona do Cemitério dos Livros Esquecidos, para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos onde o fascínio pelos livros, a paixão e a amizade se conjugam num relato magistral.

Excerto

«Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita umas moedas ou um elogio a troco de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente no sangue o doce veneno da vaidade e acredita que, se conseguir que ninguém descubra a sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de lhe dar um tecto, um prato de comida quente ao fim do dia e aquilo por que mais anseia: ver o seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente lhe sobreviverá. Um escritor está condenado a recordar esse momento pois nessa altura já está perdido e a sua alma tem preço.»

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

a máquina de fazer espanhóis - a crítica

Acabei - agora mesmo -de ler o livro.

Soberbo. É a palavra que me ocorre para o descrever.

O Sr. Silva teve que encarar uma dura realidade a que muitos de nós estaremos condenados: a perda do nosso companheiro de vida e a ida para um lar.

A sua história obriga-nos a pensar no que seremos como filhos quando chegar a vez dos nossos pais, mas também nos obriga a pensar em nós enquanto "Srs. Silvas" e em como, mesmo aos mais de 80 anos, temos ainda tantas coisas para aprender.

A salpicar o enredo, "o esteves da metafísica" saído directamente do poema de Àlvaro de Campos (Tabacaria),  a reflexão sobre o fascismo e a ditadura e a "mariazinha",  imagem da Nossa Senhora de Fátima que serve de companhia a um ateu.

Sendo o primeiro livro que leio deste autor, surpreendeu-me a escrita não-tradicional, que no caso considero uma enorma mais-valia pois impõe um ritmo completamente diferente à leitura.

Não sei se já perceberam, mas aconselho vivamente este livro.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

coisas que eu não (me) percebo 1 #

Se eu gosto quando estou no ginásio,

Se gosto de como me sinto nas horas seguintes a ter ido ao ginásio,

Se gosto dos efeitos que, a médio/longo prazo, a ida ao ginásio produz...

... porque raio é que nunca, mas nunca mesmo, me apetece levantar o rabo da cadeira para lá ir?!



quinta-feira, 12 de agosto de 2010

é que são mesmo

Não há outra maneira de dizer isto: as separações são uma merda!


Mesmo quando são amigáveis, quando são consensuais, quando são o melhor para ambas as partes, continuam a ser uma merda.

É preciso reorganizar tudo. Reorganizar o espaço ,ou até encontrar um novo; se houver filhos é preciso decidir o poder paternal e fazer as escalas das visitas - como se houvesse limite de tempo para se ser Pai ou Mãe; dividir o faqueiro; comprar novo o que não nos calhou nas partilhas; decidir quem herda os amigos.

E mais difícil e importante de tudo: que tipo de relação vai existir daí para a frente? Querem ou não aquelas duas pessoas continuar na vida um do outro? Mais simplesmente: querem ou não ficar apenas e só amigos? E será possível que o sejam?

Há poucos dias fui a um jantar onde estavam cerca de 16 pessoas. Entre essas pessoas dois casos interessantes. Dois homens com as respectivas mulheres e na mesa as respectivas ex-mulheres. E não pensem que as ex-mulheres estavam sentadas na outra ponta da mesa. Não. As ex-mulheres estavam ao lado das mulheres em amena cavaqueira.

Para a maioria esta situação é estranha. Porque por algum motivo que eu não percebo, as pessoas acham que quando um casal se separa tem que deixar de se falar para todo o sempre (excepção feita a quem tem filhos e aí apenas para falar da pensão de alimentos) e normal, normal, será que se deseje no seu íntimo algum mal – ainda que menor – à outra parte.

É óbvio que tem que haver um período de luto. Como acontece quando morre alguém de quem gostamos e que fazia parte da nossa vida. Um período em que nos organizamos por dentro, em que encontramos uma nova forma de estar e de ser sem aquela pessoa. Temos que aprender a viver sem ter ao lado quem nos acompanhou durante anos, para depois podermos perceber que tipo de lugar essa pessoa pode ocupar na nossa vida.

Se durante um determinado período de tempo, mais ou menos longo, fomos companheiros de viagem, a menos que haja uma razão muito forte, ou que o caso esteja mal resolvido, não há razão para essa pessoa ter que deixar, para sempre, de fazer parte da nossa vida. É uma opção - mais uma – que ambos terão que fazer (e talvez ai resida o problema). Mas há que dar espaço e tempo para que cada coisa tome o seu devido lugar.

Aceitar como amigo alguém que foi mais do que isso é um processo de aprendizagem. É preciso reaprender o cumprimento, reaprender o trato, reaprender o convívio. É deixar para trás a frustração de se ter falhado aquela relação e perceber que se ficou com o melhor. É perceber que os anos que passaram valeram a pena e não foram apenas desperdiçados numa relação falhada. É ter o caso resolvido.

E passado algum tempo, o tempo que for preciso e que depende de cada um, é possível (re)encontrar o outro como amigo. Até lá, volto a dizer: as separações são uma merda!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

a máquina de fazer espanhóis

Depois da saga de A História de Edgar Sawtelle que finalmente acabei - e que, apesar de reconhecer que é uma grande história e muito bem escrita, não me deixou saudades - eis que tenho em mãos um daqueles livros que apetece ler sem parar e que vou ter pena quando chegar ao fim.
















Sinopse

Esta é a história de quem, no momento mais árido da vida, se surpreende com a manifestação ainda de uma alegria. Uma alegria complexa, até difícil de aceitar, mas que comprova a validade do ser humano até ao seu último segundo. a máquina de fazer espanhóis é uma aventura irónica, trágica e divertida, pela madura idade, que será uma maturidade diferente, um estádio de conhecimento outro no qual o indivíduo se repensa para reincidir ou mudar. O que mudará na vida de antónio silva, com oitenta e quatro anos, no dia em que violentamente o seu mundo se transforma?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

stop and rewind, stop and play



Recosto-me na cadeira e carrego no stop.

Respiro fundo antes de pressionar o botão de rewind.

Parece parvo, mas predispormo-nos a rever o filme todo e de uma vez não é algo que se faça assim, como se não fosse nada.
Não é que não conheça a fita, os personagens, o enredo. Conheço até bem demais! Mas há sempre pormenores que nos escaparam. Cenas de que já não nos lembrávamos.
Com o tempo, há partes do filme que desaparecem, e do início apenas um ou outro flash mais marcante. Brincadeiras, passeios, descobertas, amigos, família. Essencialmente a família.
Não sou saudosista. Não gosto especialmente de ficar a pensar no que passou, no que foi, no que podia ter sido. Prefiro o que é e o que ainda pode ser. Mas do passado é feita a nossa vida e recordar é também viver.

À medida que o filme segue, demoro-me a analisar algumas cenas que vistas agora ganham uma outra importância - menor na maioria dos casos-, ao mesmo tempo que penso que, uma outra situação poderia ter tido outro desfecho, "se soubesse o que sei hoje". Mas não sabia. E dessa ingenuidade se faz todo o encanto.

Vou revendo opções, decisões. Sinceramente, não me arrependo de nada. Sim, faria diferente aqui ou ali. Mas arrepender é ter consciência de que na altura não tomámos a decisão que sabíamos mais acertada e eu escolhi sempre o que me pareceu mais certo. Não o foi muitas vezes, mas a falta de experiência não me dotava de maior sabedoria.

Guardo comigo muitas e muitas coisas. Outras tantas ficaram para trás. Conheci pessoas. Perdi pessoas. Guardo pessoas no meu coração. Fiz amigos. Perdi amigos. Ganhei novos amigos. E há outros que não estão perdidos nem achados. Estão em modo standby.
Pudéssemos nós ditar os nossos sentimentos. Tivéssemos nós a capacidade de perdoar (realmente) os outros e, acima de tudo, de nos perdoarmos a nós próprios.

Estar vivo e com saúde, parece ser por este dias um enorme privilégio.

Olhar para trás e gostar do que se vê.
Olhar para o presente e gostar ainda mais.
Saber que se é uma pessoa melhor. Tentar, pelo menos.

E a sorrir, carrego novamente no Stop.

Respiro fundo outra vez.
O que for, será.
E será bom com certeza.

Fast forward até ao último frame.

Play.

príncipes e princesas

ela: Mãe, eu sou a tua Princesa?

eu: Claro que és!

ela: E tu és a minha Princesa!

eu: Que bom filha!

ela: E o Pai é o nosso Príncipe! Dizes ao Pai que ele é o nosso Príncipe?

sexta-feira, 30 de julho de 2010

carpe diem

Não se fala de outra coisa. E eu também não consigo não falar.

Há pessoas que, sem nunca termos conhecido pessoalmente, fazem parte da nossa vida.
Há pessoas de um talento desmesurado, cujo desaparecimento nos torna mais pobres e nos deixa mais tristes.
Há pessoas de uma nobreza extrema, que são exemplos de coragem e esperança.
Há pessoas que, de tão grandes que são, nos ensinam que o que interessa, é o que somos enquanto estamos.

Mas eu, que não tenho essa nobreza, nem essa coragem, nem essa grandeza,
não consigo deixar de pensar que a puta da vida é mesmo injusta!

Que o outro lado dê em dobro ao António Feio, os bons momentos que ele nos deu a nós!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

duas mãos

ela: Mãe, posso levar estes dois brinquedos para a escola?

eu: Podes, mas não será muita coisa? Como é que vais conseguir levar tudo?

ela: Oh Mãe... eu tenho duas mãos.... e são duas coisas....!!!


Pois....

quarta-feira, 28 de julho de 2010

mudanças

Há mudanças por aqui.
E com as mudanças vem sempre aquele friozinho na barriga de quem não sabe bem como será o dia de amanhã.
Vêm as apreensões. As suposições. As especulações.
As mudanças, ainda que não sejam directamente connosco, mexem connosco.
Transformam o mundo que conhecemos num mundo diferente.
Tiram as peças do lugar.
Alteram a ordem das coisas.
Há pessoas que adoram mudanças. Cujo olhar fica iluminado perante tudo o que é novo e diferente.
Eu gostava de ser uma pessoa assim. Mas não sou. Tenho uma enorme dificuldade em adaptar-me quando as coisas mudam. Demoro muito tempo até reequilibar o meu sistema emocional sempre que algo de diferente acontece e se torna definitivo.
Apesar da apreensão natural que causam inicialmente, as mudanças representam evolução, desenvolvimento, progresso. E de tudo isso se faz a História da humanidade. E se faz também a história de cada um de nós.

"Não há progresso sem mudança. E, quem não consegue mudar a si mesmo, acaba não mudando coisa alguma."
George Bernard Shaw

segunda-feira, 26 de julho de 2010

várias polaroids

Hoje de manhã, quando falávamos sobre a volta à escola e ao trabalho, ela pergunta-me:

- Oh Mãe, onde é que vocês dormem?

Tive que lhe explicar que no trabalho não é como na escola, não se dorme.

(O que não lhe disse é que há quem apenas pareça estar acordado....)

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Ontem que ela queria colo, disse-lhe que estava tão grande, tão grande, que qualquer dia já não cabia no meu colo.Ela ficou surpreendida:

eu: como eu, já não caibo no colo da Avó!

ela: e tens saudades?!

Tenho. Tantas tantas...

______________________________________________________________________________

eu: então e tu, o que queres ser quando fores crescida?

ela: médica, bombeira e cabeleireira!

eu: tanta coisa? e vais ter tempo para isso tudo?

ela: sim. vou fazendo uma coisa de cada vez.

Pois. Eu esqueço-me que nós adultos é que complicamos e queremos fazer tudo ao mesmo tempo.

ai, ai!!!

Se eu descubro

quem me apanhou de férias

e aproveitou para ir ao meu armário

encolher a minha roupa toda...

...nem sei o que lhe faço!!!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

voltar a casa

Não me apetece voltar a casa.

Não me apetece deixar de tomar o pequeno-almoço de manhã enquanto vejo, ao fundo, as vacas a pastar.

Não me apetece deixar de sentir este cheiro, esta brisa, esta calma.

Não me apetece deixar de olhar pela janela e ver o limoeiro.

Não me apetece passar a usar relógio outra vez. Estar presa 8 horas por dia outra vez.

Não me apetece ter horas para dormir, para comer.

Não me apetece deixar de sentir o Sol na pele. Deixar de entrar na água e mergulhar onde o silêncio impera.

Não me apetece deixar de ter tempo para estar com quem eu amo todo o tempo.

Normalmente tenho saudades de casa e quero voltar. Mas desta vez não. Há algo que estranhamente me diz que ficava aqui melhor. Só mais uns dias.

Amanhã será dia de voltar a casa. Mas eu não quero sair daqui. Eu pertenço aqui.

Eu pertenço a estes fins de tarde que tornam o tempo irrelevante.

Eu pertenço ao pôr-do- Sol. Aos finais de dia na praia quando já quase todos foram embora. Quando o Sol já não queima e apenas aquece. Quando a brisa fresca nos diz que, muito em breve, o dia acaba.

Sei que amanhã, quando voltar a casa, vou gostar de voltar. De reencontrar o meu canto, as minhas coisas, o meu mundo.

Mas hoje, que penso nisso, não me apetece. Não me apetece mesmo nada.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

instantes decisivos

O caminho de volta a casa trouxe-me à memória o Verão dos meus 20 anos.
Não sei se é por fazer anos no Verão, se pelo facto de serem os Verões os marcos da nossa infância e juventude, que o Verão tem sempre em mim um sabor especial.
Custou-me, estranhamente e como em nenhum outro ano, a viragem da idade. O deixar de ser teenager para entrar na casa dos 20.
Não o sabia na altura – mas sei-o hoje- que nessa viragem se decidiu a minha vida.
Naquele verão, em que vivi intensamente o que se deve viver com 20 anos, a vida apresentou-me dois caminhos.  E eu, sem nenhuma noção de que aquele seria o ponto decisivo, optei pelo caminho que me trouxe, entre planícies e montanhas, entre curvas e contra-curvas, entre cruzamentos e encruzilhadas, até onde estou hoje.
Foram dias e semanas de diversão. De risos e gargalhadas. De amizades perdidas pelo correr dos anos.
Foram meses de folia e passeios e paródias feitos da ingenuidade - quase a deixar de o ser - dos 20 anos.
Naquele Verão, em que os dias não tinham fim porque os relógios tinham avançado duas horas em vez de uma, as noites começavam mais tarde e nunca acabavam cedo. Foi um Verão em grande, como eram os dias.
Hoje, passados 16 anos desde esse Verão, lembrei-me de como a vida é feita desses “instantes decisivos”. Nunca, ou quase nunca, nos apercebemos de que há momentos em que temos a opção de escolher entre dois caminhos. E que a nossa escolha inconsciente nos vai guiar por um destino totalmente diferente daquele que teríamos se optássemos de forma diferente.
De escolhas se faz a nossa vida. Que sejam sempre as melhores.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

tão perto de nós

Na Zambujeira do Mar não há nenhum agente da Santa Casa. Significa isso que não há nenhum sítio para ”pôr o Euromilhões”. É preciso ir a São Teotónio, uma terra que fica a cerca de 15 km.
São Teotónio é uma vila pequena, que tem como auge do seu desenvolvimento a existência de um Intermarché. Do que me lembro, pouco mais mudou nos últimos 20 anos. Mas em São Teotónio há um agente da Santa Casa. E pensariam vocês que seria uma papelaria como estamos habituados. Não é. O agente da Santa Casa onde depositamos a esperança de enriquecer é um alfaiate. Ou algo semelhante. É uma loja onde se vendem camisas de flanela aos quadrados por 5€.Onde se podem fazer chapéus por medida, onde há peças de fazenda inteiras para fazer fatos (um dia, quem sabe!). O agente da Santa Casa não vende revistas, nem jornais, nem tabaco, nem postais. É uma loja de um senhor velhinho, que percebeu que, se calhar, talvez fosse melhor apostar na sorte dos outros, porque a procura por camisas de flanela e fatos por medida tinha os dias contados.
Em São Teotónio, há também uma loja à antiga, onde podemos comprar lençóis, toalhas, artigos de criança e “langerie”. Pelo menos é o que diz do lado de fora. Sinceramente, nunca tentei perceber que tipo de de artigos seriam esses de “langerie”, há imaginários que preferimos não desfazer.
A Zambujeira do Mar, que toda a gente conhece e que tantos gostam, tem pouco mais de nada. Tem um mercado com uma senhora simpática que vende peixe e que põe em sentido o marido e os filhos e que comanda as operações, e tem uma senhora não tão simpática , que vende tomate com sabor a tomate. Tem esplanadas e caracóis e amêijoas ao fim da tarde. Tem uma vista deslumbrante sobre um mar imenso. Tem um café que também vende jornais e revistas. Tem lojas que vendem brincos, pulseiras, colares, bóias, braçadeiras, biquinis e postais. Tem um parque infantil. Tem uma capela. E em Agosto tem o Festival Sudoeste e uma feira.
A Zambujeira do Mar tem espaço para se estar. Tem tempo para se ser. Tem cheiro de paz. Tem a praia à nossa espera.
Aqui, tão longe de (quase) tudo, sentimo-nos tão perto de nós.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

acabaram as obras

Agora sim. Este espaço está catita.

No cabeçalho, tudo aquilo que me move: 3 cadeiras, uma para cada um de nós, porque só isso dá sentido à vida, e a praia num dia cheio de Sol que nos renova as energias; a escrita, aquela parte de mim onde sou mais eu, a música que me enche de vida, e os livros, que me ensinam, me fazem viajar, me embalam as horas. E ao centro, o que as palavras não podem dizer, porque de tão grandes há sentimentos que não precisam de palavras. Para lá da janela há uma vida inteira. Um livro em branco que será escrito todos os dias. Um bocadinho de cada vez.

São assim as viagens. Vamos passando e retendo tudo o que vimos. Vamos aprendendo com o que ficou. Sempre com os olhos postos no que ainda há-de vir. É bom recordar o que foi, mas é ainda melhor olhar em frente e confiar no que será.

As viagens só fazem sentido se tivermos um porto de abrigo onde regressar. Um lugar para nos acolher quando o cansaço falar mais alto. Onde retemperamos forças para seguir em frente. Onde sabemos que, quando tudo o resto falhar, ali estaremos seguros.

As palavras - como as conversas - são como as cerejas.

Agora sim. Este espaço está catita, não está?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

elixir da juventude

Sou a primeira a acordar, quando o corpo diz que já chega.
Carregar o carro com as malas que tanto me custam a fazer, porque não gosto de deixar para trás aquilo que é meu.
Seguir viagem. Entrar no carro para rumar ao destino que me enche a alma.
Passar a ponte. Que é quase sempre sinónimo de descanso e de sabor a sal durante dias.
A saída da auto-estrada, que nos leva à rotunda gigante em direcção a Sines. E a via rápida que nos diz que já não falta tudo.
“Já estamos a chegar?”. “Ainda não. Ainda falta um bocadinho. Devias ir para o Algarve em 1980 para ver o que era estar quase a chegar!”. Aquelas viagens que duravam um dia, só para chegar a Armação de Pêra. Tomar o pequeno-almoço de madrugada. Seguir caminho, passar a Serra. Chegar ao Algarve já ao final da tarde.
Seguir pela costa. Junto às praias. Aquele mar com uma cor que não existe igual em nenhuma outra parte do País. Aquela cor que me enche as medidas.
Passamos Porto Covo. Só mais um bocadinho até Vila Nova de Milfontes. Passamos a entrada. E a ponte logo a seguir. e aquela vista que me faz desde logo ganhar anos de vida. De um lado e de outro. As duas margens. A Vila ao fundo.
E seguimos. E a estrada fica mais estreita. E as árvores juntam-se em cima de nós. A melhor estrada do mundo. Onde desfilamos como se desfilássemos no tapete vermelho. E aqui, só aqui já ganhei anos de vida.
E chegamos. Chegamos à casa que não é nossa mas é como se fosse. À casa que não tem segredos. E que parece ainda melhor do que nos lembrávamos. Mais nossa. Mais acolhedora. Mais bonita.
E o cheiro. O cheiro dos dias que não têm hora nem tempo. O cheiro, que não é o cheiro da cidade, mas o cheiro do campo e da praia e dos dias que correm devagar.
Cantam as cigarras. Conversam os sapos. Relincham os cavalos para nos dizer que os dias que se seguem são nossos e de mais ninguém. Que as horas, os compromissos, o stress ficaram para trás. Que hoje e nos próximos quinze dias a vida é nossa. E a calma de quem pode viver sem pressas. E de quem pode aproveitar o mundo.
E o cheiro. Imenso. Que nos protege. Num mar de estrelas que nos cobre a existência.
E a rede. que baloiça devagar, ao sabor da brisa.
E a vela, que dança uma melodia no silêncio da noite.
E o fumo do cigarro que se desvanece no breu da noite.
E eu. Aqui. Onde o tempo se perde. Onde a idade que tenho parece não importar. Onde as marcas do corpo se confundem com a certeza de que tudo faz sentido. Desde que seja aqui.
Há lugares onde sabemos pertencer. Lugares onde somos nós por inteiro. Este é o meu lugar.

sábado, 10 de julho de 2010

boas férias

quinta-feira, 8 de julho de 2010

em obras

Vou fazer umas obras por aqui.

Não prometo ser breve, mas vou tentar!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

sem

Sem inspiração.

Sem paciência.

Sem ideias.

Sem vontade.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

as meias da tia

Quando oferecemos um presente a alguém, temos duas hipóteses: ou oferecemos algo que sabemos que a outra pessoa vai gostar, ou oferecemos algo que nós próprios gostaríamos de receber. 

Tendencialmente, numa manifestação de egoísmo que caracteriza o ser humano, acabamos por escolher o que nós gostaríamos que nos oferecessem. Escolhemos em função do nosso gosto, da nossa experiência, das nossas necessidades.

Assim são as empresas. Quantas empresas perdem tempo e dinheiro a oferecer-nos serviços ou produtos que nós não queremos, que nós não precisamos e que, em alguns casos, até pagaríamos para não ter.

Sendo geridas por pessoas, as empresas tendem a oferecer ao consumidor aquilo que pensam que ele quer, em vez de lhe perguntarem directamente “de que é que precisa?, o que é que o faria feliz?”.

Decidem o lançamento ou não de novos produtos/serviços e a forma de os comunicarem, com base em “estudos de mercado caseiros”, feitos junto daqueles com quem mantêm um relacionamento próximo que, por isso mesmo, terão opções e gostos muito semelhantes. É normalmente uma coisa muito técnica e científica, altamente representativa do público a que se destina, tipo: “olha lá, o que é que achas de lançar um vinho com sabor a cerveja?”, “que boa ideia pá!”. E pronto, está feito meio caminho para mais um flop que tinha tudo para dar certo.

Felizmente, são cada vez mais as empresas que têm um visão de marketing do seu negócio, e que percebem que existem para satisfazer o cliente. E para isso precisam de o conhecer, precisam despender tempo a perceber o que o consumidor procura e oferecer-lhe um produto/serviço à sua medida. Precisam de perceber e aceitar que o consumidor é cada vez mais informado e cada vez mais exigente.

Oferecer o produto/serviço certo ao cliente é a melhor (e única!) forma de atingir o objectivo do negócio: o lucro. Se o consumidor está interessado experimenta. E se experimenta e gosta compra outra vez. E se compra significa que a empresa vende e, – se as contas estiverem certas – tem lucro com a venda.

Se o marketing não tivesse evoluído e não fosse hoje uma realidade empresarial, continuaríamos todos a poder escolher a cor do nosso carro, desde que fosse preto (como dizia Henry Ford).

Se todos nós não tivéssemos aumentado o nosso grau de exigência, não só quando compramos, mas também quando oferecemos, continuaríamos todos a receber daquela Tia, uma meias (bem quentinhas) pelo Natal!

o pó dos dias

Sempre que acreditamos, os milagres acontecem.
E aquilo que falta a quem quer (e não pode)
é um "vai, que eu olho por ti".

de Eduardo Sá,
in Chega-te a mim e deixa-te estar

"A vida levanta pó que se farta. É o trabalho, os amigos, os amores insatisfeitos, a rotina que nos engole. São as crianças e o casamento, os pais e os irmãos, os sonhos (e as acrobacias com que os iludimos), e mais até. Fica no ar, cola-se a nós, respiramo-lo com parcimónia, e entranha-se (bem fundo) como uma sereia que encanta e nos adormece de sossego.

O pó dos dias não nos irrita as mucosas: inflama o nosso olhar e aloja-se, como um vírus que aí encontra um hospedeiro, no modo como deixamos de escutar com o coração e nos contentamos em ouvir. Resignadamente, em ouvir. Mesmo que, para fugirmos dele, como uma melga que se insinua nos ouvidos, levantamos mais pó, e mais pó, evitando que ele assente, devagar, e nos puxe - enfim - para pensar.

O pó dos dias leva a que imaginemos que a vida corre por si. Sem que precise de um mestre de costa ou de um homem ao leme. Conduz-nos para veredas íngremes e para couraças escorregadias. Faz das pessoas vultos, e parece tornar opaco o nosso querer. Ah!, e obriga-nos a lamentar, quase para sempre, o quanto desejávamos transformar o pó dos dias numa manhã de sol. Se pudéssemos... é claro.

Nem sempre querer é poder. Muitas vezes, quer-se e não se pode. A diferença está entre querer... e acreditar que se pode.

Sempre que acreditamos, os milagres acontecem. E aquilo que falta a quem quer (e não pode) é um "vai, que eu olho por ti". Alguém que, algures na nossa vida, nos tenha dado a suprema bondade de acreditar naquilo em que acreditamos, e de querer o que nós queremos, que transforma o querer em poder.

Em verdade, o truque esconde-se neste pequeno pormenor: quando se quer, ninguém consegue ir - mesmo que vá pelos seus sonhos - contra todos os que, afirmando que gostam de nós, jamais nos dizem:"vai, que eu serei a tua âncora". Ou "vai que eu olho por ti". (Por vezes dizem mesmo, embrulhado num silêncio cobarde: "se fores, deixo de olhar para ti").

Todos nós precisamos de uma âncora para que os milagres aconteçam e, assim, se vença o pó dos dias. E talvez seja isso o que a vida tem de mais desconcertante: não são os ventos nem as marés, só as âncoras... nos permitem navegar."

quarta-feira, 16 de junho de 2010

o que ninguém sabe

O que ninguém sabe

é o tempo,

às vezes ardente de laranja fogo,

outras de um cinza escuro que (quase) mata.

 

O que ninguém sabe

é o vento,

a brisa que refresca num fim de tarde

ou a força que nos tira os pés do chão.

 

 

O que ninguém sabe

sou eu,

e as linhas que trago na cara

as marcas cravadas no corpo

que são o mapa da minha vida.

 

O que ninguém sabe

somos nós,

aquilo que nos vai cá dentro,

as histórias que fomos vivendo

e que nos fazem aquilo que somos.

terça-feira, 15 de junho de 2010

ele há coisas

E eu, que disse não perceber as Mães e os Pais que ficam à porta da escola a dizer adeus ao autocarro que leva os filhos para os passeios e a tirar fotografias para mais tarde recordar, fui hoje – ao 2º dia de ida para a praia com a escola - confrontada com a seguinte frase da minha filha:

- Não te vais embora! Ficas à porta da escola a tirar fotografias!

- …

E eu fiquei sem palavras…

E fiquei a pensar no circo que deve ter sido ontem a saída dos autocarros…

E fiquei a pensar que as crianças dão importância a coisas que eu não imaginava….

E fiquei a pensar que tinha a máquina na mala mas que definitivamente não ia ficar a tirar fotografias…

E fui trabalhar.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

sometimes

terça-feira, 8 de junho de 2010

livro de vida 2 - as papas, as férias, o 1º aniversário


A Primeira Papa

Estes Pais são um bocadinho estranhos. Agora sentaram-me numa cadeira a que chamam “cadeira de comer”. Mas que raio é uma cadeira de comer? Melhor, o que é “comer”? Pelo que percebo, tem a ver com aquilo que eles fazem à mesa, que é enfiar para a boca umas coisas esquisitas que depois engolem. A mim não me deixam eles pôr coisas na boca!
Nestes 4 meses de vida, só me deixaram engolir o leite que bebo do biberão. E é bem bom!


Estamos na cozinha. A minha Mãe lá pega numa caixa - que tem a fotografia de um bébé - e em água e põe-se a misturar aquilo tudo. Entretanto chega o meu Pai. Pela conversa percebo que veio a casa de propósito por causa daquilo. Chamam-lhe papa. Eu por mim chamem-lhe o que quiserem que eu tenho é fome e já bebia o meu leite!
A minha Mãe senta-se em frente a mim e põe-me na boca uma coisa chamada colher. Nessa tal de colher vem a tal da papa. Huuuummmm..... é bom! Parece leite mas sabe melhor. Bom, acho que também parece leite porque eles conversam e a minha Mãe diz que está muito líquida. Não é ser má língua, mas quer parecer-me que a minha Mãe não tem muito jeito para fazer a papa...

O meu Pai tira fotografias. Mas porquê? Quando eles estão os dois à mesa a comer não tiram fotografias um ao outro!!!! Os adultos são muito estranhos, é o que eu posso dizer.


E agora que já sei o que é comer, acho que vou gostar desta coisa das papas!




As Primeiras Férias

Ainda agora comecei nesta coisa das papas e já lá vem mais uma invenção. Diz que vamos de férias. Sempre estou para ver o que é isso das férias. A avaliar pela excitação dos meus Pais deve ser uma coisa boa.


A minha Mãe põe dentro de uma mala as minhas roupas. Todas. Será que vamos mudar de casa? Eu não queria, gosto tanto desta!


O meu Pai pega nas malas todas e leva-as para o carro. Parece que está tudo (e que não cabe mais nada!).

Põe-me na cadeira e lá vamos nós. Mas isto é que são as férias? De carro já eu estou farta de andar, não estou a ver a novidade. O melhor é dormir um bocadinho que já ouvi dizer que hoje o passeio é maior do que o costume.


Acordo. Olho à volta e estou num sítio que nunca vi. E também não conheço o cheiro que é diferente. É melhor. E aqui há Sol. E silêncio. Não sei onde fica, mas parece que chegámos às férias. Ou ao Alentejo. Só ainda não percebi porque é que agora tem outro nome.


Entramos numa casa diferente. O meu Pai vai buscar ao carro todas as malas que trouxemos. A minha Mãe põe-me numa manta no chão com os meus brinquedos e começa a tirar das malas tudo o que está lá dentro e arruma nas gavetas e nos armários desta casa. Que trabalheira! Ainda agora tinha tirado tudo dos armários e gavetas lá de casa!

Depois de tudo arrumado é altura de ir passear e começo a perceber esta coisa das férias. Vamos para uma banheira gigante a que chamam piscina e onde podemos nadar e chapinhar à vontade. De manhã cedo vamos até um sítio que se chama praia e que eu adoro: tem muita água onde também podemos tomar banho e ficamos sentados a brincar na areia à sombra do chapéu. Os meus pais estão tão felizes. E eu também!

A minha Mãe farta-se de rir. O meu Pai carrega com tudo do carro até á praia: chapéu, toalhas, sacos com as minhas coisas. E eu vou ao colo da minha Mãe a admirar a paisagem. Boa vida, a minha e a da minha Mãe!


Depois da praia e da piscina lá vamos para casa. Estes dois devem ter a mania da água. Então não chegam os banhos que já tomámos, é preciso tomar banho outra vez quando chegamos a casa?!


Depois, uma papa das boas (quer dizer, agora já tenho que comer sopa mas não me importo que estes ares do Alentejo abrem-me o apetite) e uma longa sesta.


Gosto desta coisa das férias! Podemos repetir mais vezes!




O Primeiro Aniversário



Hoje faço um ano. E aprendi tantas coisas este ano! Tantas, tantas, que quase consigo andar sozinha sem a ajuda de ninguém. Já sei dizer algumas palavras e mesmo quando não digo faço-me entender muito bem.


Como hoje é o dia do meu aniversário, os meus Pais não foram trabalhar e fomos passar o dia os 3. Fomos ao oceanário, um sítio onde há muitos , muitos peixes. Gostei muito, principalmente das lontras: a Amália e o Eusébio, são mesmo divertidos. A festa lá em casa é amanhã.

Os meus pais convidaram toda a gente: os meus Avós, as minhas Tias, os meus primos e os nossos amigos todos para virem festejar o meu primeiro aniversário. Há balões e faixas de parabéns pela casa. Tenho um bolo muito lindo com desenhos de flores e uma vela com um número 1.Todos me trouxeram presentes muito bonitos. Se for sempre assim tão bom, quero fazer anos mais vezes!


só o que podemos dar

"(...)
- Se eu ordenasse a um general que voasse de flor em flor como as borboletas, ou que escrevesse uma tragédia, ou que se transformasse em gaivota e se o general não executasse a ordem recebida, de quem era a culpa: minha ou dele?

- Era Vossa - respondeu firmemente o Principezinho.

- Pois era. Só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar - prosseguiu o rei. - A autoridade baseia-se, antes de mais, no bom senso. (...) "

in O Principezinho,
 Antoine de Saint-Exupéry

quarta-feira, 2 de junho de 2010

os amigos

Quando somos crianças, fazer amigos parece ser o mais fácil de tudo.

Não interessa o nome, o sexo, a nacionalidade, nem importa se falamos a mesma língua. Duas crianças começam a brincar e pronto. Está feita a amizade. E a amizade pode durar de um minuto  a uma hora. Não interessa. Somos amigos o tempo que durar a relação. E isso chega.

Depois passamos a adolescentes.

E os amigos passam a ser o centro do mundo. São mais importantes que os pais, que os irmãos, que toda a família junta. Os amigos são deuses que nos guiam e amparam. São o centro das nossas atenções. São aquelas pessoas com quem queremos sempre estar e com quem estamos todos os minutos possíveis. É a fase dos "melhores amigos". é a fase das primeiras grandes desilusões, quando percebemos que os nossos grandes amigos não são seres perfeitos. E muitas vezes magoam-nos, atraiçoam-nos, "trocam-nos" por outros amigos. Na adolescência, temos dezenas de amigos. As nossas festas de anos parecem jantares de turma. Somos 30. Somos 40. Somos um mundo de amigos e a nossa popularidade mede-se pelo número de presenças na nossa a festa de aniversário.

E viramos adultos.

E o número de amigos diminui consideravelmene. Passamos a ser mais selectivos. Chamamos amigos a um grupo restrito de pessoas que nos acompanham nos momentos verdadeiramente importantes. Já não nos encontramos todas as Sextas e Sábados à noite. Encontramo-nos às vezes, em casa de uns e de outros, quando o resto da vida nos permite. Já não nos encontramos em todas as festas, em todos os concertos, às vezes nem sequer em todos os aniversários. Mas sabemos que nos encontramos em todas as separações, em todos os acidentes, em todas as doenças, em todos os velórios, em todos os funerais. Infelizmente, nesta altura da vida, encontramo-nos cada vez mais em alturas de tristeza e menos em alturas de alegria. Somos cada vez menos. Mas valemos cada vez mais.

Os amigos são as pessoas que escolhemos para partilhar a nossa vida. Sem imposições de sangue. São aquelas pessoas que sabemos que "estão lá", para o que for preciso. Os amigos são os irmãos que os nossos Pais não tiveram. Com quem partilhamos tudo o que é. E não tudo o que foi.

Há amigos de quem gostamos tanto, tanto, que nos dói a alma quando lhes dói a alma.

Há amigos de quem gostamos tanto, tanto, que ficamos felizes como crianças quando eles estão felizes.

Não gosto de anos pares. Os anos pares fazem-me mal a mim e aos meus amigos.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

o que podemos

De todas as verdades incontestáveis, o facto de ninguém ser perfeito é uma das mais evidentes.

Ninguém é perfeito. Mesmo.

E vivemos bem com isso.

Assumimos que temos erros, mas encaramo-los como uma inevitabilidade da condição humana.

Sabemos que temos defeitos que incomodam os outros, mas que se lixe!, quem nos quiser vai ter que nos aceitar como nós somos. Não fazemos muito esforço para mudar. Somos assim e pronto.

Mas há um dia em que o facto de não sermos perfeitos importa.

De um dia para o outro, passamos do "don't give a damn" para "it really matters".

Esse dia é também o dia em que deixamos de ser apenas filhos, para passarmos também a ser Pais.

E já não queremos ser seres imperfeitos.
Queremos ser pessoas perfeitas.
Queremos ser Pais perfeitos.
E queremos criar filhos perfeitos.

Acredito, quero acreditar, que todos os Pais fazem sempre "o melhor que sabem" - sendo que por vezes o que sabem não é suficiente - e "o melhor que podem" - embora algumas vezes o melhor que podem não chegue a ser o melhor que sabem.

E é aí, quando não podemos o melhor que sabemos, que nos deparamos com o facto de não sermos perfeitos.
Porque fizemos menos do que sabíamos.
Porque nos ficámos pelo que podíamos.
E, por vezes, o que pudemos foi pouco.

Tenho a sorte de ter uns Pais que sempre fizeram o melhor que podiam.
Que sempre puderam o melhor que sabiam.
E o que souberam foi sempre muito.

Tenho a sorte de ter uma filha que me faz querer ser uma pessoa melhor.
E todos os dias, um bocadinho, crescemos juntas.

terça-feira, 25 de maio de 2010

às voltas

Há dias em que andamos com a vida às voltas.

Como quando pegamos num quadro de pintura abstracta, sem saber muito bem como o pendurar na parede.

Há dias em que andamos com a vida às voltas.

Como quando tiramos tudo de dentro de um armário e depois não sabemos muito bem como voltar a arrumar.

Há dias em que andamos com a vida às voltas.

Como quando desmontamos alguma coisa, montamos outra vez e invariavelmente sobram peças que parecem não ter onde encaixar.

Há dias em que andamos com a vida às voltas.

Há outros em que é a vida que anda às voltas connosco.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

pensamentos do dia

pensamento 1#

Parece que, afinal, as equipas só de mulheres sempre conseguem ficar em primeiro.

Há coisas fantásticas, não há?!

pensamento 2#

A vida tem muitas coisas boas.

De todas as coisas boas que a vida tem, voltar a casa no final do dia, é talvez uma das melhores.

Quando é assim, é porque tudo o resto valeu a pena.

pensamento 3#

Vocês não sei, mas amanhã, EU VOU!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

és linda

A meio da noite, oiço chamar:

- Mãe, quero fazer xixi!

E eu levanto-me. Mal abro os olhos. Resmungo com a situação. Vou como um zombie pelo corredor.

Digo mal do tamanho da bexiga dela.

Chego ao quarto, pego-lhe ao colo. Aninha-se. Põe aquela mãozinha pequena no meu pescoço e faz-me festas. Mal abre os olhos. E diz-me, invariavelmente:

- Mamã, és Linda!

E eu (quase) agradeço que a bexiga seja pequena.