Às vezes é assim. Largamos tudo o que temos e vamos sozinhas.
As crianças entregues aos Avós. Os maridos entregues ao Jorge Jesus. Nós entregues umas às outras, para sermos meninas outra vez.
Primeiro um filme, que as idas ao cinema são coisa rara por estes dias.
Confesso que nunca tinha ido aquela sala, apesar de conhecer bem a zona.
Perto dali fica a minha infância. e sempre que a minha infância fica perto não resisto à tentação de a ir espreitar. Só mais uma vez.
Parei à porta. Fiquei a admirar o jardim. Tive saudades da minha bicicleta vermelha. Dos meus patins de quatro rodas, feitos em ferro, onde nunca soube andar muito bem. Olhei o pinheiro e a palmeira, que eram pequenos quando eu era pequena e agora parecem querer tocar o céu. Refiz mentalmente os caminhos percorridos entre os canteiros. As imensas estradas imaginadas com rotundas, semáforos, portagens e passadeiras. Onde conduzia o meu triciclo como se fosse um bólide que me levava onde nunca tinha ido. Que me fazia crescida quando ainda não sabia o preço a pagar pela autonomia. As memórias fazem-nos mais fortes, ao mesmo tempo que nos confrontam com a nossa impotência em controlar o tempo. Por esta altura já o meu Avô devia ter aparecido para abrir o portão. Já a minha Avó estaria à porta de sorriso na cara para nos receber.
E com a porta e o portão fechados, arranquei para novas memórias.
O filme é provavelmente o melhor filme que vi nos últimos anos. O Segredo dos Seus Olhos é uma história de paixões, de amizade e de castigo. Tem o personagem mais fantástico que vi ultimamente, com um humor brilhante e impagável, de uma simplicidade sem igual.
Saímos do cinema com a alma cheia...
...mas de barriga vazia!
A opção foi uma vegetariano que pessoalmente adoro. O Jardim dos Sentidos não é só um bom restaurante vegetariano. É, se quisermos, um espaço de experiências e de relaxamento. É perfeito para voltar ao tema do filme, para perceber que a racionalidade nos faz acreditar em coisas que o amor não nos permite concretizar. E a paixão. A paixão que nunca morre, nunca se esquece, nunca esmorece.
Dali para o bar da moda. E tal é a moda que a fila para entrar chega ao fim da rua. Não. Não é para nós. Não o era aos 15 anos, menos o é agora. Afinal só queremos pôr a conversa em dia, pouco importa o local.
Para onde? Olha, para as Docas, que é o primeiro sítio que nos vem à cabeça.
A fauna vai alternando entre brasileiras meio despidas acompanhadas por tipos de camisa aberta a ver-se os pêlos do peito e a famosa cruz de ouro (na melhor das hipóteses é de ouro, sim) e saloias-que-vieram-das-berças-de-férias-à-cidade-de-tranca-à-mostra-e-pneu-a-saltar-das-calças. Bom, o melhorzinho ainda é o primeiro bar, que apesar da música intragável sempre tem uma frequência mais "alinhada" connosco. E lá nos sentámos. E conversámos. E a música acabou. E continuámos a conversar. E as luzes apagaram-se. E conversámos mais um bocadinho. E teríamos continuado a conversar não fosse o (muito) adiantado da hora.
Engraçado, como somos todas tão diferentes. Com infâncias e passados tão diferentes. Com "presentes" tão diferentes, mas sempre tão próximos.
Sim, temos que fazer isto mais vezes. Encontrar tempo e disponibilidade para fazer mais vezes.
Que estas coisas de fazer bem à alma dão-nos anos de vida.
Obrigada miúdas é sempre um enorme prazer!
É verdade, em todo o tempo penso o mesmo e não sei porquê nunca o disse, mas é isso mesmo, somos todas tão diferentes, com passados tão diferentes, com presentes diferentes e certa,emte com futuros diferentes mas... é também verdade que somos amigas, acho que a amizade é isso mesmo.
ResponderEliminarbeijinhos e obrigada eu por tudo e especialmente por existirem e serem minhas amigas.