quarta-feira, 4 de agosto de 2010

stop and rewind, stop and play



Recosto-me na cadeira e carrego no stop.

Respiro fundo antes de pressionar o botão de rewind.

Parece parvo, mas predispormo-nos a rever o filme todo e de uma vez não é algo que se faça assim, como se não fosse nada.
Não é que não conheça a fita, os personagens, o enredo. Conheço até bem demais! Mas há sempre pormenores que nos escaparam. Cenas de que já não nos lembrávamos.
Com o tempo, há partes do filme que desaparecem, e do início apenas um ou outro flash mais marcante. Brincadeiras, passeios, descobertas, amigos, família. Essencialmente a família.
Não sou saudosista. Não gosto especialmente de ficar a pensar no que passou, no que foi, no que podia ter sido. Prefiro o que é e o que ainda pode ser. Mas do passado é feita a nossa vida e recordar é também viver.

À medida que o filme segue, demoro-me a analisar algumas cenas que vistas agora ganham uma outra importância - menor na maioria dos casos-, ao mesmo tempo que penso que, uma outra situação poderia ter tido outro desfecho, "se soubesse o que sei hoje". Mas não sabia. E dessa ingenuidade se faz todo o encanto.

Vou revendo opções, decisões. Sinceramente, não me arrependo de nada. Sim, faria diferente aqui ou ali. Mas arrepender é ter consciência de que na altura não tomámos a decisão que sabíamos mais acertada e eu escolhi sempre o que me pareceu mais certo. Não o foi muitas vezes, mas a falta de experiência não me dotava de maior sabedoria.

Guardo comigo muitas e muitas coisas. Outras tantas ficaram para trás. Conheci pessoas. Perdi pessoas. Guardo pessoas no meu coração. Fiz amigos. Perdi amigos. Ganhei novos amigos. E há outros que não estão perdidos nem achados. Estão em modo standby.
Pudéssemos nós ditar os nossos sentimentos. Tivéssemos nós a capacidade de perdoar (realmente) os outros e, acima de tudo, de nos perdoarmos a nós próprios.

Estar vivo e com saúde, parece ser por este dias um enorme privilégio.

Olhar para trás e gostar do que se vê.
Olhar para o presente e gostar ainda mais.
Saber que se é uma pessoa melhor. Tentar, pelo menos.

E a sorrir, carrego novamente no Stop.

Respiro fundo outra vez.
O que for, será.
E será bom com certeza.

Fast forward até ao último frame.

Play.

4 comentários:

  1. É mesmo um previlégio termos a capacidade de reconhecermos aquilo que vivemos. De bom, de menos bom. Mas o que é nosso, a Nossa VIDA.
    E agradecer sempre.
    Gostei desta última parte:
    "Olhar para trás e gostar do que se vê.
    Olhar para o presente e gostar ainda mais.
    Saber que se é uma pessoa melhor. Tentar, pelo menos."

    Beijinho**

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  2. Alguns momentos na nossa vida, algumas datas propiciam a reflexão, a introspecção e o balanço do que somos, do que fomos e daquilo que ainda queremos ser.
    Importante é nunca nos arrependermos do que fizemos, do que decidimos e das vivencias que tivemos, pois todas contribuíram para a construção da nossa personalidade.
    Mais um belíssimo texto. Parabéns miúda e obrigada por partilhares os teus pensamentos.

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  3. "Mas do passado é feita a nossa vida e recordar é também viver."

    Gostei do texto e principalmente com esta expressão em que me revejo totalmente.

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  4. No último filme de Almodovar, a cena final retrata uma última edição de um filme inacabado (+/-). O realizador, agora cego, detém-se por uns momentos numa cena e pergunta se valerá a pena continuar. Alguém lhe diz que sim, que vale seguramente. Ele concorda e remata: um filme vale sempre a pena terminar, nem que seja às cegas.
    E são assim os dias, cheios de lugares escuros, inseguros e desconhecidos. E sem eles, isto não valia nada.

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