Sou a primeira a acordar, quando o corpo diz que já chega.
Carregar o carro com as malas que tanto me custam a fazer, porque não gosto de deixar para trás aquilo que é meu.
Seguir viagem. Entrar no carro para rumar ao destino que me enche a alma.
Passar a ponte. Que é quase sempre sinónimo de descanso e de sabor a sal durante dias.
A saída da auto-estrada, que nos leva à rotunda gigante em direcção a Sines. E a via rápida que nos diz que já não falta tudo.
“Já estamos a chegar?”. “Ainda não. Ainda falta um bocadinho. Devias ir para o Algarve em 1980 para ver o que era estar quase a chegar!”. Aquelas viagens que duravam um dia, só para chegar a Armação de Pêra. Tomar o pequeno-almoço de madrugada. Seguir caminho, passar a Serra. Chegar ao Algarve já ao final da tarde.
Seguir pela costa. Junto às praias. Aquele mar com uma cor que não existe igual em nenhuma outra parte do País. Aquela cor que me enche as medidas.
Passamos Porto Covo. Só mais um bocadinho até Vila Nova de Milfontes. Passamos a entrada. E a ponte logo a seguir. e aquela vista que me faz desde logo ganhar anos de vida. De um lado e de outro. As duas margens. A Vila ao fundo.
E seguimos. E a estrada fica mais estreita. E as árvores juntam-se em cima de nós. A melhor estrada do mundo. Onde desfilamos como se desfilássemos no tapete vermelho. E aqui, só aqui já ganhei anos de vida.
E chegamos. Chegamos à casa que não é nossa mas é como se fosse. À casa que não tem segredos. E que parece ainda melhor do que nos lembrávamos. Mais nossa. Mais acolhedora. Mais bonita.
E o cheiro. O cheiro dos dias que não têm hora nem tempo. O cheiro, que não é o cheiro da cidade, mas o cheiro do campo e da praia e dos dias que correm devagar.
Cantam as cigarras. Conversam os sapos. Relincham os cavalos para nos dizer que os dias que se seguem são nossos e de mais ninguém. Que as horas, os compromissos, o stress ficaram para trás. Que hoje e nos próximos quinze dias a vida é nossa. E a calma de quem pode viver sem pressas. E de quem pode aproveitar o mundo.
E o cheiro. Imenso. Que nos protege. Num mar de estrelas que nos cobre a existência.
E a rede. que baloiça devagar, ao sabor da brisa.
E a vela, que dança uma melodia no silêncio da noite.
E o fumo do cigarro que se desvanece no breu da noite.
E eu. Aqui. Onde o tempo se perde. Onde a idade que tenho parece não importar. Onde as marcas do corpo se confundem com a certeza de que tudo faz sentido. Desde que seja aqui.
Há lugares onde sabemos pertencer. Lugares onde somos nós por inteiro. Este é o meu lugar.
Tão bom haver lugares assim que nos provocam tdas essas sensações boas!!
ResponderEliminarBoas férias, bom descanso!
(Vamos para odeceixe!)
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Lindo! Lindas palavras, cabem perfeitamente na alma. Assim tal e qual as escreves. Anseio já pelo nosso caminho, que não tarda muito, porque as sensações que descreves não andam nada longe das que sentirei, sentiremos, muito em breve. Emoção. Foi o k provocaste. Obrigada.
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