Digo muitas vezes, meio a sério meio a brincar, que trabalho no lixo. E digo-o porque é, e não é verdade.
É verdade no sentido em que a minha função é dizer às pessoas o que fazerem com algumas das coisas que já não querem (vulgo, lixo).
Não é verdade, primeiro porque estou sentada à secretária o dia todo e não ponho as minhas mãos em nada que possa ser considerado lixo, e segundo porque aquilo que as pessoas já não querem nem precisam não é lixo, são excelentes matérias-primas para fazer coisas novas. Muitas coisas novas.
Digo que trabalho no lixo, principalmente nos dias que me correm menos bem. Quando estou cansada das inevitáveis “chatices” que todos os empregos nos trazem. Uns mais do que outros.
Lembro-me bem quando entrei há 11 anos atrás. Senti que ía fazer parte de um projecto especial. De um projecto que fazia a diferença. Não era só um emprego. Não era só um peão a criar valor financeiro a um grupo accionista. Era um projecto do e para o mundo. Era acordar de manhã e saber que estava a trabalhar em prol de um bem maior. E ainda me pagavam para isso!
Em alguma altura do processo, esqueci-me de todas estas coisas. Passei a encarar o meu emprego como um emprego. Esqueci-me que aquilo que faço todos os dias pode mesmo fazer a diferença. Deixei de conseguir pôr de lado todas as nuances menos boas, todos os esquemas que existem no mundo do trabalho, todas as injustiças, amarguras e preocupações.
Muitas das pessoas que vou encontrando, falam do seu trabalho com um enorme orgulho. Com verdadeira paixão e dedicação. E eu fico a pensar porque não o faço. Tenho todas as razões do mundo para ter orgulho no que faço. Para acordar de manhã e vir trabalhar com a certeza de que, se não for por mais nada, pelo menos faço-o pelo mundo.
E lembrei-me disto no dia em que finalizámos um projecto que permitiu fazer ainda mais, desta vez por quem tem muito menos. Nesse dia, tudo fez ainda mais sentido e eu percebi que tenho do que me orgulhar.
Trabalho há 11 anos na Sociedade Ponto Verde. A minha função é dizer a todos os portugueses que reciclar as embalagens usadas é importante para o mundo. É poupar energia, é poupar matérias-primas, é reduzir o espaço ocupado pelos aterros, é criar de novo, é fazer de cada coisa um ciclo interminável e perpetuar o que nos vai passando pelas mãos, é poder reencontrar o que já foi nosso mas numa outra forma. É fazer um bocadinho pelo ambiente que nos rodeia e que todos já sabemos que precisa de ajuda.
Sim, trabalho no lixo. E tenho muito orgulho nisso!
tem dias né :) conceptualmente, melhor que isto só salvar vidas mesmo!
ResponderEliminare mesmo que andasses atrás no camião???? o que seria de nós sem os homens do lixo, seria com certeza muito complicado numa sociedade como a nossa...bom fds
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