É difícil gerir as vontades e desejos de quem está à nossa volta. São os maridos, as mulheres, os filhos, os amigos, os colegas de trabalho. Toda a gente quer sempre alguma coisa diferente do que queria antes.
É o destino de férias que ora é uma ilha paradisíaca, ora uma cidade desconhecida. É o estilo de música dos jovens e adolescentes que ora é hip-hop, ora é metal do mais pesado que há quando tinhamos acabado de comprar para oferecer o último álbum do Jay Z. É "o Pedro e a Maria" que agora é "o Pedro e a Isabel" e a "Ana e o João" que afinal agora já são" a Ana e o Filipe". São os amigos para a vida que tínhamos no local de trabalho e que afinal querem o nosso lugar e nos passam a perna. É o SMS que recebemos constantemente: "o meu número de telefone foi alterado, por favor gravem este para futuros contactos". É o computador que já não tem memória suficiente -afinal já tem dois anos, a máquina fotográfica que está obsoleta - foi comprada no ano anterior, o carro que não tem espaço suficiente - quando o comprámos há três anos era tudo o que podíamos desejar, o telemóvel que com seis meses está bom para a reforma.
Não sabemos o que queremos. Queremos tudo e queremos rápido. E se calhar já não queremos hoje o que queríamos ontem que a oferta é demasiada para continuarmos a querer as mesmas coisas.
É difícil viver com isto.
Mas lá colmatamos estas constantes indecisões (nossas e dos outros) com a nossa profissão. Ao menos aí sabemos que as tarefas de ontem serão as de hoje e se soubermos exactamente o que temos que fazer não estamos sujeitos a modas.
Isto se formos Revisores Oficias de Contas, por exemplo. Nesse caso, cabe-nos saber as leis e as políticas contabilísticas e aplicá-las na análise das contas de uma determinada empresa. De vez em quando, lá mudam as leis, mas isso é só de vez em quando. De uma maneira geral não estamos sujeitos a vontades e a desejos externos. As coisas são como são e pronto. Só precisamos de saber de manhã quando acordamos, o mesmo que sabíamos à noite quando nos deitámos. E isso chega.
Quando trabalhamos em Marketing o caso muda de figura. Quando trabalhamos em Marketing a nossa função é dar ao cliente aquilo que ele quer. Ora, se os clientes são pessoas e as pessoas não sabem bem o que querem, a tarefa de um profissional de marketing é assim como a de um acrobata sem rede. Por mais que faça estudos de mercado e inquéritos de opinião, nunca fica com a certeza se o resultado de hoje ainda será válido amanhã. É arriscar.
E passamos por isso 24 horas por dia a gerir emoções, desejos, vontades e sonhos dos outros. Fazemo-lo na nossa vida pessoal, fazemo-lo na nossa vida profissional. e a somar a isto ainda temos que gerir as nossas próprias emoções, desejos, vontades e sonhos. E como somos pessoas, às vezes também não sabemos muito bem o que queremos.
Quem tem profissões "normais", daquelas em que os dias se sucedem sem terem que pensar no que os outros querem, acredita que o Marketing é uma profissão fascinante.
Se estamos num jantar em que as pessoas não se conhecem, e alguém pergunta: "em que é que trabalha?",e a resposta for "sou revisor ofical de contas", a conversa morre por ali. De facto não há mais nada a dizer. Ser revisor oficial de contas é.... ser revisor oficial de contas! É tratar números uns atrás os outros todos os dias. Não é uma profissão sexy. Não tem glamour.
Mas se a resposta for "trabalho em Marketing", aí passamos a ser o centro das atenções e as perguntas sucedem-se em catadupa. Trabalhar em Marketing é ter uma profissão com glamour. Toda a gente quer ouvir o que temos para dizer sobre os anúncios que fizemos, as festas que organizámos, os VIP's que acham que conhecemos. Porque para a generalidade das pessoas, trabalhar em Marketing é isto. São dias de festa uns atrás dos outros, é fazer coisas divertidas, é ter um emprego de brincar. É "fazer bonecos". Mal sabem as pessoas a dor de cabeça que é perceber o que vai na cabeça dos outros.
Mas no final do dia, a pergunta que fazemos é só uma:
Se eu podia ser Revisora Oficial de Contas? Podia. Mas não tinha o mesmo Glamour!
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