Abri a janela e o cheiro da minha infância invadiu o meu corpo, entrou-me no sangue e tocou-me na alma.
É o mesmo cheiro.
Exactamente o mesmo cheiro dos dias em que o tempo era tempo de ter todo o tempo do mundo.
Em que as noites eram passadas sob um tecto de estrelas, entre risos e gargalhadas, entre conversas de quem tem ainda tudo para aprender e todas as certezas do mundo.
O cheiro do conforto de ter vivas todas as pessoas de quem gostamos.
O cheiro da despreocupação, da inocência, da beleza genuína das coisas.
O cheiro das primeiras paixões.
Abri a janela e recuei no tempo.
E percebi que trago comigo esse cheiro.
Guardado numa caixinha.
Uma caixinha vermelha que bate dentro do meu peito.
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