segunda-feira, 12 de abril de 2010

conversinhas

Não, não ando a juntar as peças do puzzle do meu passado, mas no dia de hoje não posso não pensar nisto. Mais um do baú (2004).


Os dias quentes lembram-me a casa dos meus Avós. As longas tardes passadas no jardim. O largo onde aprendi a andar de bicicleta. Os canteiros que na minha imaginação permitiam fazer "caminhos" que eu percorria durante longas horas.
As férias de Verão eram passadas ali. Acordar a ouvir os passarinhos. Sem pressas. Sem horas. Sem obrigações nem responsabilidades.

E o dia começava leve. Sem horas. Sem pressões.

Depois era tempo de ir passear. O Chiado era o local de eleição. As escadas rolantes do Grandela foram testemunhas de muitas viagens para cima e para baixo, com a emoção de quem dá a volta ao mundo. E quando já era hora de vir embora lá se ouviam as vozinhas outra vez: "Oh Avó, só mais uma vez!" E lá íamos as 3 mais uma vez subir e descer a escada rolante.

A minha Avó tinha a paciência que só as Avós conseguem ter. Dizia sempre que sim. Para ela estava sempre tudo bem, desde que para nós estivesse bem. Não me lembro de alguma vez me ter ralhado, levantado a voz ou criticado fosse o que fosse. Nunca.

Havia dias em que íamos a uma casa de chá no Rato comer scones e beber chocolate quente. Isso é que nós gostávamos! E ríamos, ríamos, de tudo e de todos. E divertíamo-nos as 3 como se não houvesse amanhã.

Quando chegávamos a casa, era tempo de mais brincadeira. De ir para o jardim. De andar de patins ou de bicicleta enquanto o meu Avô não chegava para jantar. Ficava contente quando ele chegava. Não era um homem de muitas falas. A maior parte das vezes entrava mudo e saia calado. Mas não era sisudo. Era simpático, afável, paciente. Só não gostava de falar.

O serão passava depressa e o meu Avô era o primeiro a ir para a cama. Ressonava tão alto que se ouvia lá em baixo e isso divertía-nos.

Em casa da minha Avó podíamo-nos deitar mais tarde e ver as novelas proibidas em casa. Éramos tratadas como gente grande!

Quando subíamos para o quarto, o dia ainda não tinha acabado, e chegava aquela que era a melhor hora do dia: as "conversinhas".

- Oh Avó, vamos para as conversinhas?

As Conversinhas. A hora de todas as revelações. De todos os segredos.

Nós enfiávamo-nos na cama e a Avó sentava-se ao pé de nós a conversar sobre tudo.

Contava-nos coisas do passado. Histórias suas. Da época do Colégio Interno. Da Tia com quem fora criada que era uma verdadeira madastra. Dos irmãos. Dos pais que não conheceu.

Contava-nos segredos. Os namorados que teve. As amigas que teve. Os sonhos de juventude.

Contava-nos coisas que nunca tinha contado às filhas e isso fazia-nos sentir especiais.

Muitas vezes íamos ao baú buscar roupas antigas, cabeleiras e colares e vestíamos e despíamos até mais não puder, no meio de tantas, tantas gargalhadas que ecoavam pela casa à mistura com o ressonar do meu Avô.

Há dias em que tenho muitas saudades deste tempo, das conversinhas e dos meus Avós.

Há dias em que tenho muitas saudades da luz que à noite entrava pelas frestas da persiana e de adormecer de mão dada à minha irmã.

1 comentário:

  1. NÃO TENHO PALAVRAS..............

    FOI ENTRE MUITAS LAGRIMAS E RISOS QUE LI..........
    SEM PALAVRAS,COM O PEITO A SALTAR DE EMOÇÃO QUANDO JÁ PENSAVA QUE TALVEZ FOSSEM OS MEUS EXAGEROS TODAS ESTAS MEMORIAS QUE TROUXESTE DE UM PASSADO QUE É PARA MIM A MAIOR PROVA DE AMOR DO MUNDO,O MEU MAIOR TESOURO,AQUILO A QUE SEMPRE ME AGARREI PARA "ME DIZER" QUE A VIDA VALE A PENA...
    NÃO TENHO PALAVRAS...NUNCA NINGUEM VAI SONHAR O QUE AS CONVERSINHAS NOS DERAM...
    AMOR FORAM AQUELAS NOITES,NUNCA TE VOU PODER AGRADECER POR ESTAS LEMBRANÇAS...SINTO A MUITAS VEZES,A AVÓ,NUNCA FUI NEM SEREI TÃO FELIZ...
    OBRIGADA,A MINHA MÃO ESTARÁ SEMPRE AQUI JÔ...

    NÃO TENHO PALAVRAS..............

    ResponderEliminar