sexta-feira, 2 de abril de 2010

no fundo do poço

No fundo do poço havia uma moeda.
Todos os dias de manhã, antes de ir para a escola, passava no poço e debruçava-me só para a ver reluzir. Não se percebia bem que tipo de moeda era, que imagem tinha ou quanto poderia valer. Vivia fascinado com aquela moeda que alimentava os meus sonhos.
Dizia a minha Mãe que aquela moeda tinha sido atirada para ali há muitos, muitos anos, por um menino que vivia numa aldeia próxima. Naquele tempo, acreditava-se que aquele era o poço dos desejos e que quem para ele atirasse uma moeda, veria o seu desejo realizado em pouco tempo.
Muitos tinham sido os que haviam tentado a sua sorte, não se sabendo no entanto se os seus desejos foram ou não realizados. Sabe-se apenas que todas as moedas haviam sido roubadas por aquela que ficou conhecida como "A Quadrilha do Poço dos Desejos".
- Se roubaram todas as moedas, como é que aquela ainda lá está? - perguntei eu à minha Mãe - Porque é que não a levaram?
- É simples, - disse a minha Mãe - porque não conseguiram.
Diz a lenda que a moeda foi atirada pelo menino e que a única coisa que ele queria era que a capacidade das pessoas acreditarem umas nas outras não desaparecesse nunca. Enquanto a moeda ali estivesse, isso seria possível.
Durante muito tempo, muitas foram as pessoas que a tentaram tirar de todas as maneiras, mas a moeda pura e simplesmente não se move. Está colada ao fundo do poço, e nada, nem ninguém a consegue tirar.
Passaram-se muitos anos. Anos que me levaram por outros caminhos que não o do poço. Mas hoje, nem sei muito bem porquê, as minhas pernas seguiram o trilho até ao poço da minha infância e debrucei-me para espreitar.
No fundo do poço havia uma moeda. Mas agora já lá não está.

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