A educadora da minha filha tem como projecto para este ano fazer o Livro de Vida de todos os meninos. Um livro que fala de como tudo começou, quais os sentimentos e emoções desde que soubemos que íamos ser Pais, às primeiras experiências depois do nascimento.
O nosso começa assim:
Finalmente! Já cá estou há 5 semanas e a minha Mãe ainda tem dúvidas sobre a minha existência. O meu Pai não. Esse está sempre a dizer que se percebe perfeitamente que eu estou na barriga da minha Mãe. “Não vês como o teu corpo está diferente?”, diz ele. Mas a minha Mãe não está convencida. Ela quer que seja verdade, mas tem as suas dúvidas. E como pelo que já percebi é um pouco impaciente e não gosta de esperar, foi fazer uma análise ao sangue porque a da urina dava negativa. Não percebo porque dá negativa, se eu estou cá e vim para ficar. Olha, olha, estamos a entrar na clínica para levantar o resultado. São 6 da tarde do dia 18 dia de Maio de 2006.
É agora, é agora…. Eh pá, calma Mãe, não deixes o teu coração bater tão depressa que aqui dentro faz muito barulho!!!! Acho que está feliz… Sim, está feliz, já ligou ao meu Pai a confirmar. Não sei para quê, ele já sabia!
Decidi que vou ser uma menina bem comportada e não vou dar nenhuma chatice à minha Mãe durante o tempo que estiver aqui na sua barriga. Quando for lá para fora, depois logo se vê! As amigas delas vêm todas com conversas de enjoos, diabetes gestacionais, manchas na pele e outras coisas esquisitas. A minha Mãe não. Está linda! Quer dizer, eu não vejo, mas imagino. A minha Mãe não tem nada. Nadinha! Só a barriga a crescer comigo lá dentro. Bem, parece que tem só o olfacto mais apurado. Diz ela que parece um cão perdigueiro. Depois vou querer saber o que isso é.
Pois é, eu sou uma menina. E a minha Mãe sabe. Não sei como, que eu não lhe disse nada, mas ela diz que tem a certeza de que sou uma menina. Quanto ao meu Pai, pelo que percebo não tem grandes certezas, mas quer-me parecer que se inclina mais para um rapaz. Desculpa Pai, mas não vais ter sorte. Vou ser uma menina e muito parecida com a Mãe. Tu dizes-lhe que ela é bonita e eu também quero ser!
Os meus pais já começaram a dizer a toda a gente que eu venho a caminho. Avós, tias, amigos, colegas…. Todos lhes dão os parabéns e ficam felizes! Acho que vou gostar de toda a gente. O meu primo João, que está quase a fazer 9 anos, disse que já não precisava de nenhuma prenda. Eu era a prenda de anos dele! Fofinho o meu primo João.
Acabámos de sair daquele exame com nome esquisito onde os meus pais viram que afinal sou mesmo uma menina. O meu Pai, apesar de pensar que era giro ter um rapaz para jogar à bola, ficou contente por ser uma menina. E a minha Mãe deixou-o escolher o nome. Vou chamar-me Daniela. A opção era Catarina, mas o meu Pai gosta mais de Daniela. Eu também gosto! Parece que se fosse rapaz ía chamar-me Pedro. Boa escolha!
Hoje a minha Mãe sentiu-me pela 1ª vez! Toda a gente diz que ainda é cedo, mas ela não tem dúvidas. É tão intuitiva, a minha Mãe! Giro, giro, é a forma como ela descreve o que sentiu: “a sensação de borbulhar que se tem quando se sopra por uma palhinha para dentro de um copo de água”. Acho que não percebi muito bem, mas ela diz que é isto mesmo e eu acredito.
À medida que o tempo vai passando, estou cada vez maior e começo a ter pouco espaço. Oiço a minha Mãe a dizer que é um pouco estranho, mas ao mesmo tempo espectacular sentir-me a mexer dentro dela. E diz também que é poderoso! Gerar uma pessoa (eu vou ser uma pessoa?) dentro de nós.
Eu mexo-me muito e passo o dia a ouvir a voz da minha Mãe. Mas fico com saudades do meu Pai, por isso é muito bom quando ao fim do dia vou para casa com a minha Mãe, e o meu Pai se põe a falar directamente para mim. Sinto-me importante!
Quando a minha mãe está sentada no sofá a ver televisão é quando eu mais gosto de me mexer. A minha Mãe chama logo o meu pai para pôr a mão na barriga e sentir. Mas eu, só para brincar com ele, páro assim que sinto o calor da sua mão. Eh, eh! Às vezes continuo a mexer-me, quando estou mesmo cansada de estar sempre na mesma posição.
Mas agora já estou demasiado grande. Já não me consigo mexer dentro da barriga da minha Mãe. A última vez que me mexi fiquei de barriga para baixo, com a cabeça a bater num osso da minha Mãe que ao que parece lhe faz impressão. Mas eu não tenho culpa! Se pudesse mudava de sítio.
Pelas conversas que oiço, estou quase, quase a nascer. Fomos visitar a médica que temos visto todos os meses e de quem os meus pais gostam muito. Parece que combinaram o dia para eu nascer. Não vou ser eu a decidir o dia. Também não faz mal que eu ainda não percebo muito de calendários.
Como é o fim-de-semana antes do meu nascimento, os meus pais foram passear e tirar umas fotos para não se esquecerem comoo eu e a minha Mãe estávamos grandes!
Hoje é o dia D. O dia em que vou nascer. Vou sair lá para fora e parece que está frio, mas a minha Mãe aquece-me. Hoje é 4ª feira, dia 17 de Janeiro de 2007. Depois de hoje os meus pais vão sentir que tiveram duas vidas. Uma antes de eu nascer e outra comigo.
São 3,270 kg de peso e 48cm de gente, mas um mundo de emoções! São 14 horas e 6 minutos. Eu nasci e o mundo dos meus pais mudou. Para melhor e para sempre. E o meu também!
E não é que vinha mesmo ai a minha princesinha.
ResponderEliminarNada foi igual a partir deste dia, tudo se tornou diferente para melhor.
Obrigado ás duas por existirem na minha vida.