Tenho saudades de ter o meu canto, escondido e guardado sem que se veja.
O meu abrigo secreto, sereno, para me encostar quando preciso.
Tenho as palavras guardadas cá dentro. Arrumadas em caixas. Pequenas. Quadradas.
Para caberem todas. Lado a lado. Simetricamente.
São muitas, são tantas, que quase não cabem no espaço que têm.
E eu encolho-as e arrumo-as todas juntas, quietas, umas em cima das outras para ficarem ali, guardadas no canto que lhes é destinado. São muitas, são tantas.
E de vez em quando pego nas caixas e abro-as devagar. Uma a uma para que nenhuma das palavras se perca. Para que nenhuma fuja de mim. Quero-as todas comigo. Junto de mim. Ao pé de mim. Para as ir buscar quando quiser.
E fico a olhar para elas – as palavras - para ver se as percebo. Na esperança que me digam coisas novas.
Mas as palavras que guardo nas caixas apenas sussuram baixinho aquilo que foram. E eu não percebo se querem sair, se querem ficar. Se algum dia se vão tornar outras palavras que queiram dizer outras coisas. Coisas diferentes. Diferentes coisas.
E é no silêncio destas palavras que encontro espaço para guardar mais algumas que vão surgindo pelo caminho. E guardo-as a sorrir.
Porque destas palavras também se faz a minha vida.
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