sexta-feira, 2 de abril de 2010

15 minutos

Pego na mala, nas luvas, no cachecol, no chapéu de chuva e nos sacos. Tento encaixar tudo da melhor maneira. Fico sempre espantada com a quantidade de coisas que conseguimos transportar apenas com duas mãos e dois braços.
A chave do carro!! Bolas, falta a chave do carro. Onde é que a enfiei? Não está na cadeira. Estará na mala? Pouso - ou atiro, já nem sei - tudo outra vez, no chão, em cima do sofá. Procuro na mala. Cheia de coisas. A mala cheia da minha vida. A minha vida inteira está dentro daquela mala. Nada. Onde raio é que eu pus a chave do carro?! E eu atrasada! Sempre atrasada!
Será que a deixei no bolso do casaco de ontem? Vou da sala ao quarto em passo apressado e pesado. O barulho dos saltos incomoda-me. Ecoa dentro da minha cabeça. Previsível!
Pego em tudo outra vez. Toca o telemóvel. Fuck! Não acredito que toca o telemóvel. Vai começar tudo outra vez. Tou? Sim, estou a sair agora. Demoro 15 minutos. Talvez menos. Até já.
Fecho a porta. Chamo o elevador. Rezo para que não venha ninguém lá dentro. Há poucas coisas mais contrangedoras que estarmos fechados em dois metros quadrados com alguém que não queremos conhecer. Vazio. Valha-me isso.
Chego à garagem e sigo até ao carro. E o barulho dos saltos a ecoar dentro da minha cabeça. Atiro com tudo para o banco de trás. Tudo não. Que o telemóvel pode tocar e tenho que o ter à mão. A mala no banco do pendura. Sempre a mala no banco do pendura que gosto de ter a minha vida ao pé de mim. 15 minutos. Talvez menos.
Ligo o carro, e logo de seguida o rádio. Preciso da música. Arranco e só depois ponho o cinto. Foi sempre assim. Não sei porquê.
Saio da garagem acelerada para logo a seguir ter que abrandar porque o carro da frente vai a fazer turismo. Vá lá, anda lá! Esta gente é boa para ir buscar a morte! Empatas do caraças! Fico em ânsias. Com ganas de lhe chamar nomes. 15 minutos. Talvez menos. Gorda! Deve ser gaja e gorda!
Felizmente chegamos a uma estrada onde nunca passa ninguém. 15 minutos. Talvez menos. A lomba não me assusta, aqui nunca passa ninguém. Ponho o pisca, guino o volante e acelero. Saio detrás daquele carro que me empata a vida. Saio. No único dia em que passa alguém.
15 minutos, talvez menos.

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