Sim, eu sei. É esquisito.
Há pessoas que morrem de medo de andar de avião. Que fazem testamento e mil recomendações à família antes de se aventurarem numa viagem pelos céus. Que não dormem nos 5 dias que antecedem a partida, e mal respiram assim que entram no pássaro voador.
Eu não. Sigo consciente de que aquilo pode cair. Mas isso não me afecta em demasia. Não tenho medo de morrer. Tenho pena. E como a probabilidade de nos safarmos de um acidente de avião é tão remota, nem me dou ao trabalho de pensar nisso. Porque o que me preocupa nos acidentes não é a morte. São as mazelas que daí podem ficar. Isso sim, é assustador.
O que me leva à ideia inicial: o Táxi. Não é que tenha medo, propriamente. É que não gosto. A perspectiva de entrar num carro com um tipo que eu não conheço e que tem o controlo total do meu destino é coisa que me incomoda.
Começa logo pelo facto de eu não gostar de andar de carro com outras pessoas a conduzir. E, verdade seja dita, os taxistas (regra geral) são uma pequenas bestas a conduzir. Não respeitam as regras, não respeitam os outros condutores, não respeitam os peões e não respeitam que lá vai dentro. Começamos por isso mal.
E depois é a incerteza. Quem me diz a mim, que aquela pessoa não é um psicopata furioso à espera de agarrar a sua próxima vítima? Quem me diz a mim que não me vai levar para um barracão e tirar-me um rim (ou até outra coisa que me faça mais falta, que rins até tenho dois)? Ou que não me vai cortar às postas e enfiar numa mala que depois atira ao Tejo e nunca mais ninguém sabe de mim? (O que seria muito aborrecido porque sem corpo as companhias de seguros não pagam os seguros de vida e depois de tantos anos a investir nisso dava jeito a quem fica receber qualquer coisa. Mas adiante.)
Por tudo isto, prefiro sempre levar o carro, seja para onde for. Até porque o problema de antes já não se põe. O estacionamento. Lisboa tem hoje sempre um parque de estacionamento à mão. E eu sou fã de parques de estacionamento. Principalmente dos que têm Via Verde. Isso sim é qualidade de vida!
Acresce a isso que, mesmo nas saídas à noite, não me excedo nos copos, pelo que também nunca chega a ser uma condicionante.
Ora, numa dessas parcas vezes em que ando de táxi, ainda para mais sozinha e já de madrugada, ocorreu-me que podia fazer uso das horas que passo a ver séries de investigação na TV. Então, eu tenho um smartphone, certo? E o smartphone tem GPS. E hoje há dezenas daquelas aplicações "encontre os seus amigos", que são muito irritantes, mas no caso podem dar jeito. E eu pensei "bem, vou ligar a coisa. Com sorte a lâmina que me vai cortar às postas não acerta no bicho e ele segue comigo para o fundo do rio. Ainda me encontram e o pessoal sempre recebe o dinheiro a que tem direito!"
E assim fiz.
Felizmente não foi preciso. O senhor deixou-me direitinha à porta de casa. E nem falou comigo! Que, já agora, também é coisa que eu prefiro que não aconteça.
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