sexta-feira, 28 de maio de 2010

o que podemos

De todas as verdades incontestáveis, o facto de ninguém ser perfeito é uma das mais evidentes.

Ninguém é perfeito. Mesmo.

E vivemos bem com isso.

Assumimos que temos erros, mas encaramo-los como uma inevitabilidade da condição humana.

Sabemos que temos defeitos que incomodam os outros, mas que se lixe!, quem nos quiser vai ter que nos aceitar como nós somos. Não fazemos muito esforço para mudar. Somos assim e pronto.

Mas há um dia em que o facto de não sermos perfeitos importa.

De um dia para o outro, passamos do "don't give a damn" para "it really matters".

Esse dia é também o dia em que deixamos de ser apenas filhos, para passarmos também a ser Pais.

E já não queremos ser seres imperfeitos.
Queremos ser pessoas perfeitas.
Queremos ser Pais perfeitos.
E queremos criar filhos perfeitos.

Acredito, quero acreditar, que todos os Pais fazem sempre "o melhor que sabem" - sendo que por vezes o que sabem não é suficiente - e "o melhor que podem" - embora algumas vezes o melhor que podem não chegue a ser o melhor que sabem.

E é aí, quando não podemos o melhor que sabemos, que nos deparamos com o facto de não sermos perfeitos.
Porque fizemos menos do que sabíamos.
Porque nos ficámos pelo que podíamos.
E, por vezes, o que pudemos foi pouco.

Tenho a sorte de ter uns Pais que sempre fizeram o melhor que podiam.
Que sempre puderam o melhor que sabiam.
E o que souberam foi sempre muito.

Tenho a sorte de ter uma filha que me faz querer ser uma pessoa melhor.
E todos os dias, um bocadinho, crescemos juntas.

terça-feira, 25 de maio de 2010

às voltas

Há dias em que andamos com a vida às voltas.

Como quando pegamos num quadro de pintura abstracta, sem saber muito bem como o pendurar na parede.

Há dias em que andamos com a vida às voltas.

Como quando tiramos tudo de dentro de um armário e depois não sabemos muito bem como voltar a arrumar.

Há dias em que andamos com a vida às voltas.

Como quando desmontamos alguma coisa, montamos outra vez e invariavelmente sobram peças que parecem não ter onde encaixar.

Há dias em que andamos com a vida às voltas.

Há outros em que é a vida que anda às voltas connosco.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

pensamentos do dia

pensamento 1#

Parece que, afinal, as equipas só de mulheres sempre conseguem ficar em primeiro.

Há coisas fantásticas, não há?!

pensamento 2#

A vida tem muitas coisas boas.

De todas as coisas boas que a vida tem, voltar a casa no final do dia, é talvez uma das melhores.

Quando é assim, é porque tudo o resto valeu a pena.

pensamento 3#

Vocês não sei, mas amanhã, EU VOU!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

és linda

A meio da noite, oiço chamar:

- Mãe, quero fazer xixi!

E eu levanto-me. Mal abro os olhos. Resmungo com a situação. Vou como um zombie pelo corredor.

Digo mal do tamanho da bexiga dela.

Chego ao quarto, pego-lhe ao colo. Aninha-se. Põe aquela mãozinha pequena no meu pescoço e faz-me festas. Mal abre os olhos. E diz-me, invariavelmente:

- Mamã, és Linda!

E eu (quase) agradeço que a bexiga seja pequena.

terça-feira, 18 de maio de 2010

antes de ser feliz

Estava eu sentada na cadeira do cabeleireiro à espera que a tinta se entranhasse nas raízes do meu cabelo - um qualquer tom acobreado que liga bem com a minha ausência de cor, mas que a Natureza decidiu não me dar de mão beijada -  quando descobri a Patrícia Reis.

Folheava uma Revista Caras com o mesmo interesse de quem folheia as páginas amarelas, quando me salta à vista um destaque da entrevista dada a Rita Ferro. Qualquer coisa como isto: "Os anos de casamento deviam ser medidos em anos caninos. A rotina dos dias é de tal forma intensa, que cada ano devia valer por sete".A afirmação fez-me sentido de tal forma que decidi ler a entrevista. Percebi que a Patrícia Reis já tem diversos romances publicados e a conversa incidia principalmente na sua publicação mais recente.

Fiquei curiosa. Pus no topo da lista dos livros a comprar na Feira do Livro um dos romances escritos por esta escritora portuguesa que até aí desconhecia. Li as sinopses de todos. Decidi que ía começar pelo primeiro. Mas quis o destino que não estivesse disponível na Feira e optei pelo último. O tal da entrevista. Antes de Ser Feliz.

É um romance pequeno, que se lê de uma vez. Que se quer ler até acabar. É uma história que podia bem ser uma história real. Como eu gosto. É uma história de vida com as simples complicações das histórias de vida. É português porque é passado na Figueira da Foz. É a história de um Amor, e não uma história de Amor.

Eu sei que ninguém gosta muito de se ver comparado, mas não resisto à comparação. Lembrou-me a escrita e as histórias da Rosa Lobato de Faria de quem eu tanto gostava da escrita e de quem li todos os livros. No caso a comparação é - para mim - um tremendo elogio.

O próximo será o primeiro da Patrícia Reis, A Cruz das Almas. Tenho 5 livros em espera, mas se calhar vou meter uma cunha - coisa bem portuguesa - e encaixar este nas prioridades.

Entretanto vai voltar à minha mesa de cabeceira "A História de Edgar Sawtelle", história onde não consigo entrar nem sei muito bem porquê. Mas não gosto de desistir. Nem dos livros. A ver se é desta.

não te rendas

MARIO BENEDETTI traduzido por Inês Pedrosa

Não te rendas

Não te rendas, ainda estás a tempo
De alcançar e começar de novo,
Aceitar as tuas sombras,
Enterrar os teus medos,
Libertar o lastro,
Retomar o voo.

Não te rendas que a vida é isso,
Continuar a viagem
Perseguir os teus sonhos,
Destravar o tempo,
Remover os escombros,
e destapar o céu.

Não te rendas, por favor não cedas,
Mesmo que o frio queime,
Mesmo que o medo morda,
Mesmo que o sol se esconda,
E se cale o vento,
Ainda há fogo na tua alma
Ainda há vida nos teus sonhos.

Porque a vida é tua e teu também o desejo
Porque o quiseste e porque eu te quero
Porque existe o vinho e o amor, é certo.
Porque não há feridas que não cure o tempo.

Abrir as portas,
Tirar os ferrolhos,
Abandonar as muralhas que te protegeram,
Viver a vida e aceitar o repto,
Recuperar o riso,
Ensaiar um canto,
Baixar a guarda e estender as mãos
Abrir as asas
E tentar de novo,
Celebrar a vida e retomar os céus.

Não te rendas, por favor não cedas,
Mesmo que o frio queime,
Mesmo que o medo morda,
Mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,
Ainda há fogo na tua alma,
Ainda há vida nos teus sonhos
Porque cada dia é um começo novo,
Porque esta é a hora e o melhor momento.

Porque não estás só, porque eu te amo.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

pensamentos do dia

pensamento 1 #

Primeiro dia em que a minha filha saiu com a escola para um passeio, a visita a uma quinta pedagógica (ou dagrógica como ela lhe chamou!). Saímos de casa como de costume, chegámos à escola como de costume e lá a deixei como de costume, desta vez com o reforço do “tem um bom dia, diverte-te muito no passeio!”. E já pronta para me vir embora, apercebo-me que as Mães vão ficar. Vão ficar à porta da escola até verem as crianças entrar na camioneta e seguir para o tão desejado passeio.
E eu questiono-me se serei uma Mãe desnaturada.
Ao mesmo tempo que me questiono sobre qual será o objectivo de ficar ali especada a ver o filho entrar numa camioneta.

pensamento 2#

Não se podia esperar mais de alguém que, em pleno ano 2010, usa um retroprojector com acetatos (sim, leram bem, um retroprojector com acetatos) para falar numa aula numa universidade. Não se podia esperar que esse ser fosse mais evoluído do que as frases que proferiu, entre as quais destaco a seguinte: “este grupo embora só de mulheres ficou em primeiro lugar”.
Entretanto, feitas as contas, tenho ideia de que o retroprojector é um elemento com o qual não me cruzava há mais de 15 anos. O que me lembra que daria um bom cromo para a caderneta.

pensamento 3 #

Os Avós são a melhor invenção do século. Os Avós reformados são o upgrade que todos precisamos.
E isto remete-me novamente para o pensamento 1#.
Não sinto que soeja uma Mãe pior do que as outras porque não sei na ponta da língua quantos quilos tinha a minha filha quando nasceu, nem quanto media ao milímetro. Não sei bem que horas eram, vacilo sempre entre as 14 e qualquer coisa e as 16 e qualquer coisa. Não me sinto culpada porque dei de mamar apenas uma semana e meia e assumo que dar de mamar foi a pior experiência física da minha vida. Não telefonei para a escola a saber se estava tudo bem no primeiro dia que a deixei lá – assumi que se não estivesse, alguém me avisaria. Não fiquei a ver a minha filha entrar na camioneta e partir para o seu primeiro passeio com a escola.
Mas fico sempre com o coração pequenino quando a deixo doente para vir trabalhar. Mesmo sabendo que fica com os Avós (que é tão bom como ficar comigo mas com a vantagem de terem doses de paciência reforçadas).

quarta-feira, 12 de maio de 2010

obrigada

Assustada. Foi assim que fiquei hoje no final do dia, quando percebi que tinha recebido três mensagens de incentivo pelo meu blog. Mensagens de pessoas que tinham por aqui passado e que tinham gostado. Mensagens de "Parabéns. Passei por aqui e gostei. Vou passar a seguir".

Ora, isso traz uma responsabilidade acrescida. De repente, percebi que afinal há mesmo pessoas que se podem interessar pelo que eu escrevo. E que vão voltar.

E não pensem vocês que foram uma ou duas mensagens. Nada disso. Foram três (3)! Três mensagens! Com direito a comentários e tudo.

Entusiasmada pelo incentivo, decidi renovar a página. É que alguns dos leitores são masculinos e pareceu-me que o espaço estava demasiado cor-de-rosa. Agora, em rosa e azul será um espaço mais apetecível para todos. É que, embora os clientes tenham gostado, há que trabalhar na óptica da "melhoria contínua" para oferecer um serviço de qualidade (dizem!).

Se se derem ao trabalho de ler os primeiros textos que aqui escrevi (e isto não é um convite, atenção), vêem que este blog começou por ser uma coisa meio séria. Mas depois descambou, e até já por aqui apareceu o relato de quando, aos 35 anos, decidi furar as orelhas e partilhei a imagem do meu primeiro par de brincos.

O que isto será daqui para a frente? Não faço ideia.

Só sei que, por agora, me está a dar imenso gozo!

os primeiros



Há muito prometidos por serem lindos!

Daqui a um mês (mais coisa menos coisa) estarão nas minhas orelhas.

Obrigada Susana.

És uma verdadeira artista!

terça-feira, 11 de maio de 2010

território ocupado

Andavam elas assim há 35 anos. Imaculadas. Inexploradas. Leves. Sem adornos. Não que os adornos não fossem cativantes, porque o são e muito!, mas gostava de as ver assim, iguais a elas próprias.

Sou minimalista.

Prefiro a expressão minimalista à expressão simples. Minimalista é uma forma de estilo.
Simples é a ausência de estilo.
Um preciosismo de línguistica, talvez. Mas que faz toda a diferença quando se fala de tendências de moda.

Um anel no dedo de uma mão, que é a minha aliança.
Relógio no pulso sempre, menos nas férias.
Colares às vezes.
Pulseiras raramente.
Minimalista, portanto.

Mas sempre me cativaram. Sempre fiquei a olhar para eles nas montras.
Sempre comentei a sua beleza ou irreverência ou arrojo. Sempre os desejei.

E porque é que nunca explorei esses territórios de que sou proprietária? Apenas e só porque nunca me apeteceu passar por aquele mês em que não podemos mudar. E por causa de um mês passaram mais de 20 anos.

Aos 35 anos já percebo que um mês é apenas um fugaz período de tempo. E hoje lá fui eu.
E de território imaculado e virgem, passaram a terrenos ocupados.

Ao fim destes anos todos de vida, sinto que tenho orelhas.
O que neste momento não é necessariamente bom!

Mas mantenho o pensamento de que daqui para a frente não haverá um só par de brincos de que eu goste que não passe a ser meu! Ah pois não!



P.S. - Obrigada miúdas, pelo incentivo!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

a xuxa e a pastilha

À conversa sobre a necessidade de deixar a xuxa:

- ...


- Mas a xuxa faz bem aos ouvidos, não faz Mãe?


- Isso é no avião filha.


- E tu no avião comeste pastilha!


- Pois foi, para não me ficarem a doer os ouvidos.


- E às vezes, quando me vais buscar à escola, também vais a comer pastilha.

- É verdade.

- Porquê Mãe?

- Porque eu gosto de comer pastilha.

- Pois. E eu gosto da xuxa!


- Pois...

pôr do sol


O que a Natureza nos dá,

que não é possível reproduzir em palavras,

por mais bem escritas que sejam.


domingo, 9 de maio de 2010

os livros

80ª edição da Feira do Livro de Lisboa.

Em 80 edições, falhei seguramente as primeiras 45 - por motivos alheios à minha vontade - e devem poder contar-se pelos dedos de uma mão o número de edições que falhei nos últimos 35 anos.

A Feira do Livro é para mim um mundo mágico. Um espaço ao ar livre - só por si um local de uma beleza imponente - onde podemos viajar por todos os mundos, navegar por todos os temas, (re)descobrir autores, encontrar novas personagens.

A Feira do Livro é também uma recordação de infância, de tardes bem passadas com os meus pais e a minha irmã.

Já aconteceu sair da feira do livro sem comprar nada. Não por falta de vontade. mas por falta de - vamos chamar-lhe  - "oportunidade". Mas isso não me incomodou. Não vou à Feira do Livro com o objectivo único de comprar livros. Vou respirar o ambiente. Viver a atmosfera. sentir o pulso das palavras.

E cheirar. O cheiro dos livros novos é um dos meus aromas preferidos.

O cheiro dos livros novos é uma promessa. De viver novas aventuras. De me rever nas personagens. De querer que as personagens se possam rever em mim. De criar novos mundos dentro da minha cabeça. De quere chegar ao fim com a sensação de que valeu a pena.

Este ano, 3 novos autores que quero conhecer: José Eduardo Agualusa, Patrícia Reis, Valter Hugo Mãe. A esses 3 livros novos, junto os outros 3 que já cá estavam em casa à espera que eu lhes pegue.

À velocidade a que tenho conseguido ler, acho que tenho livros até ao Natal!

não fazer nada

Tenho coisas para fazer.

Tenho sempre tantas coisas para fazer que me sobra tempo nenhum para "Não Fazer nada". E "Não Fazer Nada" é uma das coisas que ponho na lista das coisas para fazer.

Por "Não Fazer Nada", entendo sentar-me em frente à televisão a ver um filme ou um episódio de uma das minhas séries preferidas, que vou gravando semana atrás de semana.

"Não Fazer Nada" é deitar-me a ler um livro por prazer.

"Não fazer nada" é sentar-me a escrever o que me vai cá dentro.

"Não Fazer Nada" é ir ao cinema, é ir ver as montras, é ir passear no Chiado, é ir comer petiscos com amigos.

No fundo, de todas as coisas que tenho para fazer, é quando "Não Faço Nada" que enriqueço por dentro. Que aprendo coisas novas. Que encho a minha alma com novas ideias, novos sentimentos,com novos sabores, com novos aromas.

E é no meio destas vontades que encontro a contradição.

"Não fazer Nada" é uma expressão que diz exactamente o contrário daquilo que queremos dizer.

Se dizemos que "não queremos fazer nada", então estamos a dizer que queremos fazer alguma coisa. Porque "nada" é a ausência de acção e sendo a frase posta na negativa, logo, queremos fazer alguma coisa. É uma  questão de semântica, que ilustra bem que são esses "nadas" que tanto queremos fazer, que nos dão a força para conseguirmos fazer o "tudo" que a rotina nos exige.

E chegamos aquele lugar comum do "eu queria mais horas no meu dia". Não. O que eu queria eram muito mais "Dias" nas minhas horas.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

as férias

As férias têm um enorme defeito.
Acabam.
Se não fosse acabarem, as férias seriam períodos de tempo perfeitos.

Com o fim das férias, vem o fim dos dias em chinelos.
O fim dos dias sem relógio.
O fim das sestas.
O fim das calças/calções/vestidos/saias largas que nos ficam sempre bem.

O pior da volta de férias, é ter que enfiar outra vez os pés nos sapatos de salto alto e ficar com medo de cair daí a baixo.
É voltar a reger a minha fome e o meu sono pelos números que estão marcados no meu pulso e não pelo "ratinho" no estômago ou pelo peso nos olhos.
É perceber que, afinal, não foi a pressão do avião que encolheu as roupas, porque as roupas que cá ficaram afinal também estão um "tudo-nada" mais apertadas do que quando as deixámos penduradas no armário.

Mas o fim das férias tem uma coisa maravilhosa:
é o momento de começar a planear as próximas férias.
De sonhar com novos destinos.
De olhar para o mapa mundo e pensar: "onde é que eu vou agora?"

O fim das férias é também sinónimo de voltar a casa.

E é tão bom voltar a casa!