Não soube o que escrever nas últimas três semanas. Abri, escrevi, apaguei e fechei a folha sem deixar nada registado.Tive medo de registar alguma coisa. De ter que reler o que tivesse escrito, se o final não fosse o melhor.
Andei (andámos) de coração nas mãos. E logo uma música ecoava na minha cabeça. Ai se ele cai /Vai-se partir/ Meu coração/ Vai-se partir.
Uma música. Há sempre uma música, não há? E donde veio esta há muitas outras, tantas outras. Dava por mim com o Cowboy a cantar. Diz que quem canta seus males espanta. Eu cantei muito. A Daniela chegou a perguntar-me "mas tu estiveste a noite toda a cantar baixinho?". Se calhar estive. Não sabia o que fazer.
Cantei. Em vez de rezar. Ouvia a melodia entoada pelos Pearl Jam no meu ouvido Yes I understand that every life must end. E aumentava de tom sempre que chegava ao I'm a lucky man to count on both hands the ones I love.
Há pessoas que são as nossas pessoas. Aquelas que estão sempre lá, quando nos partimos a rir e quando nos entregamos a chorar. Aquelas que trazemos dentro do peito a todas as horas. Aquelas que não são do nosso sangue, mas que nos correm nas veias. Aquelas que amamos, com nenhum outro objectivo, com nenhum outro propósito que não seja o de amar.
E logo outra canção surgia sem saber de onde, nem porquê, quer o destino que eu não creia no destino/ e o meu fado é não ter fado nenhum.
Tive medo. Tive tanto medo, como nunca antes. Talvez porque nunca me tivesse deparado com a possibilidade de perder alguém antes do tempo. Talvez porque não esteja preparada (nunca) para perder uma das minhas pessoas.
Sabemos, como os Pearl Jam, que tudo o que tem vida acaba um dia. E sabemos que isso nos vai doer. Mas quando o conceito se torna uma possibilidade real, perdemos o descernimento.
Mantivemo-nos juntos, de velinhas acesas. O optimismo e o ânimo de uns, acalentava a esperança dos outros.
A adversidade aproxima as pessoas, e faz perceber que, às vezes, damos importância a coisas que não têm importância nenhuma. E faz perceber quem é que está realmente connosco.
Hoje, que é dia da família, a Daniela disse que "A família é quem nos apoia quando estamos doentes". A Daniela já percebeu que a família não é só sangue a correr nas veias. É muito mais do que isso. Já percebeu que a amizade é acima de tudo amor, e que o amor é o mais importante desta vida. E também já percebeu que é na fragilidade que mais precisamos uns dos outros.
O caminho vislumbra-se longo e difícil. Mas cá estaremos para ajudar a torná-lo o menos penoso possível.
É por isso que somos uma família. Aquela, que não tendo o mesmo sangue, nos corre nas veias.
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