quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

das coisas boas que nos acontecem (até logo!)

Entramos numa sala onde não conhecemos ninguém. As pessoas vão chegando. Uma depois outra, depois outra. Dizemos pouco mais do que bom dia, que os tempos de criança em que não precisávamos de mais nada a não ser existir para fazer amigos já lá vão há muito. Não sabemos nada uns dos outros. Temos à partida uma coisa em comum: o interesse pelos ensinamentos que ali vamos buscar. Seremos todos mais ou menos da mesma idade, o que facilita a aproximação. Depois vêm as técnicas, que antes não sabíamos como tal, mas que hoje, um mês depois daquele primeiro dia, se revelam tão óbvias e eficazes. E a aproximação acontece. Os dias passam. As conversas surgem. Ganhamos empatias, reconhecemos afinidades. Às vezes, acontece esta sorte de no nosso caminho se atravessarem pessoas que valem a pena. Pessoas que gostamos de conhecer. Pessoas que têm alguma coisa para nos ensinar. Crescemos todos, em conjunto. Aprendemos todos. Para alguns, o que parecia ser apenas mais um conhecimento que nos poderia, ou não, trazer outras oportunidades, revela-se uma vontade incrível de seguir aquele caminho. O caminho, esse que se faz caminhando, apresenta-nos surpresas boas de vez em quando. Surpresas como esta. Apego-me às pessoas e aos momentos. E fico sempre com um nó na garganta quando tenho de lhes dizer adeus. Talvez nos continuemos a cruzar por aí. Mas provavelmente não o voltaremos a fazer nos mesmos moldes. E eu vou sentir falta. Amanhã será o último dia desta nossa aventura. E eu vou sentir falta de não vos ter. Mas amanhã será também o início de novas experiências e novas formas de vida. Amanhã, quando tudo acabar, não seremos os mesmos de há um mês. Seremos melhores. Mais conhecedores, mais seguros, mais confiantes e, acima de tudo, mais ricos pelas pessoas que conhecemos. Até logo. (Que isto do tempo é sempre uma incógnita).

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

há campanhas bem feitas. e depois há estas.


Quando Zeinal Bava se chegou ao pé dos criativos da Partners e lhes disse "a TMN vai desaparecer. A partir de agora é tudo MEO. Precisamos de uma campanha.", imagino que se terão afundado nas cadeiras e pensado "a sério? andámos a construir uma marca estes anos todos e agora pedem-nos para a matar?!". Depois terão ido para casa, meio cabisbaixos, a pensar como iriam matar uma marca com a força da TMN, que eles próprios tinham ajudado a criar.

Não faço ideia quanto tempo terão levado a encontrar a resposta. Nem tão-pouco se procuraram outros caminhos antes do que escolheram. Mas o que escolheram foi brilhante e genial.

Um dos princípios básicos da comunicação é mantê-la simples e objectiva. Acontece que a maior parte dos criativos anda à procura do prémio e não da eficácia da comunicação, o que resulta - regra geral- em campanhas que o consumidor nem chega a perceber. (A outra parte dos criativos é mesmo só incompetente.)

Nas suas reflexões sobre a transformação da marca, terão os criativos da Partners chegado à conclusão de que tudo se manteria na mesma, só desaparecia o nome. Que os serviços e produtos seriam os mesmos. Só mudaria o nome. Que a inovação de sempre seria a mesma. Só mudaria o nome. Então não seria uma morte, mas sim uma transformação. Uma nova vida. E se era assim tão simples, para quê complicar? Seria isso mesmo que diriam aos consumidores. Mas como?

Somos, nós pessoas, nós portugueses, uns saudosistas. Uns revivalistas. Adoramos (re)ver o que é antigo e que mantemos vivo na nossa memória. Adoramos fotos antigas, filmes antigos e anúncios antigos. Somos uns sentimentalistas a precisar de encontrar novas vidas na vida de todos os dias.

E se o trabalho que tinha sido feito foi bem feito, se a MEO seria só o novo nome da TMN, porque não ir ao baú das memórias e dizer às pessoas "somos os mesmos. A fazer e a oferecer as mesmas coisas. Só mudamos o nome, mas até esse você já conhece". Não foi preciso matar a TMN, foi preciso dar-lhe uma nova vida.

E pronto. Temos uma campanha fortíssima. Bem-feita. Clara. Objectiva. Uma campanha que demonstra que fazer comunicação e publicidade é simples, se mantivermos simples os nossos objectivos. Acima de tudo, se nos cingirmos a eles.

Há campanhas bem feitas. E depois há estas, que nos relembram que isto de fazer comunicação, afinal não é para todos!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

a amizade é uma coisa gloriosa e maluca

Somos 14 adultos. Cinco crianças. Cinco gatos, um porquinho-da-índia (em breve 2) e uns quantos peixes. Já fomos mais 3 cães, cujos nomes começavam todos com a letra B, por mero acaso ou coincidência.

Já andamos nisto há muito tempo. Ainda o tempo passava devagar e o futuro era tudo o que quiséssemos que fosse.
Já perdemos a conta às vezes que cantámos os parabéns uns aos outros e aos brindes que fizemos em conjunto, de cada vez que o relógio bateu a meia-noite em cada novo ano.
Já rimos e já chorámos juntos quase tantas vezes como as que respiramos.
Já andámos com as mobílias de uns e outros às costas, sempre que as mudanças surgiram.
Já nos zangámos. Já amuámos. Já nos ofendemos. Já nos reconciliámos e nos arrependemos.
Já ficámos sem chão, no medo de ficarmos menos.
Já nos abraçámos e dissemos o quanto gostávamos do outro a despropósito.

Somos todos muito diferentes. Tão maravilhosamente diferentes que de fora se calhar nem faz sentido.
Somos gloriosos. Talvez porque a paixão da maioria seja o Benfica. Ou talvez porque sempre encontramos uma maneira de dar a volta.
Somos malucos. Porque nos recusamos a aceitar que a vida tem de ser uma coisa séria e cinzenta.
Somos aqueles amigos com quem não se faz cerimónias. A quem recebemos de chinelos e pijama se for caso disso. A quem pedimos um favor daqueles que normalmente só se pede à família chegada. A quem não precisamos de pedir licença para ir à casa-de-banho ou para tirar alguma coisa do frigorífico. A quem podemos ligar às duas de manhã se a situação assim o exigir.

Somos assim estilo ciganos. Três chamadas não atendidas por alguém e já estamos a ligar a outro a saber se sabe alguma coisa, se está tudo bem. Que a família é para se manter debaixo de olho.

Já quase nos perdemos. E foi aí que nos (re)encontrámos.

Andamos nisto há muito tempo. Vimos nascer cada ruga que o outro tem na cara. Vimos aumentar cada quilo que o tempo se lembrou de trazer.
E eu, talvez porque o ano que passou foi especialmente difícil para nós, sinto que não (lhes) disse as vezes suficientes o quão importantes estas pessoas são para mim. O quanto as admiro e adoro.

Às vezes irritam-me. Como sei que eu os irrito muitas vezes.
Às vezes cansam-me. Como sei que eu também os canso muitas vezes.

Mas isso é só às vezes. Na maioria do tempo, amo-os. A todos e a cada um. De maneiras diferentes. Por razões diferentes. Mas amo.

E de tudo o que de bom nós temos, o que eu mais admiro, é a capacidade que temos de receber alguém pela mão do outro. Se veio, é porque é especial para quem o trouxe. E por isso só pode ser especial para todos. Ainda que só fique um dia, ou uma hora, enquanto estiver, é como se sempre tivesse estado.

Hoje deu-me para isto. É que a vida é demasiado curta e acaba sem avisar.

A amizade é uma coisa gloriosa. E maluca. E o que nos mantém de pé quando tudo o resto falha.

Aos meus Gloriosos Malucos: que este ano "seja tão bom como o outro. Mas muito melhor!".

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

a noite é boa conselheira

Gosto muito de provérbios e ditados populares.

Gosto porque na maioria das vezes, senão em todas, têm muito de verdadeiro.

O sono é muito importante. É durante o sono que arquivamos ficheiros. Que os catalogamos e os enviamos para as pastas certas, onde ficam guardados para os irmos buscar quando precisamos. Quando estamos acordados somos muito desarrumados. Organizamos em molho e isso normalmente resulta mal. O sono dá-nos a possibilidade de pôr tudo no sítio certo e de fazer links entre uma coisa e outra, para nos facilitar a vida no futuro.

Fico fascinada com o cérebro humano. Cada vez mais. Os sonhos,  a parte mais "visível" do que o nosso cérebro faz a dormir, é uma área que um dia ainda vou explorar melhor, porque sei que nos podem ajudar a perceber muito do que se passa connosco.

Ontem andei o dia todo à procura da chave do carro. Segunda-feira à tarde cheguei e a chave estava lá (ou o carro não teria ficado fechado). Terça de manhã não estava. Não estava em lado nenhum. Não estava na mala e o forro não estava descosido. Não estava na prateleira da estante onde a costumo pôr. Não estava no bolso do casaco com que tenho andado desde que o frio decidiu aparecer. Tendo em conta que tenho colocado coisas impensáveis em sítios estranhos, comecei a temer pela chave.

Comecei a procurar nos sítios mais improváveis e voltei a procurar nos mais óbvios. Nada. "Se calhar pus no lixo". Desisti. Havia de aparecer, quem sabe caída num canto qualquer.

Hoje, quando acordei, pensei se valeria a pena levantar-me. A professora da minha filha não tinha ido no dia anterior. Se hoje também não fosse mais valia ficarmos em casa. De repente, o meu cérebro deu-me uma imagem de mim própria à porta da escola. Vestida com um casaco que não usava há meses (ou se calhar há anos), mas que tinha vestido na segunda-feira à tarde para a ir buscar. É uma coisa estilo anorak que eu não gosto muito, mas chovia que se fartava e eu achei que seria o mais indicado.

Et voilá! Percebi nesse momento que era aí que estava a chave, no bolso desse casaco.

O meu cérebro, que não tinha ainda atingido o estado de vigília na sua plenitude (coisa que acontece, nos dias bons, só mais perto das 10 da manhã, independentemente da hora a que eu acordo) já me estava a dar a resposta que eu tanto procurei totalmente acordada e no uso pleno das minhas capacidades.

"Dormir sobre o assunto".

Fiquei maravilhada. O sono organizou-me os pensamentos e trouxe-me a informação que eu conscientemente tinha esquecido, mas que estava lá.

Moral da história: se dormir muitas horas todos os dias, sabe-se lá o que ainda posso descobrir!