Mentir às crianças não é nunca uma boa opção, sobretudo se for para fazermos promessas que sabemos que não podemos cumprir. Mas às vezes é necessário darmos como certezas absolutas algo que sabemos que nunca vai acontecer, mas que se reporta a um universo onde não há verificação possível.
Como ontem. Que lhe prometi que quando morressemos e fossemos estrelinhas, iríamos ficar os três no céu uns aos pé dos outros.
E se ficar eu aqui, tu ali e o Pai ali?.
Não interessa. Nós enquanto estrelinhas andamos no Céu para ficarmos uns ao pé dos outros!. Quase lhe disse que até podíamos ser uma constelação, mas contive-me.
Não sei quem lhe disse que íamos ser estrelinhas, não sou apologista desta explicação, mas não desmenti. Gosto de explicar as coisas como elas são. As verdades cruas (e sim, muitas vezes duras!). Ela fala da morte muitas vezes e eu digo-lhe sempre que morrer é a coisa mais normal que existe e que todos vamos morrer um dia. Que é normal que fiquemos tristes com a morte dos outros, mas que depois passa. Menti. Não passa nunca. Deixa apenas de doer. Mas como é que lhe podia dizer isto?
A morte, a única certeza que temos na vida, é a única coisa que não conseguimos aceitar, talvez porque seja das poucas que não sabemos explicar. A versão da estrelinha é romântica, mas acrescenta pouco. Eu percebo que é uma forma de as crianças pensarem que aquela pessoa continua nas suas vidas e se tornou algo maravilhoso. Mas é o mesmo que dizer que os bébés vêm nas cegonhas. O que é certo é que deixámos de ter constrangimentos a explicar de que forma se concebem os bébés, mas não conseguimos deixar de ter constrangimentos a falar da morte.