Carrego no botão verde do dispensador de senhas.
"Inscrições. Reinscrições. Subsídios. Procura activa de emprego".
Olho mais atentamente para a senha e deparo-me com o tempo de espera: 4h39m!
Olho novamente. Não sei bem que cara terei feito. Lembro-me de ter aberto muito os olhos. E de ter aberto a boca também. De tal maneira que o segurança me veio perguntar se tinha alguma dúvida. Respondi-lhe que não. Que estava apenas espantada com o tempo de espera indicado. Ele viu o meu número e disse:" Ah pois, é o 480. Tem 80 números à frente. Já só é atendida lá para a tarde!"
Não é que eu não contasse. Mas tinha a secreta esperança de que não demorasse tanto.
Felizmente fui precavida com um livro que me levasse o tempo sem dar por ele, a agenda para me ir organizando e um caderno para as ideias que pudessem surgir. E Cascais é sempre um belo sítio para se dar um passeio. Frio e Sol. Perfeito. Com a Baía em modo de espelho.
Quando vemos nas notícias a percentagem sempre a subir, fazemos um ar preocupado. Mas quando essa percentagem ganha cara e ganha corpo, deixamos de lado o ar preocupado e passamos a sentir dentro do peito um aperto pequenino. E ficamos sem saber muito bem o que pensar.
Para muitos não há terra à vista.
Eu, não tendo ainda terra à vista, tenho pelo menos uma rota.
Só espero não ser como o Pedro Álvares Cabral que se enganou no caminho e foi parar a outro lado. Ainda assim, descobriu a terra que foi destino de muitos portugueses durante anos, e que surge novamente como um dos locais onde tantos outros renovam a esperança num futuro melhor.
Seja ´"Índia" ou "Brasil", eu vou. A viagem começou.
14h48m.
O ecrã electrónico indica o número 480.Não passaram as prometidas 4h39m, mas sim 5h14m.
E lá ingresso nesta fileira, que ninguém sabe bem onde vai parar.