Está frio. Mais do que nos últimos dias. E Sol. Daqueles dias em que apetece passear na praia.
Lembra-me as passagens de ano, quando os anos de vida ainda começavam com o número um.
Eram dias de enorme azáfama, os que antecediam a grande partida. Era preciso decidir onde ficar, como ir, o que levar. A inexperiência e a emoção das escolhas tornavam a ida ao supermercado uma visita de grupo: Qual a diferença entre o fiambre da pá e o da perna? Sei lá, leva o mais barato!
Íamos felizes. Os rapazes preocupavam-se com as bebidas. As raparigas com a comida. E no final o balanço era sempre proporcional: mais rapazes e mais bebidas, menos raparigas e menos comida!
O destino era sempre para Sul. Alentejo ou Algarve, aí íamos nós para 3 ou 4 dias desejados e ansiados como só eles. Eram dias de diversão pura, de partilha segura, de galhofa, de liberdade, mas também de alguns amuos numa fase em que todos temos mais razão que os outros.
Eram dias bons.
Juntos casámos, descasámos, tivemos filhos, fizemos festas e fomos a funerais, enfrentámos doenças e acidentes, virámos o século. Não necessariamente por esta ordem.
Amanhã, dia de trocar o calendário, estaremos juntos novamente. Não rumámos a Sul e ficaremos por perto. Não teremos o prazer da viagem, nem as horas que se tornavam dias de conversa. Mas estaremos juntos.
E temos reforços. Reforços adquiridos ao longo destes quase 20 anos de viagem. Reforços que refrescaram as conversas e trouxeram novo brilho e cor. E de tal maneira se enquadraram que já ninguém se lembra muito bem de quando não estavam.
E também temos regressos. De quem esteve demasiado tempo ausente, mas que voltou como se nunca tivesse partido.
Amanhã, quando o relógio bater doze vezes, saberemos pouco do que vem por aí. Teremos menos tempo para fazer escolhas e menos margem para errar. Mas teremos seguramente mais confiança na escolha entre o fimbre da perna ou da pá e a certeza de que aqueles que ali estão serão nossos para sempre.
Amanhã será um bom dia.